UM OCEANO DE ÁGUA
Ilhas e faixas de areia extensas às margens do rio Tapajós transformam Alter do Chão no destino querido de estrangeiros interessados em cultura ribeirinha e belezas da Amazônia
A bandeirinha do Brasil cravada nas tiras dos chinelos, o biquíni amarelo na pele branca já machucada pelo sol forte dos trópicos, a tiara rosa na cabeça.
A turista holandesa Jhean Kuyt, 21, está em êxtase diante do cenário paradisíaco de um vilarejo do Pará: “A areia, a água, tudo aqui parece praia salgada de mar, mas é doce de rio. E, o que é mais incrível, estamos no meio da maior cobertura verde do planeta: a floresta amazônica”.
É Alter do Chão, onde, estendida na fina areia branca, a garota deixa as pernas sob o manto transparente de água azuladaamover-seemleves ondulações. Ora submerge na mornidão aconchegante do rio, ora vem à tona, o rosto iluminado pelo sorriso.
Em sua primeira viagem ao Brasil, a moça entrou no país pelo Amazonas, vinda de uma excursão que fez ao Peru e à Bolívia. De lá, seguiu de barco até Belém; depois, visitou a Ilha de Marajó e Santarém, de onde percorreu 38 km até chegar a Alter do Chão —o jeito mais fácil de ir de Santarém a Alter é de táxi ou de ônibus, numa viagem que dura cerca de 40 minutos.
O nome da vila é herança portuguesa, assim como a sua igrejinha cor de laranja, que, trabalhada em estilo colonial, já tem mais de 120 anos. O lugar recebeu missões religiosas comandadas por jesuítas.
Até o século 18, aquele pedaço do Pará era habitado majoritariamente pelos índios boraris. No fim dos anos 1990, mochileiros gringos começaram a aportar em suas areias. Hoje, é mais provável encontrar um turista estrangeiro por lá do que um visitante de São Paulo ou do Rio.
Alter do Chão entrou de vez na rota de destinos exóticos quando, em 2009, o jornal britânico The Guardian fez uma lista das praias mais lindas do Brasil com base em votação e a incluiu como representante do Norte.
Ilhas e extensas faixas de areia se formam durante a vazante do rio Tapajós, que ocorre entre julho e dezembro, período em que ele chega a recuar cem metros.
A principal, a ilha do Amor, emerge bem em frente à vila de Alter e recebe visitantes durante esses seis meses.
Mas a região também guarda boas surpresas durante a cheia, quando passeios de barco saem de Santarém rumo aos vilarejos ribeirinhos, com incursões pela floresta.
A população de pouco mais de 6.000 habitantes do vilarejo, conhecido como Ca- ribe da Amazônia, quase quadruplica durante o festejado verão amazônico.
A movimentação de turistas, como não poderia deixar de ser, acabou trazendo problemas. O mais visível deles talvez seja o crescimento desordenado da orla, com projetos arquitetônicos que não obedecem a nenhum padrão estético e que interferem diretamente na paisagem natural. Segundo a prefeitura de Santarém, município do qual Alter é distrito, no entanto, tudo por lá está de acordo com o Plano Diretor.
O problema mais grave, porém, é a presença de coliformes fecais nas águas da vila balneária. Pesquisa da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), em Santarém, feita no período de fevereiro a dezembro de 2014, apontou a existência desse tipo de bactéria em três pontos do rio Tapajós, na vila de Alter.
Mesmo sendo um local turístico, o distrito ainda não conta com sistema de esgoto, situação que a prefeitura promete sanar no ano que vem.
A administração municipal afirma que não há nenhu-