Figueirense virou S.A. com atuação e investimento de citados na Lava Jato
Ex-parceiro de Ricardo Teixeira agiu no clube no processo para formação de sociedade anônima
Equipe catarinense virou empresa com participação de investidores mantidos sob sigilo DE SÃO PAULO
Fato raro em clubes brasileiros, o Figueirense iniciou processo em 2017 para se transformar em uma sociedade anônima. Com a mudança, concluída em janeiro, 95% das ações do time passaram a ser da holding Elephant, do advogado Cláudio Vernalha, que hoje preside o Figueirense S.A.
Durante o processo de transição, a equipe catarinense contou com aporte financeiro de Marcos Meira, citado em laudo da Operação Lava Jato de outubro de 2016.
Teve também atuação de Cláudio Honigman, apresentado no clube como investidor e conhecido por atuar em ações suspeitas de lavagem de dinheiro com Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF. Ele recebeu depósitos suspeitos de empresa controlada pelo doleiro Alberto Yousseff.
Honigman participou do início do projeto no segundo semestre de 2017. O presidente do Figueirense, Cláudio Vernalha, confirma a atuação do empresário.
“O Cláudio Honigman veio porque conhecia muita gente no mercado financeiro internacional. Veio para tentar desenhar uma estrutura de investimentos que não deu certo”, afirmou Vernalha.
Honigman entrou na mira do Ministério Público Federal em 2011 por suspeita de lavagem de dinheiro em negócio com Teixeira e o ex-presidente do Barcelona Sandro Rosell, preso na Espanha. O trio trouxe um avião para o Brasil com valor declarado de US$ 1. Eles Nomes por trás da S.A. Cláudio Vernalha também foram investigados por suspeitas de desvio de dinheiro em amistoso da seleção. A investigação está com grau máximo de sigilo.
Em 2009, ele e seu pai receberam R$ 75 mil da MO Consultoria, empresa controlada por Youssef e investigada pela Polícia Federal por movimentar recursos do doleiro. A MO também pagou R$ 170 mil de pensões alimentícias para a família de Honigman por meio de cheques depositados na conta de seu advogado.
Procurado pela Folha, Honingman afirmou que não responderia às perguntas.
Funcionários do Figueirense relatam que Cláudio Honigman esteve constantemente no clube nos últimos meses. O ex-CEO Alexandre Bourgeois disse à Folha ter sido avisado que o empresário era um dos investidores da operação com a Elephant.
“Isso é dor de cotovelo do Bourgeois. O Honigman não virou sócio, não é investidor e nem fez muito no clube. Prestou um serviço que, se funcionasse, poderia haver discussão sobre vir a ser sócio ou trabalhar no clube. Ele era um prestador de serviços não remunerado”, afirma Vernalha.
Ex-diretor das categorias de base, Sérgio Guerrero, porém, diz que Honigman executava ações no clube.
“O próprio Vernalha me disse que ele era investidor. De vez em quando aparecia lá querendo mandar gente embora. Ele dava as ordens no Figueirense”, afirmou Guerrero.
“O Cláudio Honigman é meu amigo pessoal, a gente conversa de vez em quando e não tem nada de vínculo com o Figueirense”, diz Vernalha. INVESTIDOR O advogado Marcos Meira atuou no Figueirense em meio à transformação do clube em sociedade anônima.
A Folha teve acesso a planilhas que mostram pelo menos dois aportes de R$ 1 milhão cada feitos por Meira à empresa gestora dos recursos da holding Elephant durante a transição para S.A..
“O Meira fez um contrato de mútuo conversível, ele podia ou não tornar-se sócio, e optou por não tornar-se sócio, pois ele achou que o futebol é dinâmico e depende de resultado. Foi tudo declarado, inclusive no Imposto de Renda dele”, diz Vernalha.
O contrato de mútuo é um empréstimo em que o valor repassado pode ser convertido em ações na empresa onde o dinheiro foi investido.
“Fiz um contrato de mútuo com o Cláudio Vernalha, se ele usou ou não isso [o valor] não diz respeito a mim. Meu contrato é com ele, minha relação é com ele. Isso que importa. Não tenho nada com o Figueirense. Não tive interesse em investir no futebol”, disse Meira à Folha.
Na Lava Jato, Meira foi citado em outubro de 2016, quando um laudo feito pela Polícia Federal apontou que seu escritório recebeu R$ 11,2 milhões da Odebrecht entre 2008 e 2014. Em 2010, o pai de Marcos Meira, José de Castro Meira, então ministro do STJ, considerou prescrita dívida de R$ 500 milhões cobrada pela Procuradoria Geral da Fazenda da Braskem, um braço da Odebrecht.
“Meu pai se aposentou há cinco anos e eu continuo advogando para a Odebrecht, faço isso desde 2000. Advogava já antes de ele ser ministro e depois também. Se tivesse algum problema, não estaria advogando”, afirmou Meira à Folha. “Não existe nenhuma investigação em meu nome. Não tem nenhum impedimento contra mim ou os processos em que eu atuei”, completou.
Em 2016, a assessoria de Meira informou que, na participação do então ministro no julgamento, seu voto como relator “acatou na íntegra o parecer do Ministério Público, sem qualquer decisão sobre o mérito da causa”. Folha