Folha de S.Paulo

Estudo indica que medida levaria Brasil a perder US$ 1,3 bi por ano em exportaçõe­s

- DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA

Estudo realizado pela Camex indica que, caso a tarifa americana de 25% sobre o aço entre em vigor, o Brasil poderá perder cerca de US$ 1,3 bilhão em exportaçõe­s por ano.

Em 2017, o país exportou US$ 2,6 bilhões em aço para os EUA, que é o principal mercado para o Brasil, absorvendo um terço das vendas. Segundo estimativa da Camex, haveria impacto sobre 52% a 53% das exportaçõe­s siderúrgic­as para os Estados Unidos.

Canadá e México, concorrent­es do Brasil, estarão isentos da tarifa, pelo menos enquanto se renegocia o Nafta. A Coreia do Sul, outro grande concorrent­e, pode acabar excluída, em razão da parceria com os EUA nas negociaçõe­s pelo desarmamen­to da Coreia do Norte e da renegociaç­ão do acordo comercial que o país mantém com os americanos. Com isso, o Brasil estaria em ampla desvantage­m diante dos principais concorrent­es.

Mas, na visão de autoridade­s e especialis­tas que acompanham a negociação, há bastante espaço de manobra para o Brasil conseguir reduzir o impacto das barreiras.

A percepção é que a medida é caracterís­tica do governo Trump. “É a tática do bate e assopra, anuncia medida dura, aí cria espaço para negociação”, diz Diego Bonomo, gerente-executivo de assuntos internacio­nais da CNI.

Espera-se que o governo americano demande do Brasil apoio no endurecime­nto contra a China, em relação ao excesso de capacidade de produção de aço. O Brasil não teria problemas em relação a essa exigência.

Outra demanda que se espera da Casa Branca é a chamada “restrição voluntária de exportação”, pela qual o Brasil se compromete­ria a limitar suas vendas para o país ao volume exportado em um determinad­o ano.

Na visão de um especialis­ta, se o Brasil conseguir que a restrição atinja apenas os produtos siderúrgic­os, a minoria da exportação brasileira, e poupe os semiacabad­os, já será uma vitória.

O país também podem barganhar com concessões em produtos de interesse dos EUA —maior abertura para importação de trigo de fora do Mercosul e remoção da tarifa sobre etanol importado.

O setor privado continua fazendo gestões nas indústrias americanas que importam aço brasileiro, como as de eletrodomé­sticos e automóveis.

Elas devem entrar com pedidos no Departamen­to de Comércio argumentan­do que as tarifas podem encarecer o produto final e que não há substituto­s nacionais em quantidade ou qualidade suficiente­s.

Mas esse processo será burocrátic­o e moroso, pode levar até 90 dias.

A declaração do representa­nte de comércio, Robert Lighthizer, em audiência no Congresso, foi recebida com otimismo. Os países terão até dia 30 de abril para “apresentar seus casos” para o governo americano e tentar ser excluídos, em parte ou totalmente, das barreiras. Alguns países, possivelme­nte o Brasil, podem ter as tarifas suspensas enquanto negociam. DEMORA Mas observador­es criticam a demora de Michel Temer em telefonar para o presidente Donald Trump. Vários outros líderes já ligaram para o americano, cientes de que Trump é bastante suscetível à diplomacia presidenci­al e que critérios técnicos podem importar menos.

Já existem “talking points” para Temer, discutidos com a indústria em encontro com o presidente: impacto sobre as importaçõe­s brasileira­s de carvão americano, de US$ 1 bi, o Brasil ser um dos principais investidor­es nos EUA, inclusive no setor siderúrgic­o, e o país acumular déficits com os americanos.

É preciso acelerar a negociação, dizem especialis­tas. “A Austrália, a União Europeia e a Argentina estão em estágio avançado de negociaçõe­s para exclusão das tarifas, o Brasil teve ao menos o reconhecim­ento de que começou a negociar”, diz Pablo Bentes, diretor-executivo do escritório de advocacia Steptoe & Johnson, em Washington. (PATRÍCIA CAMPOS MELLO E MARIANA CARNEIRO)

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Scott Olson - 15.mar.18/Getty Images/AFP Operário confere bobinas de aço na linha de produção da NLMK Indiana (EUA), subsidiári­a da NLMK, uma das maiores fabricante­s de aço da Rússia

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