Folha de S.Paulo

UM OCEANO DE ÁGUA

Ilhas e faixas de areia extensas às margens do rio Tapajós transforma­m Alter do Chão no destino querido de estrangeir­os interessad­os em cultura ribeirinha e belezas da Amazônia

- ROBERTO DE OLIVEIRA

A bandeirinh­a do Brasil cravada nas tiras dos chinelos, o biquíni amarelo na pele branca já machucada pelo sol forte dos trópicos, a tiara rosa na cabeça.

A turista holandesa Jhean Kuyt, 21, está em êxtase diante do cenário paradisíac­o de um vilarejo do Pará: “A areia, a água, tudo aqui parece praia salgada de mar, mas é doce de rio. E, o que é mais incrível, estamos no meio da maior cobertura verde do planeta: a floresta amazônica”.

É Alter do Chão, onde, estendida na fina areia branca, a garota deixa as pernas sob o manto transparen­te de água azuladaamo­ver-seemleves ondulações. Ora submerge na mornidão aconchegan­te do rio, ora vem à tona, o rosto iluminado pelo sorriso.

Em sua primeira viagem ao Brasil, a moça entrou no país pelo Amazonas, vinda de uma excursão que fez ao Peru e à Bolívia. De lá, seguiu de barco até Belém; depois, visitou a Ilha de Marajó e Santarém, de onde percorreu 38 km até chegar a Alter do Chão —o jeito mais fácil de ir de Santarém a Alter é de táxi ou de ônibus, numa viagem que dura cerca de 40 minutos.

O nome da vila é herança portuguesa, assim como a sua igrejinha cor de laranja, que, trabalhada em estilo colonial, já tem mais de 120 anos. O lugar recebeu missões religiosas comandadas por jesuítas.

Até o século 18, aquele pedaço do Pará era habitado majoritari­amente pelos índios boraris. No fim dos anos 1990, mochileiro­s gringos começaram a aportar em suas areias. Hoje, é mais provável encontrar um turista estrangeir­o por lá do que um visitante de São Paulo ou do Rio.

Alter do Chão entrou de vez na rota de destinos exóticos quando, em 2009, o jornal britânico The Guardian fez uma lista das praias mais lindas do Brasil com base em votação e a incluiu como representa­nte do Norte.

Ilhas e extensas faixas de areia se formam durante a vazante do rio Tapajós, que ocorre entre julho e dezembro, período em que ele chega a recuar cem metros.

A principal, a ilha do Amor, emerge bem em frente à vila de Alter e recebe visitantes durante esses seis meses.

Mas a região também guarda boas surpresas durante a cheia, quando passeios de barco saem de Santarém rumo aos vilarejos ribeirinho­s, com incursões pela floresta.

A população de pouco mais de 6.000 habitantes do vilarejo, conhecido como Ca- ribe da Amazônia, quase quadruplic­a durante o festejado verão amazônico.

A movimentaç­ão de turistas, como não poderia deixar de ser, acabou trazendo problemas. O mais visível deles talvez seja o cresciment­o desordenad­o da orla, com projetos arquitetôn­icos que não obedecem a nenhum padrão estético e que interferem diretament­e na paisagem natural. Segundo a prefeitura de Santarém, município do qual Alter é distrito, no entanto, tudo por lá está de acordo com o Plano Diretor.

O problema mais grave, porém, é a presença de coliformes fecais nas águas da vila balneária. Pesquisa da Ufopa (Universida­de Federal do Oeste do Pará), em Santarém, feita no período de fevereiro a dezembro de 2014, apontou a existência desse tipo de bactéria em três pontos do rio Tapajós, na vila de Alter.

Mesmo sendo um local turístico, o distrito ainda não conta com sistema de esgoto, situação que a prefeitura promete sanar no ano que vem.

A administra­ção municipal afirma que não há nenhu-

 ??  ?? Ponta do Cururu, em Alter do Chão; abaixo, balconista de bar no Lago Verde, em Alter, distrito de Santarém
Ponta do Cururu, em Alter do Chão; abaixo, balconista de bar no Lago Verde, em Alter, distrito de Santarém
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