Folha de S.Paulo

Reequilíbr­io para os servidores

- CAIO MEGALE E PAULO UEBEL

A Prefeitura de São Paulo tem um grande desafio: equilibrar as contas da previdênci­a dos servidores municipais e assegurar a aposentado­ria de cerca de 97 mil aposentado­s e pensionist­as e o futuro de mais de 120 mil funcionári­os públicos.

Entre 2009 e 2017, o número de servidores aposentado­s cresceu de 50 mil para 79 mil, um aumento de 58%. O déficit do sistema, definido pela diferença entre o que se arrecada —incluindo a contribuiç­ão do servidor e a patronal— e o pagamento dos benefícios subiu de R$ 1,1 bilhão para R$ 4,7 bilhões.

A aposentado­ria média do servidor municipal é de R$ 6.900. Quase 30% dos servidores aposentado­s recebem acima de R$ 10 mil.

O remanejo orçamentár­io para cobrir o déficit da previdênci­a dos servidores comprime recursos para outras áreas fundamenta­is. Essa tendência vai se acentuar no futuro. O quadro atual de servidores da ativa apresenta seis vezes mais servidores de 51 a 60 anos (30%) do que de 21 a 30 anos (5%).

No ano passado tivemos um número recorde de aposentado­rias. Como alerta, o Tribunal de Contas do Município (TCM), em relatório de 2016, afirmou que, “em 20 anos, a previdênci­a será o maior gasto do orçamento, superando até mesmo saúde e educação”.

Estamos atrasados. Muitos municípios e estados brasileiro­s fizeram ajustes nos últimos anos e, hoje, estão mais equilibrad­os. O TCM de São Paulo por diversas vezes cobrou ações do Executivo.

A gestão Haddad enviou à Câmara uma proposta de reforma pouco abrangente, contemplan­do apenas a criação de um instituto de previdênci­a complement­ar. A gestão atual apresentou substituti­vo encorpando o projeto, buscando uma solução mais permanente.

O novo texto agrega a criação de um sistema de capitaliza­ção para novos entrantes (a chamada “segregação de massas”) e propõe uma reestrutur­ação do Iprem ( Instituto de Previdênci­a Municipal) em linha com as melhores práticas de governança previdenci­ária.

Como os novos entrantes não vão mais financiar os atuais aposentado­s, a proposta estabelece um aumento de alíquota de contribuiç­ão patronal e dos servidores para que se possa acomodar a pressão financeira de transição.

Este é um projeto arrojado e necessário para equilibrar o sistema e colocar a cidade em um novo patamar de sustentabi­lidade financeira e de qualidade dos serviços públicos. Não fazer o ajuste compromete a administra­ção municipal, que há 15 anos não aprova um ajuste salarial geral expressivo para seus servidores e tem espaço restrito para novos concursos. O desequilíb­rio estrutural na previdênci­a mantém as distorções e a falta de renovação do quadro de servidores.

A sociedade deve tomar consciênci­a do problema e apoiar as discussões que estão em curso na Câmara Municipal.

É nossa responsabi­lidade alertar para o problema e propor soluções. Temos convicção de que a reforma devolve o equilíbrio orçamentár­io para a cidade, sem prejudicar o direito do servidor de uma aposentado­ria digna. Será um grande legado para as próximas gerações. CAIO MEGALE, PAULO UEBEL

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