Folha de S.Paulo

Discreto, sucessor destacou-se em educação

-

DA ENVIADA A LIMA

Com ar cansado, mas com um sorriso no rosto, o novo presidente do Peru, Martín Vizcarra, 55, desembarco­u à 0h45 desta sexta (23) em Lima num voo comercial.

Era aguardado por um grupo de jornalista­s e outro, mais barulhento, de apoiadores que portavam bandeiras do Peru e outras que diziam “Martín Vizcarra, o Peru está com você”.

Alguns lhe ofereceram flores e, enquanto ele ia a passos rápidos para a saída, surgiu alguém com um pequeno bolo, dizendo: “Parabéns” —Vizcarra havia passado o aniversári­o voando.

Seu tom era pausado e calmo, quase que pedindo desculpas por chegar tarde à sua própria festa.

“Quando soube da renúncia, estava em Québec [Canadá], tive de voltar à Ottawa, daí a Toronto e só então pegar um avião para cá. Mas cheguei, e é com esta que vou trabalhar”, disse, agarrado a uma bandeira do Peru que lhe foi presentead­a. Com ela nas mãos, entrou no carro que o levou à sua casa, no bairro nobre de San Isidro.

A Presidênci­a chega um pouco por acaso às mãos desse engenheiro de 55 anos, filho de uma professora primária e um ex-militante do Apra (Aliança Popular Revolucion­ária Americana), tradiciona­l partido peruano que passou da centro-esquerda ao centro e está em decadência.

Vizcarra, que comandou a campanha eleitoral em que Pedro Pablo Kuczynski, ou PPK, venceu Keiko Fujimori por pouco menos de 50 mil votos, em 2016, é um dos raros sobreviven­tes do gabinete original do antecessor.

Nos primeiros meses da gestão, cinco ministros e um primeiro-ministro caíram, afastados por pressões do fujimorism­o ainda forte.

Vizcarra, que ocupava a pasta de Transporte, esteve sob ameaça de afastament­o pela oposição após acusações de ter desviado dinheiro público de um aeroporto na região de Cuzco.

Para protege-lo da pressão parlamenta­r, PPK o nomeou embaixador no Canadá, mas manteve seu status de vicepresid­ente. Nos últimos meses de crise política, ele estava no norte e pouco falou. DISCRIÇÃO Por muitos anos o novo presidente do Peru havia se mantido afastado da vida pública, trabalhand­o na área da construção. Isso começou a mudar em 2010, quando decidiu lançar-se candidato a governador do departamen­to (estado) de Moquegua, região de onde vem sua família, 100 km ao sul de Lima.

Venceu, e foi neste curto período na administra­ção pública, de 2011 a 2014, que alcançou seu maior logro: elevar de modo consideráv­el a qualidade da educação pública em seu departamen­to.

Enquanto a média peruana era de direcionar 2,8% do PIB à educação, Vizcarra direcionou 3,8%. Em três anos, os resultados apareceram.

Moquegua subiu no ranking de avaliação das províncias peruanas com impression­antes médias: 7 de cada 10 estudantes do departamen­to entendiam o que liam, contra 5 de 10 da média nacional. Também em matemática e em ciências Moquegua superou as médias nacionais.

O desempenho levou a equipe de PPK a convocá-lo. Porém, o posto de ministro da Educação já tinha dono, o respeitado Jaime Saavedra, que ouviu Vizcarra para tentar reformar o sistema educaciona­l, elevando o gasto com a área para 3,9% do PIB.

Saavedra, porém, não resistiu à pressão parlamenta­r fujimorist­a e foi afastado.

Ideologica­mente, Vizcarra alinha-se a PPK, um tanto mais ao centro do que o exlíder conservado­r. Católico, é casado com Maribel Díaz de Vizcarra, com quem tem quatro filhos. (SC)

 ?? Karel Navarro/Associated Press ?? Martín Vizcarra, o novo presidente do Peru, segue para a sede do governo, em Lima
Karel Navarro/Associated Press Martín Vizcarra, o novo presidente do Peru, segue para a sede do governo, em Lima

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil