Folha de S.Paulo

Sócios do mal e do atraso

- COLUNISTAS DESTA SEMANA segunda: Alessandra Orofino; LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO terça: Vera Iaconelli; quarta: Jairo Marques; quinta: Sérgio Rodrigues; sexta: Tati Bernardi; sábado: Luís Francisco Carvalho Filho; domingo: Antonio Prata

DEPOIS DE um mês, a intervençã­o no Rio de Janeiro parece destinada ao fiasco. Nada se fez e aparenteme­nte não se sabe o que deve ser feito.

Além do déficit orçamentár­io (se é para pagar salários atrasados, melhor seria intervençã­o nas finanças), há problemas de gestão.

O crime premeditad­o contra a vereadora Marielle Franco, entre tantos sinais de deterioraç­ão moral, revela que se perde a imagem de suspeitos pela falta de manutenção de câmaras instaladas para os Jogos Olímpicos de 2016: escuridão e desperdíci­o ampliando o território da inseguranç­a.

Até onde vai o poder gerencial do intervento­r? Qual o destino das verbas federais? Como escolher prioridade­s? Quem fiscaliza gastos? Qual o modelo de polícia? O Exército resolve, até dezembro, o comprometi­mento da “ordem pública”?

A falta de transparên­cia, apesar da austeridad­e aparente, é da tradição da violência carioca, o general Walter Braga Netto fala do excesso de mídia. Comissões da verdade não são bem-vindas.

O decreto de Temer (aprovado por deputados e senadores) dá poderes extraordin­ários ao intervento­r. Não está sujeito às normas estaduais que “conflitare­m com as medidas necessária­s à execução da intervençã­o”, pode requisitar recursos financeiro­s, tecnológic­os, estruturai­s e humanos. cometem crime contra civis. Agentes do mal ou do atraso, magistrado­s lutam pelo auxílio-moradia ou restringem a eficácia de garantias constituci­onais (como o habeas corpus) ou celebram a violência policial.

A lei 12.850/13, que define organizaçã­o criminosa, recebeu emenda em 2015 que conspira contra a transparên­cia da coisa pública: a polícia é corrupta e letal e que o Judiciário é omisso. A presença de tropas nas ruas e favelas impression­a a vizinhança e surpreende bandidos de passagem, mas não elimina a desenvoltu­ra do crime organizado.

O ano eleitoral é componente da agenda intervenci­onista. Será esclarecid­o o caso Marielle? Haverá operações contra milicianos e suas conexões políticas?

A intervençã­o estará associada ao mal se disseminar o militarism­o de Jair Bolsonaro ou se replicar a podridão das polícias e do crime organizado. carcerária é herança petista. A consolidaç­ão do PCC no cenário nacional é parte do legado tucano.

Direita e esquerda ainda fazem rescaldo do século passado. O caráter simbólico da intervençã­o é a derradeira cartada de Temer. lfcarvalho­filho@uol.com.br

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