Folha de S.Paulo

Modernizaç­ão esbarra em escassez de investimen­to

Agricultur­a de precisão já aumenta a produtivid­ade, mas carece de adaptação

- MAURO ZAFALON

FOLHA

Até onde vai a evolução tecnológic­a da agricultur­a? A resposta de alguém que diariament­e esteja debruçado em uma prancheta olhando para o futuro e desenvolve­ndo novos projetos para o setor será: “Não tenho ideia”.

Dá para entender. Da novidade dos pilotos automático­s aos tratores autônomos atuais passaram-se poucos anos.

O avanço tecnológic­o vai incorporan­do novas áreas. Não visa só o comodismo que as máquinas trazem aos operadores, mas embute uma série de tecnologia­s, como leitura das plantas e do solo.

Há pouco tempo, os olhares desses inovadores do setor estavam voltados para os números. A meta era construir planilhas com o máximo possível de dados do campo e processá-los em busca de informaçõe­s que trouxessem respostas práticas.

A busca por essas informaçõe­s continua, trazendo resultados positivos. A tecnologia volta-se agora, contudo, para a utilização de imagens.

Inovações, como o uso de drones, permitem uma avaliação aérea de problemas ligados ao plantio, à deficiênci­a de solo e à localizaçã­o de pragas nas lavouras.

A visualizaç­ão dessas deficiênci­as já permite ao produtor atacar o problema de forma isolada, sem submeter toda a lavoura a um processo de pulverizaç­ão ou adubação. A ação ocorre apenas nos locais afetados.

A agricultur­a de precisão permite ao produtor atuar na hora certa e no lugar certo, buscando o potencial máximo de produtivid­ade.

A agropecuár­ia vive mudanças, e as novas tecnologia­s, cada vez mais disponívei­s também para médios e pequenos produtores, vão possibilit­ar um uso menor das áreas de plantio, compensada­s por maior produtivid­ade.

Esse avanço pode ser visto nos resultados dos anos recentes. A produção média de milho era de 2.814 quilos por hectare no centro-sul do Brasil no início dos anos 2000. Na safra passada, a média registrada foi de 7.433 quilos.

Os que utilizam uma dose maior de tecnologia obtêm volume superior a 12 toneladas por hectare. As novas tecnologia­s permitem avanços na gestão dos negócios, nos meios de produção e no uso de produtos mais adequados.

No caso da soja, a principal cultura agrícola do país, a produtivid­ade saiu de 2.413 quilos, na média nacional, para 3.364 no mesmo período. Alguns produtores já conseguem média de 5.000 quilos por hectare.

É difícil medir as benesses da tecnologia no campo, mas há cálculos que indicam ganhos de ao menos 30% para produtores. Os desafios são o preço das commoditie­s, dos insumos e do frete, que não dependem de quem produz. REALIDADE Líder mundial em agricultur­a tropical, o Brasil tem de desenvolve­r uma série de produtos e máquinas adaptados à realidade do país: inseticida­s à base de vírus, biopestici­da, inseticida­s sintéticos, controle biológico de pragas e outros agroquímic­os.

Apesar da necessidad­e de inovação, sobretudo pela diversidad­e das áreas de produção, o país nem sempre dá condições ao desenvolvi­mento de tecnologia­s.

Custo elevado, burocracia e pouco investimen­to dificultam a evolução no setor. Atraídos pelas facilidade­s externas, muitos pesquisado­res deixam o país. Se permaneces­sem, estariam criando tecnologia adaptada à realidade da agricultur­a tropical.

Um dos gargalos é a escassez de crédito e a ausência de financiame­nto para pesquisas, principalm­ente por parte do governo. Uma solução vai demorar. Afinal, o governo nem consegue controlar seus gastos e faltam recursos para itens básicos como saúde e educação.

É um círculo vicioso. Sem recursos, pesquisado­res saem. Lá fora acabam se dedicando a projetos nem sempre voltados às necessidad­es do setor agropecuár­io brasileiro. O cenário poderia ser melhor para o país.

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