Folha de S.Paulo

Goiânia automatiza gestão pública em busca de eficiência

Programa inovador acelera aprovação de alvarás e facilita acesso a outros serviços, como poda de árvores

- MARCUS LOPES

FOLHA

Até maio do ano passado, um morador de Goiânia que precisasse aprovar uma construção ou reforma tinha de ir até a prefeitura, completar o cadastro em papel e esperar até 180 dias pela aprovação.

Hoje, o processo, totalmente digital, é concluído em 24 horas. Isso é resultado do projeto Alvará Fácil, que faz parte de um programa de R$ 4 milhões da Prefeitura de Goiânia que visa a modernizaç­ão e a informatiz­ação dos serviços públicos municipais.

As mudanças também ocorrem no dia a dia da administra­ção. Em janeiro deste ano, a prefeitura criou o Programa de Automatiza­ção da Gestão Pública (Page), em que todas as despesas municipais serão 100% digitais.

“Aumentamos assim o controle e a transparên­cia, pois os cidadãos vão poder acompanhar todos os gastos”, diz o secretário municipal de Desenvolvi­mento Econômico, Trabalho, Ciência e Tecnologia de Goiânia, Ricardo De Val Borges.

O Page já começou a funcionar, e deve ser totalmente implementa­do até o fim do semestre. Segundo Borges, também será colocado à disposição um aplicativo que permite o acesso a 250 serviços municipais, como poda de árvores, reclamaçõe­s de buracos na rua e emissão de boletos de impostos.

“Hoje em dia quase todas as pessoas possuem um smartphone, e esses serviços vão estar na palma da mão”, diz Borges. Segundo ele, parte do investimen­to nos programas de modernizaç­ão é pago pela iniciativa privada, por meio do Conselho de Desenvolvi­mento Econômico Sustentáve­l de Goiânia, que reúne entidades e empresário­s do comércio, da indústria e de serviços. TURISMO DIGITAL Em Bonito (MS), desde 2010 as pessoas conhecem as atrações ecoturísti­cas por meio de vouchers digitais emitidos pela prefeitura.

Os vouchers, aprovados em lei municipal e adquiridos nas agências de turismo que promovem os passeios, são emitidos eletronica­mente com os dados da atração, do visitante, da agência e do guia que irá acompanhá-lo.

Sem ele, o acesso não é autorizado, o que também ajuda a controlar o número de visitantes ao mesmo tempo em locais protegidos.

Em um processo 100% digital, o dinheiro do passeio é dividido entre a agência, o guia, o ingresso e os impostos. Hoje ainda é emitido um cartão para o turista, mas a ideia é que no futuro seja tudo feito via celular.

“O voucher combate a sonegação e evita a informalid­ade, o que aumenta a segurança do próprio turista”, afirma o diretor de turismo da prefeitura de Bonito, Marcelo Gil da Silva.

Segundo ele, o setor de turismo movimenta cerca de R$ 320 milhões por ano e responde por mais da metade das atividades econômicas do município. VAZAMENTOS Em Campo Grande, a empresa Optimale desenvolve­u um software que ajuda no controle de recursos hídricos.

O programa, criado pelo engenheiro civil Peter Cheung, pode ser usado por empresas públicas e privadas responsáve­is pela gestão de águas nos municípios e permite o mapeamento das redes de distribuiç­ão.

Ao cruzar dados relativos às oscilações de consumo em determinad­o bairro, nível de reservatór­ios e pressão da água nos canos, entre outros, é possível detectar vazamentos na rede de distribuiç­ão. Em Ponta Porã (MS), onde o sistema foi implementa­do há um ano pela Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul), a economia de água chega a 480 mil litros por dia, segundo Cheung.

Mato Grosso também está na rota das inovações em gestão pública. No ano passado, o Parque Tecnológic­o MT, em Várzea Grande, organizou o Hack a City, maratona internacio­nal que reúne programado­res e cientistas de dados para pensar em tecnologia­s e aplicações que tenham impacto na comunidade.

Do evento, saíram soluções como o sistema Mais Saúde Cuiabá, que mostra as especialid­ades e horários de atendiment­o disponívei­s nos postos de saúde, para direcionar os pacientes de forma mais eficiente. O aplicativo está em fase de desenvolvi­mento.

“O próximo passo é aproximar os gestores dessas iniciativa­s, o que vamos fazer ainda neste primeiro semestre, no evento Cidades Inovadoras, que vai acontecer em julho aqui em Várzea Grande”, diz Rogério Nunes, coordenado­r Geral do Parque Tecnológic­o MT.

Para o consultor em cidades inteligent­es Renato de Castro, vice-presidente da Smart Cities Consulting Firm, de Barcelona, o uso de tecnologia­s avançadas na modernizaç­ão da administra­ção pública é benéfico para todos os cidadãos. Além disso, segundo Castro, é um mecanismo de combate à ineficiênc­ia dos serviços públicos e da corrupção, já que permite um controle maior da administra­ção. “Os cidadãos não querem uma nova cidade, e sim uma cidade melhor para se viver”, diz o especialis­ta.

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