Folha de S.Paulo

Ar a vocação para “a comida familiar paraense”. As duas casas também devem ganhar nova decoração.

- NAIEF HADDAD

Antes insólitos para o restante do país, nomes de ingredient­es e pratos muito presentes na cozinha paraense se tornam cada vez mais corriqueir­os no nosso vocabulári­o gastronômi­co.

Essa difusão deve muito a Paulo Martins (1946-2010), fundador do restaurant­e Lá em Casa. Ele foi um dos pioneiros na divulgação Brasil afora da cozinha paraense.

Mostrou o valor de peixes como pirarucu, tambaqui e tucunaré, além de frutas, tais quais cupuaçu e taperebá. Alardeou pratos como a maniçoba, que junta carnes variadas e maniva, a folha moída da mandioca.

Aberto no início dos anos 1970 por ele e por sua mãe, Anna Maria, o restaurant­e passou por vários endereços até chegar à Estação das Docas, um dos pontos turísticos de Belém, onde está até hoje.

Atualmente a casa é comandada pela filha de Paulo, Daniela Martins.

No entanto, é o premiado Thiago Castanho, 30, quem ocupa agora a função informal de porta-voz da cozinha do Pará, papel antes exercido por Paulo Martins.

Chef dos restaurant­es Remanso do Bosque e do Remanso do Peixe ao lado do irmão Felipe, 28, Thiago afirma que os pratos da região têm se beneficiad­o da “autenticid­ade indígena”.

De acordo com ele, a relação da população da Amazônia com ingredient­es como a mandioca “é ancestral”.

Há essa relação muito antiga das pessoas com os alimentos, que resultou em preparos aprimorado­s ao máximo. E mais um certo isolamento do norte do país, que sofreu menos influência europeia na culinária do que regiões como Sudeste.

Essa mistura ajuda a explicar a originalid­ade dos pratos da Amazônia, que têm despertado o interesse de brasileiro­s e estrangeir­os.

Para o sociólogo Carlos Alberto Doria, autor do livro “Formação da Cultura Brasileira” (Três Estrelas, 280 págs., R$ 54,90), existe uma crescente consciênci­a internacio­nal sobre a relevância da Amazônia do ponto de vista da biodiversi­dade.

E isso, diz ele, “traz na rabeira a questão da cozinha”.

O chef Thiago Castanho e a sua família sabem lidar com esse maior interesse pela gastronomi­a do Pará.

Eles pretendem abrir uma terceira casa em Belém em 2019. Também querem promover no ano que vem uma reformulaç­ão nos cardápios do Remanso do Bosque e do Remanso do Peixe.

O chef evita detalhar as mudanças, mas afirma que os restaurant­es irão acentu- MEMÓRIAS DE FAMÍLIA “O Thiago conhece bem as raízes da culinária do Pará, muito por conta do pai dele [Francisco]. Além disso, ele tem perícia técnica”, diz o sociólogo sobre o chef.

Esses atributos ficam evidentes no prato mais famoso do Remanso do Bosque, o fi- lhote assado na brasa. O peixe de água doce é acompanhad­o por salada de feijãocaup­i (também conhecido como feijão-de-corda), mandioca na manteiga e farofa.

O prato surgiu da memória afetiva dos irmãos. Durante a infância, eles adoravam os peixes assados pelo pai.

Francisco, o patriarca, também conduz o negócio —é responsáve­l pelas compras para as casas, especialme­nte os peixes. Continua a cozinhar, mas como hobby.

O filhote na brasa serve duas pessoas e custa R$ 132.

Ainda na seção de peixes, boas alternativ­as são o pirarucu cozido ao molho de leite de coco (R$ 74) e o tambaqui assado com purê de abóbora (R$ 75).

Sempre às sextas, a casa oferece um menu complement­ar, que inclui as ostras vindas de São Caetano de Odivelas, cidade no litoral paraense, situada a cerca de uma hora e meia de Belém. DIAS E HORÁRIOS sex. e sáb., de 11h30 às 15h e de 19h às 23h30; dom., de 11h30 às 15h30 ONDE travessa Barão do Triunfo, Belém, tel. 0-xx-91-3228-2477 DIAS E HORÁRIOS de ter. a sáb., de 11h30 às 15h e de 19h às 22h30; dom., de 11h30 às 15h30 ONDE Estação das Docas - av. Boulevard Castilho França, Galpão 2, Belém, tel. 0-xx-91- 3212-5588 DIAS E HORÁRIOS de dom. a qui., do meio-dia à meia-noite; às sex. e sáb., do meio-dia às 3h

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