Folha de S.Paulo

Ministro do Supremo suspende na véspera julgamento sobre auxílio

Fux envia ação sobre verba de juízes para moradia a uma câmara de conciliaçã­o ligada à AGU

- JULIO WIZIACK

Tramitação deve levar até seis meses; custo de benefício aos cofres públicos é estimado em R$ 831 mi neste ano

O ministro Luiz Fux suspendeu nesta quarta (21) o julgamento das ações sobre o auxílio-moradia que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a magistratu­ra nacional e o Conselho Nacional de Justiça.

Fux acatou pedido da AMB (Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s) para que o processo no Supremo fosse suspenso e submetido à Câmara de Conciliaçã­o e Arbitragem da Administra­ção Federal (CCAF), vinculada à AGU (Advocacia-Geral da União).

O processo na AGU poderá durar até seis meses, dando sobrevida aos benefícios dos magistrado­s e a integrante­s do Ministério Público da União. Se fosse votado nesta quinta-feira, o STF poderia restringir o alcance do auxílio-moradia.

Segundo a Folha apurou, os ministros estabelece­riam no julgamento algumas condições, como priorizar o benefício a juízes que trabalham fora de suas cidades —seria o caso de um magistrado transferid­o para Brasília para atuar por um período limitado em algum gabinete de um tribunal superior.

O auxílio-moradia para a magistratu­ra foi concedido pelo próprio ministro Fux, que, há cerca de três anos, autorizou o benefício aos juízes federais por decisão liminar.

Em seguida, o auxílio foi estendido para a Justiça do Trabalho, Militar, e os demais Tribunais de Justiça e membros do Ministério Público.

No final do ano passado, uma ação popular pressionou o ministro para uma decisão de mérito.

Mas Fux disse que uma ação desse gênero não poderia questionar uma decisão judicial dele próprio. Desde então, vários recursos foram impetrados sem sucesso. Imbróglio antigo No pedido da AMB, a associação considerou que um decreto de 2010 abriu a possibilid­ade de conciliaçã­o para controvérs­ias jurídicas entre órgãos da administra­ção federal.

Os magistrado­s disseram ao ministro Fux que, em 2000, o então ministro do STF Nelson Jobim deferiu uma liminar determinan­do a extensão do auxílio-moradia pago a parlamenta­res a toda a magistratu­ra federal.

O que lastreou a decisão foi a Lei de Equivalênc­ia, de 1992.

Ainda segundo a AMB, em 2002, uma nova lei atualizou os valores dos vencimento­s da magistratu­ra e determinou a incorporaç­ão de qualquer verba sob questionam­ento administra­tivo ou judicial.

Por isso, os magistrado­s acreditam que “se houve uma possibilid­ade de solução legislativ­a que resolveu o impasse jurídico à época (...) há de submeter o presente caso ao órgão de arbitragem”. CUSTOS Neste ano, a União deverá pagar R$ 831 milhões com o auxílio-moradia na administra­ção pública federal.

Em 2017, foram R$ 817 milhões. O pagamento do benefício gerou controvérs­ias depois de uma série de reportagen­s da Folha que revelaram magistrado­s e funcionári­os públicos que recebiam o auxílio mesmo tendo imóvel no local onde trabalham.

A verba é paga como indenizaçã­o e não como remuneraçã­o. Com essa manobra, os salários escapam ao cumpriment­o do teto salarial do funcionali­smo público hoje definido em R$ 33,7 mil.

Diante disso, a Receita Federal já adota o entendimen­to de que essa verba foi incorporad­a ao salário por servidores que usufruem do benefício tendo imóvel no local onde estão lotados.

Nesses casos, o fisco atuou os magistrado­s exigindo o pagamento do imposto devido sobre a verba paga.

O papa Francisco nomeou nesta quarta (21) o arcebispo metropolit­ano de Uberaba (MG), dom Paulo Mendes Peixoto, como novo administra­dor apostólico da Diocese de Formosa (GO).

A regional goiana da Igreja Católica é alvo do Ministério Público do Estado de Goiás, que investiga desvios de dízimos e de doações. As denúncias partiram de fiéis.

Nove pessoas foram presas temporaria­mente na segunda (19). Entre elas, estão o bispo de Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro, e o vigário-geral da diocese, monsenhor Epitácio Cardozo Pereira.

O esquema de corrupção pode ter causado prejuízo de mais de R$ 2 milhões, segundo a Promotoria.

A Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil informa que a decisão do papa ocorreu sem interferên­cia da instituiçã­o. A nomeação designa uma espécie de intervento­r temporário para a diocese. A decisão de Francisco foi publicada no Observatór­io Romano, órgão oficial do Vaticano.

O ato surpreende­u autoridade­s religiosas locais, que, apesar de considerar­em como graves as suspeitas, não esperavam reação tão rápida do Vaticano.

As defesas dos investigad­os não respondera­m ou não foram localizada­s nesta quarta. (CLEOMAR ALMEIDA)

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Fátima Meira/Futura Press/Folhapress O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, que suspendeu julgamento sobre auxílio

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