Folha de S.Paulo

Juros altos no país do barracão supremo

- VINICIUS TORRES FREIRE

BARRACO NO Supremo Tribunal de vexames, apagão, terrorismo de bandidos, candidatos na vitrine pré-eleitoral, deputados que fazem trocatroca na feira periódica de filiação partidária. Tratar de taxa de juros do Banco Central parece firula.

Baixar a taxa básica de juros de 6,75% para 6,5%? E daí?

Primeiro, o Banco Central ao menos não fica de pudicícias quando trata de rever suas perspectiv­as sobre juros e inflação. Depois de outra vez ameaçar dar cabo da campanha de baixa da Selic, ainda pediu mais uma saideira, como nesta quarta (21), pois os dados mudaram, a inflação é menor.

Segundo, no entanto, a inflação de 2018 ainda vai ficar baixa além da conta, em 3,6%, prevê a turma do mercado. A meta deste ano é 4,5%. Sim, é difícil acertar o centro da meta. Mas haveria chacrinha e muxoxos se a inflação prevista para o ano fosse de 5,4%. Além do mais, recorde-se da meta, abaixo de 3%, em 2017. de modo relevante por um ponto a menos na Selic. Uma redução ainda maior da taxa exigiria argumentos bem calculados ou descabelad­os. Mas Selic alta custa juros de uma dívida pública que já está nas alturas. Logo, ainda temos pelo menos um problema grave, enorme.

Desde o começo do regime de metas de inflação, faz quase 20 anos, os povos do mercado subestimar­am quase sistematic­amente a inflação. Desde meados da grande seis meses, chutavam a inflação de 2018 em 4,1%. Há um ano, em 4,5%. Não é muito tempo, ao contrário, são os “horizontes relevantes da política monetária” mais curtos.

E daí? Esses chutes mais ou menos informados na praça do mercado formam consensos ou manadas que influencia­m a política monetária.

Sim, houve um choque positivo brutal na formação dos preços, a enorme safra de 2016-2017, imprevisív­el no passados os choques de correção de preços tabelados e, como se diz enfaticame­nte por aí, tendo o Banco Central “ancorado as expectativ­as” meses depois de assumir, ainda em 2016? Em um país com teto de gastos e reformas, como a trabalhist­a?

Pode ser que tudo vá à breca, que o teto caia, que a Previdênci­a vá pelos ares, que a finança mundial nos reduza a pó de traque. Mas, nesse caso, a política monetária vai para um regime de guerra, de choque. A conversa é outra.

Talvez seja tarde para remendar o erro de atirar longe da meta. Em tese, nos chutes ditos informados do mercado, a inflação volta ao alvo propício a aumentos de salário, contidos além do mais pela inércia desinflaci­onaria, pela indexação por baixo de salários (e também de aluguéis e de alguns serviços).

Mas fica a questão: quem paga a conta dos juros demasiados de 2017, dezenas de bilhões? vinicius.torres@grupofolha.com.br

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