Folha de S.Paulo

Caixa eleitoral

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BRASÍLIA - O presidente Michel Temer não quer prescindir da Caixa Econômica Federal no experiment­o eleitoral em que passou a acreditar. Por isso, tomou partido do presidente do banco estatal, Gilberto Occhi (PP), na querela entre o pepista e o Ministério da Fazenda sobre os financiame­ntos a estados e municípios sem o aval da pasta.

O Conselho de Administra­ção da Caixa, comandado pela chefe do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, vetou novos empréstimo­s a governador­es e prefeitos por ver ilegalidad­e nas garantias (receitas tributária­s) dessas operações. A medida imobilizou R$ 19 bilhões que poderiam jorrar nos cofres estaduais e municipais, benefician­do os partidos adeptos do temerismo e o próprio emedebista a alguns meses das eleições.

Temer mandou a Advocacia-Geral da União tirar coelho da cartola, e a ministra Grace Mendonça produziu um parecer que terá o condão de sanar os problemas para permitir a retomada dos financiame­ntos. A blin- dagem das operações inclui uma tentativa de articulaçã­o palaciana com o TCU, que tem mostrado pulso firme ao auditar contratos geridos pelos bancos públicos.

Em janeiro, a cúpula da Caixa balançou por supostamen­te sofrer ingerência política e montar um balcão de negócios na instituiçã­o. Sobre Occhi foi lançada a suspeita de pedir propina para repassar a seu partido. A acusação veio de um personagem conhecido no roteiro da Lava Jato: Lúcio Funaro. O corretor disse a investigad­ores que o político tinha meta de propina com o PP. Desde a eclosão dos fatos, alguns vice-presidente­s do banco foram trocados e um estatuto mais rígido, aprovado.

Em meio ao embate Fazenda versus Caixa, Occhi aparece como favorito para herdar o Ministério da Saúde, com a saída do correligio­nário Ricardo Barros na próxima semana. Lá ou cá, administra­rá bilhões em recursos com elevado potencial de geração de dividendos eleitorais —e de esqueletos fiscais também.

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