ANÁLISE O maior defensor da guerra preventiva será principal conselheiro de Trump
O grupo de ação política de John Bolton, novo assessor de segurança nacional de Donald Trump, foi um dos primeiros clientes da consultora no centro de uma polêmica que envolve o Facebook, privacidade e propaganda política.
A Cambridge Analytica foi contratada pelo comitê de Bolton para desenvolver perfis psicológicos de eleitores com base em dados recolhidos de dezenas de milhões de perfis de usuários do Facebook, segundo ex-empregados e documentos da empresa.
O grupo John Bolton Super PAC contratou a então recémfundada Cambridge Analytica em agosto de 2014, quando ela ainda recolhia dados do Facebook. Nos dois anos seguintes, gastou quase US$ 1,2 milhão sobretudo em pesquisas e levantamentos, segundo documentos de financiamento eleitoral.
Mas o contrato, do qual o New York Times obteve uma cópia, oferece mais detalhes sobre o que Bolton estava comprando: “microdirecionamento comportamental acompanhado por mensagens psicometrificadas”.
Para fazer esse trabalho, a Cambridge Analytica usou dados do Facebook, segundo os documentos e dois ex-empregados da companhia que acompanharam o trabalho.
“Os dados e a modelagem recebidos pelo comitê de Bolton derivavam de dados do Facebook”, disse Christoper Wylie, analista de dados que integrou a equipe fundadora da Cambridge Analytica. “Nós os informamos em conferências telefônicas e reuni-
“O regime no Irã precisa ser derrubado o mais rápido possível.”
“Na Coreia do Norte, há duas opções: acabar com o regime —com a reunificação ou com um golpe de Estado— ou eliminar as armas.”
Essas são algumas das opiniões de John Bolton, o novo conselheiro de segurança nacional de Trump.
Bolton sempre foi um entusiasmado defensor dos “ataques preventivos”.
Durante o governo de George W. Bush (2001-09), ajudou a turbinar as parcas indicações de que o ditador iraquiano Saddam Hussein (1979-2003) teria armas de destruição em massa para justificar a invasão americana no Iraque, em 2003.
Bolton foi um visionário: na época, disse que os iraquianos comemorariam a chegada dos americanos e que a guerra seria rápida. Durou oito anos —e seus resquícios ainda são visíveis.
Habitué da rede de TV Fox News, de onde Trump recrutou boa parte de seus recémcontratados, Bolton teve atuação turbulenta como embaixador dos EUA na ONU, também sob Bush.
Enquanto Trump colocou um cético da mudança climática para chefiar a Agência de Proteção Ambiental, Bush pôs para representar os EUA nas Nações Unidas alguém que dizia que “se o prédio da ONU em Nova York perder 10 andares, não faria a menor diferença”.
Antes disso, foi subsecretário para controle de armas no Departamento de Estado. Nesse cargo, ajudou a enterrar o acordo que o ex-presidente Bill Clinton (19932001) havia costurado com Pyongyang para conter o programa nuclear.
Foi noticiado que Bolton teve de prometer à equipe de Trump que não iniciaria uma guerra e não seguiria literalmente as ordens de Trump quando ele xingasse outros países. Mas, em entrevista após a nomeação, ele disse que seu papel é não deixar que a burocracia trave as decisões do presidente.
Uma dúvida é o destino do indefectível bigode de Bolton. Em 2016, houve relatos de que ele foi rejeitado para o posto de secretário de Estado porque Trump achava que seu bigode não combinava com o cargo. Não se sabe se debateram repaginar o visual para o cargo atual.
Ele aconselhará Trump em dois momentos cruciais.
Em maio, o presidente precisa recertificar o acordo nuclear com o Irã. Da última vez, ameaçou não fazê-lo, mas o então secretário de Estado, Rex Tillerson, o dissuadiu. Já Bolton, crítico do acordo, escreveu em artigo no New York Times: “Para frear a bomba do Irã, bombardeiem o Irã”.
Ele tampouco vê com bons olhos o encontro de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-un. Dizendo que Pyongyang é uma “ameaça iminente”, mesma linguagem usada para justificar a invasão do Iraque, ele escreveu o artigo “A justificativa legal para atacar primeiro a Coreia do Norte”, no Wall Street Journal, em fevereiro.