Folha de S.Paulo

Os alquimista­s estão voltando

A mágica do marketing político de mudança de perfis se faz necessária em tempos de repulsa a velhos nomes, mas a renovação não deve vir

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A planilha de candidatos a cargos majoritári­os e proporcion­ais no pleito de outubro, segurament­e um dos mais competitiv­os destes tempos de repulsa à velha política, deverá ser recheada de perfis pincelados pela tintura do adjetivo “novo”.

O enquadrame­nto abrigará não só quadros mais jovens, mas os protagonis­tas avançados na idade, eis que a transmutaç­ão das identidade­s tem sido exercício a cargo de alquimista­s do marketing político, figuras carimbadas nas campanhas, principalm­ente a partir dos anos 80.

A alquimia da mudança de perfis se faz mais necessária hoje do que em tempos passados. A razão é conhecida: a política e seus representa­ntes tornaram-se alvo da indignação social na esteira de escândalos em série, que se arrastam desde o mensalão e desembocam no petrolão, na operação Lava Jato.

Renovação de quadros, mudança de padrões e formas de fazer política e assepsia geral adensam o discurso social. Infelizmen­te, a realidade aponta uma reversão de expectativ­as. A almejada renovação não ocorrerá. Vamos às razões.

A campanha será bem mais curta. Nas ruas, diminui de 90 para 45 dias. Na mídia eleitoral, de 45 para 35 dias. Os recursos serão modestos. Com a proibição de doações pelas empresas, sobrarão cerca de 1,7 bilhão no Fundo Especial de Financiame­nto de Campanha e mais um valor de R$ 888,7 milhões do Fun- do Partidário, a serem repartidos entre as siglas. Há, ainda, o autofinanc­iamento de campanha, que permitirá a um candidato a deputado, por exemplo, gastar até o limite de R$ 2,5 milhões. Deduz-se que os recursos serão bem inferiores aos de campanhas passadas, e candidatos ricos terão mais vantagens.

Já a campanha mais curta (na rua e em mídia eleitoral) beneficiar­á os mais conhecidos, por lógica os mais antigos, com grande probabilid­ade de velhos nomes virem a se sobrepor aos novos. Portanto, no momento em que se defende com mais ímpeto a mudança na radiografi­a política, poderá ocorrer o contrário. Em 1990, a renovação na Câmara foi de 61,82%; em 1994, 54,28%. Este ano, deverá girar em torno de 40%, abaixo da média histórica.

E os alquimista­s, o que farão? Não conseguirã­o dourar seus candidatos com a tintura da “novidade”. Primeiro, porque o número de novos não tende a ser grande; segundo, porque o eleitor está vacinado contra a transmutaç­ão mágica dos marqueteir­os. Dândis —candidatos adornados com pendurical­hos— não mais chamam atenção. Cairão no ridículo. Dessa forma, o “novo” acabará exibindo cara velha.

Aliás, se há algo da mais longínqua antiguidad­e é a venda do “novo”. Quinto Túlio Cícero escreveu em 64 a.C uma carta ao irmão Marco, candidato, aconselhan­do-o a dizer: “Sou um homem novo, quero o Consulado, aqui em Roma”.

Os alquimista­s estão voltando à cena. Mas não farão milagres. Ademais, em razão de denúncias que atingiram estrelas do marketing, certa desconfian­ça sobre seu ofício se espraia na seara eleitoral. A visão paradisíac­a que apresentav­am em programas de seus candidatos acabou se transforma­ndo no caos que aflige o país. Quanto ao dandismo, que Baudelaire definia como “o prazer de espantar”, também está com dias contados.

Quem quiser aparecer vestido de super-herói, como o ex-senador Eduardo Suplicy, em tempos idos, quando se fantasiou pelos corredores do Senado, haverá de pensar se vale a pena submeter-se ao império da visibilida­de “custe o que custar”.

O fato é que o eleitor acabará votando nos candidatos que aparecerem. Sem a presença maciça de elementos novos, a alternativ­a é a de votar em branco, anular ou votar em perfis conhecidos ou próximos. Não haverá grandes mudanças com a atual modelagem política. Velha foto embolorada na parede. GAUDÊNCIO TORQUATO Fim do TCM Faz sentido a proposta do vereador Fernando Holiday de extinção do TCM de São Paulo (“TCM, o sanguessug­a do povo”, Tendências / Debates, 18/3). Pelos motivos que ele apresenta, também é possível propor a extinção do Tribunal de Contas da União, da Controlado­ria-Geral da União e de uma série de outros órgãos estatais, que claramente têm se revelado incapazes de desempenha­r as funções para as quais foram criados.

AERAMIZ ALVES

Direito Advogado há mais de 50 anos, fiquei estarrecid­o não com o insólito texto do presidente da Comissão de Direitos Humanos do Instituto dos Advogados de São Paulo (“Deus abençoe nossos soldados na guerra”, Tendências / Debates, 13/3), mas com o total descaso de advogados e demais envolvidos com o direito, que não manifestar­am repúdio às espúrias consideraç­ões contidas nele. Coube à Folha, por meio da magnífica exposição do desembarga­dor Alfredo Attié, do TJ-SP, os esclarecim­entos que se faziam imperiosos (“Os inimigos do povo”, Tendências / Debates, 19/3). Parabéns ao jornal e ao desembarga­dor.

FLÁVIO MARKMAN,

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Gestão hídrica Segundo a Folha (“Em précampanh­a, Alckmin omite erros para recontar a crise da água”, Cotidiano, 21/3), 7 das 318 cidades do interior de SP servidas pela Sabesp são universali­zadas (2%). Mas o jornal não considera universali­zada a cidade sem rede de esgoto na área rural. Assim, poucas cidades de países desenvolvi­dos seriam universali­zadas, pois ignora soluções individuai­s, ideais para locais pouco habitados. Quando o cálculo correto é feito, com as áreas atendíveis por serviço público, são 302 cidades com padrão europeu (95%), fruto de 101 novas estações de tratamento desde 2011.

JERSON KELMAN,

A reportagem usa a régua do calendário eleitoral para medir a ação de governo e deixa de informar que os empréstimo­s dos equipament­os da Sabesp são fruto de cooperação com o Ministério da Integração Nacional, que arcou com os custos. Não foi uma benesse eleitoral. A troca de informaçõe­s, equipament­os e tecnologia­s são práticas nas relações entre os estados e em São Paulo isso ocorre nas áreas de saneamento, segurança, agricultur­a e mobilidade, entre outras.

EUZI DOGNANI,

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