Notícias falsas
UM AMIGO me fala da conversa sobre “fake news” que teve dia desses no Uber. O motorista se espantou ao ser informado de que a expressão significa “notícias falsas”. Engraçado, não? Mas só nos primeiros dez segundos.
Passado o riso, fiquei pensativo. O bom senso nos garante que a ignorância é um alimento (não o único, talvez nem o principal, mas importante) do minotauro de desinformação que assombra o labirinto das redes sociais.
Cabe portanto a suspeita de que o nome estrangeiro —que no Brasil, como tem sido a regra, adotamos sem tradução— contribua com sua obscuridade para agravar um problema que, mesmo quando nomeado com clareza, nada tem de simples. Quem o minimiza dizendo que mentira sempre existiu não entendeu que a novidade desafiadora está nas redes sociais, não na calúnia.
Convém deixar a xenofobia longe dessa conversa. A adoção de palavras em grande parte dos empréstimos. Essa é uma pasta lotada que não vem ao caso abrir agora.
(No dia em que ela for aberta, teremos de desmontar o mito de que Portugal trata o vernáculo com impecável pudor, enquanto o Brasil cai na cantada de qualquer estrangeirismo que passe na rua. Não é bem assim: “terceirização” é “outsourcing” para os irmãos lusitanos, por exemplo, e nossa onipresente “tela” espiar a pasta que não abriremos.)
O problema não são as palavras estrangeiras em si, mas a possibilidade de que, soando a ouvidos monoglotas como um rosnado cheio de som e fúria, mas sem sentido, a expressão “fake news” jogue contra aquilo que teremos de estimular para impedir que o tsunami de notícias falsas inunde tudo: compreensão, boas informações, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), restrito ao Twitter e expurgado dos perfis não humanos, constatou-se que as notícias falsas têm 70% mais chances de compartilhamento e viajam seis vezes mais depressa que as verdadeiras.
O episódio das grotescas falsidades sobre Marielle Franco espalhadas pela desembargadora Marília Castro Neves foi um lembrete de que, mundo afora, milhões de pessoas com alto grau de escolaridade e acesso a informação confiável também divulgam mentiras fabricadas por manipuladores profissionais. Por quê?
A resposta, complexa, ainda está sendo buscada, e dela vai depender o
Em algum momento será preciso arquivar o pensamento relativista de que não existem fatos, só versões —um xodó da esquerda acadêmica que, adotado como lema nas fábricas de notícias falsas, a direita também abraçou com gosto. Para a ética do debate público, é fundamental reconhecer que há o verdadeiro e há o falso, sim. E chamá-los pelo nome.