Entenda o escândalo do uso de dados do Facebook
Informações foram utilizadas para influenciar a eleição de Trump
Teste de personalidade permitiu acesso indevido ao perfil de 50 milhões de usuários da rede social
Seu tempo perdido no Facebook pode ter ajudado a eleger Donald Trump presidente dos Estados Unidos e a fazer o Reino Unido decidir pular fora da União Europeia.
Quando você curte fotos de gatinhos, por mais fofos que eles sejam, ou faz testes para ver como ficaria seu rosto na capa de uma revista de celebridades, seus dados podem acabar numa espécie de mercado negro na rede mundial.
Há mais de uma década, o Facebook permite que aplicativos tenham acesso aos perfis de seus usuários. E o jeito mais indolor —e irresistível— de se apoderarem de um arsenal imenso de dados demográficos toma a forma desses testes meio bobos e inúteis.
Só agora, no rastro do maior escândalo da história da rede social, a ficha parece estar caindo —suas curtidas, comentários, fotos, textões e afins podem ser desviados pa- ra manipular democracias.
Mas o episódio envolvendo a Cambridge Analytica acaba de revelar o perigo real do tráfico desses dados em redes sociais. E também a opacidade dessas plataformas que prometiam criar um planeta mais transparente.
De posse de dados como curtidas e redes de amigos, essa firma com sede em Londres conseguiu montar perfis de eleitores em potencial, que então eram bombardeados com mensagens políticas.
Tudo começou em junho de 2014, quando o professor Aleksandr Kogan, da Universidade Cambridge, no Reino Unido, criou um teste de personalidade no Facebook com o pretexto de conduzir um estudo psicológico de usuários.
Mesmo que só 270 mil pessoas tenham feito o teste de Kogan, o sistema permitiu que sua equipe visse o perfil de 50 milhões de usuários, pois também captava as informações de todos os amigos delas.
No ano seguinte, Kogan repassou essa informação à Cambridge Analytica, que então contratou outros especialistas, entre eles Christopher Wylie, que acabou revelando o esquema ao jornal britânico The Observer (a versão dominical do Guardian) para influenciar a eleição dos EUA.
Isso, aliás, é o pivô da discórdia. O Facebook diz que não houve vazamento de dados de usuários, já que sempre permitiu o acesso de pesquisadores. Na visão da rede social, o problema aconteceu fora de seus domínios, quando dados foram repassados.
Vazadas ou não, a questão é que as informações acabaram nas mãos de agentes com intenções nada acadêmicas.
O Facebook disse que descobriu o esquema em 2015 e então removeu o aplicativo de Kogan, exigindo também que a Cambridge Analytica apagasse os dados desviados.
Diante das revelações de que as informações não foram apagadas e ajudaram a influenciar as eleições, a rede então bloqueou as contas de todos ligados à consultoria na plataforma, mas o estrago já estava feito. (SILAS MARTÍ) O CÉREBRO Aleksandr Kogan Jovem psicólogo e pesquisador desenvolveu o teste de personalidade digital “thisisyourdigitallife”, que coletou dados pessoais no Facebook transmitidos para a Cambridge Analytica OCEO Alexander Nix Foi suspenso do posto de presidente da Cambridge Analytica, após a rede de TV britânica Channel 4 mostrar Nix se gabando de seus métodos para desacreditar um adversário político O LANÇADOR DE ALERTA Christopher Wylie Canadense de 28 anos, contou ao jornal The Observer como teve a ideia de ligar o estudo de personalidade ao voto político o que o levou a ganhar emprego na Cambridge Analytica O FINANCIADOR Robert Mercer O empresário americano de 71 anos fez fortuna nos fundos de investimento e é um dos principais doadores do Partido Republicano. Financiou a Cambridge Analytica em cerca de US$ 15 milhões O IDEÓLOGO Steve Bannon Era um conselheiro próximo de Donald Trump até ser demitido da Casa Branca em 2017. Segundo The Observer, estava no comando da Cambridge Analytica durante a campanha