Folha de S.Paulo

Justiça barra 16 vídeos ofensivos a Marielle do YouTube

Decisão judicial determina retirada de gravações com acusações sem provas que ferem honra de vereadora

- MARINA LANG

A Justiça do Rio de Janeiro determinou a retirada do ar de 16 vídeos do YouTube que contêm ofensas a Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinad­a na quarta (14).

A decisão, da juíza Márcia Correia Hollanda, da 47ª Vara Cível, é da noite de quintafeir­a (22) e deu prazo de 72 horas para que isso ocorra.

O Google, que é proprietár­io da plataforma de vídeos YouTube, deve excluir as postagens de terceiros sob pena de multa diária de R$ 1.000. O pedido foi feito na Justiça pela companheir­a da vereadora, Monica Benicio, e por Anielle Silva, irmã de Marielle.

Na ação, elas solicitava­m a retirada do ar de 40 vídeos, mas a remoção foi deferida parcialmen­te —a juíza considerou que só 16 deles ofendiam a honra de Marielle.

Segundo a magistrada, os vídeos não apresentam provas concretas e fazem “suposições sem lastro probatório”.

O processo continua correndo na Justiça. Monica e Anielle pedem indenizaçã­o de R$ 1 milhão por danos morais causados pelos vídeos.

Desde quinta-feira (22) a reportagem procura o Google para comentar o processo, mas não obteve resposta. VERSÕES A vereadora do PSOL e o motorista Anderson Gomes foram assassinad­os a tiros após saírem de um evento. Desde então, versões mentirosas sobre a vida e a origem de Marielle circulam na internet.

Em sua decisão, a juíza diz que “ao analisar os vídeos indicados, verifico que alguns deles, realmente, extrapolar­am o que a Constituiç­ão fixou como limite ao direito de livremente se manifestar”.

“Tais vídeos e áudios fizeram referência direta a Marielle, apontando-a como vinculada a facções criminosas e tráfico ou imputações maliciosas sobre as suas bandeiras políticas, como o aborto, fatos que podem caracteriz­ar violação à honra e à imagem da falecida e que certamente causam desconfort­o e angústia a seus familiares. Note-se que nenhum dos divulgador­es apresentou prova concreta sobre o declarado”, diz a juíza.

Outra parte dos vídeos, entretanto, não foi considerad­a ofensiva pela magistrada.

“Os demais vídeos indicados pelas autoras apresentam, em sua grande maioria, críticas duras à política exercida pelo partido PSOL e também ao tratamento que a mídia, especialme­nte as Organizaçõ­es Globo, deram ao fato criminoso. Outros vídeos apenas reproduzem debates parlamenta­res, discursos públicos e entrevista­s de outras pessoas sobre o fato”, afirma.

A liminar foi solicitada na quarta (21) por meio de advogadas do PSOL, ao qual a vereadora era filiada, em nome das familiares de Marielle.

O pedido listava os números de visualizaç­ões de cada um dos 40 vídeos. “Até agora foram contabiliz­adas 13.405.111 visualizaç­ões, a honra e a memória de Marielle Franco foram manchadas para quase 13 milhões e meio de pessoas”, dizia.

O PSOL prepara ação de calúnia e difamação contra a desembarga­dora Marilia Castro Neves, que em comentário em rede social relacionou Marielle a uma facção criminosa. Dias depois, ela disse ter se “precipitad­o” ao compartilh­ar a informação falsa.

O pedido de liminar, dizia requerer que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro “seja um paradigma na mudança de consciênci­a da coletivida­de e um marco para a responsabi­lização de conteúdos postados na internet”.

 ?? Ricardo Moraes/Reuters ?? » ROTINA DE VIOLÊNCIA Enterro de PM vítima de tiroteio que também matou um morador na Rocinha; foi o 30º policial assassinad­o em 2018 no RJ VIOLÊNCIA
Ricardo Moraes/Reuters » ROTINA DE VIOLÊNCIA Enterro de PM vítima de tiroteio que também matou um morador na Rocinha; foi o 30º policial assassinad­o em 2018 no RJ VIOLÊNCIA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil