Folha de S.Paulo

Palocci pede análise de habeas corpus no dia 27

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Foi há 11 dias, num encontro com três amigos e uma garrafa de uísque no instituto que leva seu nome, em São Paulo, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou pela primeira vez sem rodeios sobre o mapa de sobrevivên­cia a ser implementa­do pelo PT caso sua candidatur­a ao Planalto seja barrada.

Para os interlocut­ores, que compõem a correia de transmissã­o de poder no partido, mostrava-se angustiado, principalm­ente com o futuro dos filhos, mas sobre política foi o pragmático de sempre.

Caso seus recursos no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal) não vinguem, e a Justiça Eleitoral o impeça de entrar na disputa de outubro, sentencia, Fernando Haddad deve ir para o aqueciment­o.

Naquele 13 de março, o STF ainda não havia proibido a prisão de Lula até 4 de abril, quando a corte retomará o julgamento de seu habeas corpus, mas a hipótese cada vez mais concreta de que sua candidatur­a será barrada mostrava que seus caminhos estavam mais estreitos.

Lula usou de habitual metáfora para resumir como avalia hoje a situação de Jaques Wagner, seu preferido para substituí-lo nas urnas caso seja impedido de concorrer nas eleições. Disse que o ex-governador da Bahia levou um tiro, só não se sabe “se no peito ou na canela”.

Baleado ele próprio pela Lava Jato, Lula referia-se à operação que investiga desvios na construção da Arena Fonte Nova, em Salvador. A Polícia Federal indiciou Jaques por suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina do consórcio responsáve­l pelo estádio, o que ele nega.

Colocar em marcha o plano C com Haddad não é o mundo ideal do ex-presidente, nem de dirigentes petistas que consideram o ex-prefeito de pouco traquejo político e quase nenhuma disposição de se envolver com os esquemas operaciona­is do partido.

Na conversa em sua sala, argumentou que educação será tema importante na eleição presidenci­al, o que foi visto como senha para manter Haddad nessa raia.

O ex-prefeito foi ministro da Educação durante os governos Lula e Dilma Rousseff e responsáve­l por implantar o ProUni (Programa Universida­de Para Todos), que concede bolsas de estudos para alunos de baixa renda em universida­des privadas. MUITA CALMA Na avaliação de assessores, Lula sabe que deverá indicar alguém para substituir seu nome na corrida eleitoral, mas é preciso impedir que ele adote esse discurso em público desde já e desmobiliz­e sua própria candidatur­a.

A tese é a de que, mesmo preso, o ex-presidente tem que ser registrado candidato em 15 de agosto —fim do prazo para que isso seja feito— e aguarde que a Justiça Eleitoral barre seu nome com base na Lei da Ficha Limpa.

Em seguida, em meados de setembro, pelas contas do PT, Lula indicaria seu substituto.

O fato é que o ex-presidente tem sentido o peso da condenação que pode levá-lo à cadeia para cumprir pena de 12 anos e 1 mês pelo caso do tríplex em Guarujá (SP).

Considera “uma grande bobagem” qualquer possibilid­ade de fugir do país e pedir asilo no exterior e demonstra vigor em enfrentar o que chama de injustiça, mas expressa preocupaçã­o, principalm­ente com os filhos.

Diz que eles têm sido perseguido­s, não conseguem arrumar emprego e podem ficar em uma situação ainda pior se o pai for preso.

Pelo menos dois dos cinco filhos do ex-presidente enriquecer­am na gestão do petista ao firmarem contratos com empresas que tinham negócios com o governo.

Os dois empresário­s, Fábio Luís e Luis Claudio, este dono da LFT Marketing Esportivo e alvo da Operação Zelotes, viram as firmas naufragare­m após as investigaç­ões.

Já Marcos Cláudio, filho do primeiro casamento de Marisa Letícia e adotado por Lula, mudou-se com a mulher para Paulínia, no interior de São Paulo, e chegou a trabalhar com venda de carvão.

DE BRASÍLIA

A defesa de Antonio Palocci pediu nesta sexta (23) ao ministro Edson Fachin, relator no STF (Supremo Tribunal Federal) de um habeas corpus impetrado para soltar o ex-ministro, que o caso seja analisado na próxima terça (27) na Segunda Turma do tribunal.

Os advogados desistiram do pedido feito na manhã da quinta (22) para que o habeas corpus fosse julgado no plenário no dia 4 de abril.

A mudança é um reflexo direto de uma decisão, desta quinta, sobre o habeas corpus preventivo pedido pela defesa do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva.

No ano passado, Fachin negou o habeas corpus ao ex-ministro petista e decidiu remetê-lo à análise do plenário do STF (composto pelos 11 ministros).

Palocci está preso pela Lava Jato em Curitiba desde 26 de setembro de 2016. Ele foi condenado pelo juiz Sergio Moro em junho de 2017 a 12 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva.(REYNALDO TUROLLO JR.)

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