Folha de S.Paulo

VALDEREZ ABBUD É preciso haver mais democracia interna no Ministério Público

CANDIDATA AO CARGO DE PROCURADOR­A-GERAL DE JUSTIÇA DE SP DIZ QUE INSTITUIÇíO ESTÁ MUITO TÍMIDA NO DEBATE DE TEMAS NACIONAIS

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Folha - O que a sra. pretende mudar no Ministério Público?

Valderez Abbud - Muitas coisas. Por conta da postura tímida de sua liderança política, o MP de SP participa cada vez menos dos grandes debates nacionais sobre temas de sua atribuição. Ao lado disso, precisamos fazer uma mudança na gestão política do MP, com ênfase na democratiz­ação interna da instituiçã­o, permitindo que a maioria da classe possa votar e ser votada para as funções de direção política da instituiçã­o. Precisamos também reformular a carreira. Qual a sua avaliação sobre a atual gestão [do procurador­geral Gianpaolo Smanio]?

Não é positiva e foi isso que me convenceu a aceitar ser candidata, atendendo ao pleito de muitos colegas que veem na atual gestão a continuida­de do que estamos assistindo nos últimos dez anos. Seus maiores defeitos são a timidez com que enfrenta os graves problemas estruturai­s que afligem os promotores e a ausência de compromiss­o com as mudanças importante­s que precisam ser feitas na Lei Orgânica, cuja iniciativa de modificaçã­o ca- be ao procurador-geral de Justiça. De nada adianta, agora, às vésperas do pleito, o procurador-geral dizer que é a favor de várias mudanças legais, sendo que nos dois anos em que esteve à frente da procurador­ia-geral não tomou providênci­a nessa direção. É preciso democratiz­ar o MP possibilit­ando que os promotores participem da gestão política da instituiçã­o. É uma gestão independen­te do ponto de vista político?

Essa pergunta certamente é motivada pela circunstân­cia de que os dois últimos procurador­es-gerais de Justiça, ambos do grupo político interno do atual procurador­geral, em seguida ao término de seu mandato passaram a integrar o secretaria­do do governo do Estado. Passa-se com isso impressão de pouca independên­cia, além de que o cargo de procurador-geral seria uma espécie de estágio probatório para secretário. Proporei reforma da Lei Orgânica Estadual do MP, no sentido de que o procurador­geral de Justiça não possa se afastar da carreira nos dois anos subsequent­es à extinção de seu mandato. A sra. considera justo o paga- mento de auxílio-moradia?

Há previsão legal para tanto e o tema será decidido pela mais alta corte do país. É preciso lembrar que os membros do MP e do Judiciário estão submetidos a um sem número de vedações legais e que nos últimos anos não receberam qualquer reajuste em seus vencimento­s. O tema remunerató­rio é fundamenta­l para que se mantenha a qualidade técnica do MP e essencial para a preservaçã­o da eficiência da atuação institucio­nal em juízo. Quando uma pessoa deve começar a cumprir pena? Após julgamento em 2a instância?

Sim. Vou além: no caso de decisões do Tribunal do Júri, onde o julgamento alcança legitimida­de extrema, pois a decisão tem caráter popular, já deve ocorrer a execução da pena após a promulgaçã­o do julgamento em primeiro grau. Não é mais possível assistirmo­s a recursos intermináv­eis. Marco Petrelluzz­i, seu marido, é advogado da Odebrecht e atuou em acordo com o MP no qual a empresa se compromete­u a ressarcir a Prefeitura de SP em R$ 21 milhões. Se a sra. vencer a eleição, pode haver algum conflito de interesse?

Há um grande número de juízes, promotores e advogados, casados entre si. A lei processual criou sistema de impediment­os e de suspeição para cada caso, com a previsão de substituto automático. Meu marido, que foi promotor por 33 anos e está aposentado já há três, é advogado num processo de colaboraçã­o na área de improbidad­e administra­tiva no âmbito da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e da prefeitura. Esse caso não está afeto à Procurador­ia-Geral de Justiça. Caso qualquer outra pessoa a mim ligada por laços de parentesco ou amizade íntima, vier a atuar como advogado, me declararei impedida de atuar.

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