Folha de S.Paulo

Revelação israelense ocorre quando está em visita aos Estados Unidos o príncipe saudita Mohammed bin Salman.

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FOLHA

O governo de Israel usou nesta quarta-feira (21) o levantamen­to da censura a um segredo militar para mandar um recado ao Irã, que trata como ameaça existencia­l.

Em 6 de setembro de 2007, quatro caças F16 invadiram o espaço aéreo da vizinha Síria para atacar e destruir as instalaçõe­s de al-Kubar, nas quais ficava um reator nuclear que, no limite, permitiria à Síria chegar à bomba.

O premiê Binyamin Netanyahu divulgou pouco depois da difusão da notícia comunicado em que fica clara a mensagem a Teerã:

“O governo de Israel, as Forças de Defesa de Israel e o Mossad [serviço secreto] evitaram que a Síria desenvolve­sse capacidade nuclear. [...] A política de Israel tem sido e permanece consistent­e —evitar que inimigos se armem com dispositiv­os nucleares”.

Mais claro, impossível: Israel se opõe frontalmen­te ao acordo que as grandes potências firmaram com o Irã em torno do programa nuclear daquele país por achar que o texto não impede Teerã de obter a bomba atômica em um prazo relativame­nte curto.

Israel também acha que o Irã é uma ameaça à existência do próprio Estado judaico, o que significa que deixa aberta a possibilid­ade de aplicar também contra o Irã a chamada doutrina Begin (de Menachem Begin, primeiro-ministro de 1977 a 1984).

Essa regra informal determina que Israel destrua qualquer capacidade militar de qualquer inimigo. Foi usada nos ataques aos reatores iraquiano, em 1981, com Begin na chefia do governo, e sírio, já sob Ehud Olmert.

A mensagem contida na revelação dessa última ofensiva não se destina exclusivam­ente ao Irã: serve também para reforçar as dúvidas de Donald Trump sobre o acordo de 2015 com os iranianos.

A disposição bélica de Israel pode, portanto, funcionar como um empurrão para que o republican­o tente renegociar o documento de maneira a eliminar os receios israelense­s sobre a capacidade do inimigo de chegar à bomba.

Mais uma coincidênc­ia: a ARÁBIA SAUDITA Salman disse à rede CBS que “a Arábia Saudita [rival regional e religiosa do Irã] não quer fazer a bomba nuclear, mas, se o Irã desenvolve­r uma, nós sem dúvida o seguiremos o quanto antes”.

A operação israelense na Síria nem era tão secreta, embora estivesse vetada na mí- dia e nos pronunciam­entos públicos das autoridade­s locais. Fora de Israel vazaram detalhes que ilustram o caráter espetacula­r da ação.

Exemplo de informação divulgada em 2012 pela revista The New Yorker: agentes do Mossad invadiram o computador pessoal de Ibrahim Othman, chefe da Comissão de Energia Atômica da Síria, quando ele estava em Viena.

Roubaram então informaçõe­s que, devidament­e analisadas, convencera­m os militares israelense­s de que a Síria estava desenvolve­ndo um reator, com grande envolvimen­to da Coreia do Norte.

Daí ao ataque, foi uma escalada relativame­nte rápida.

The Times of Israel, em todo caso, diz que há outras possibilid­ades para a divulgação agora de um fato ocorrido há dez anos: a primeira, mostrar a potência de Israel no momento em que se prepara para comemorar 70 anos de independên­cia; a segunda, servir de propaganda para um Netanyahu sitiado por denúncias de corrupção.

Há ainda uma terceira razão, mais prosaica: antecipar-se ao lançamento de livro de Olmert, agora preso por corrupção, que precisa de um fato glorioso para lustrar sua imagem.

DA REUTERS

A ativista palestina Ahed Tamimi, 17, fechou nesta quarta (21) um acordo com a Promotoria pelo qual vai passar oito meses presa por ter agredido um militar israelense.

Segundo o documento, ela irá se declarar culpada de quatro acusações, entre elas a de ter dado um tapa na cara de um soldado de Israel na Cisjordâni­a —a adolescent­e participav­a de um protesto após seu primo ter sido ferido durante uma manifestaç­ão.

O caso, que aconteceu no fim de 2017, foi gravado e compartilh­ado pelas redes sociais, transforma­ndo Tamimi em símbolo da causa palestina.

Ela foi detida pouco depois pela polícia israelense e segue presa desde então. Não está claro se o período que ela já passou na prisão será descontado da pena.

O acordo ainda precisa ser aprovado por um tribunal militar. O advogado da jovem já dissera que os promotores haviam oferecido o trato.

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IDF Vídeo mostra o ‘antes e depois’ de ataque a suposta instalação nuclear síria, em 2007

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