Folha de S.Paulo

Em três atos, ‘Love, Love, Love’ costura embates geracionai­s

Grupo de Débora Falabella, Yara de Novaes e Gabriel Fontes Paiva retorna à dramaturgi­a de Mike Bartlett

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

Peça começa em 1967, quando Beatles tocaram ‘All You Need Is Love’ na 1ª transmissã­o ao vivo de TV via satélite

O dramaturgo inglês Mike Bartlett faz de pequenas situações um espelho da sociedade. Em “Love, Love, Love”, um núcleo familiar é o mote para retratar conflitos geracionai­s e a desilusão com ideologias.

O espetáculo ganhou no ano passado uma montagem brasileira, que chega a São Paulo nesta semana depois de uma temporada no Rio.

É o segundo trabalho do Grupo 3 de Teatro, formado por Débora Falabella, Yara de Novaes e Gabriel Fontes Paiva, com a dramaturgi­a de Bartlett. O primeiro foi “Contrações”, montado há cinco anos, que retratava as manipulaçõ­es de uma gerente com sua funcionári­a.

Já “Love, Love, Love” apresenta, em três atos, diferentes gerações de uma mesma família. Tudo começa na noite de 25 de junho de 1967, quando os Beatles cantaram “All You Need Is Love” na primeira transmissã­o ao vivo de televisão via satélite.

A jovem idealista Sandra (Débora) tem um encontro com Henry (Mateus Monteiro), mas acaba se interessan­do pelo irmão dele, Kenneth (Alexandre Cioletti).

No segundo ato, vemos Sandra (agora interpreta­da por Yara) e Kenneth (Augusto Madeira) casados e com filhos (vividos por Débora e Cioletti), mas seu relacionam­ento já perdeu o encanto de antes. Na última parte do espetáculo, assistimos a um acerto de contas entre filhos e pais. PERSPECTIV­A Bartlett trafega dos idealismos dos anos 1960 —quando uma jovem Sandra imagina que o mundo seria “um lugar muito diferente em dez anos”— até os desapontam­entos dessa geração, anos mais tarde, e a falta de perspectiv­a de seus filhos.

Estes últimos, por sinal, são contemporâ­neos do próprio autor, nascido em 1980 na região de Oxford, na Inglaterra.

Em entrevista à companhia nova-iorquina Roundabout, o dramaturgo disse que se inspirou na sua própria geração, que passava dificuldad­es para viver em Londres, “tentando, mas sempre falhando em fazer o que queria, e ao mesmo tempo ouvindo como as coisas eram melhores [nos anos 1960 e 1970].”

“Ele capta com muita sensibilid­ade essas mudanças dos tempos e dos ventos, faz um panorama bastante complexo do que foi o mundo pós ‘love, love, love’ dos Beatles”, comenta Eric Lenate, diretor da montagem brasileira.

O retrato de Bartlett, porém, não se dedica a culpar uma ou outra geração, mas a mostrar o conjunto de suas falhas.

“Ele coloca o tempo inteiro as personagen­s em pé de igualdade”, diz Yara, que venceu o Prêmio Shell-Rio por sua atuação na peça. “O grande drama é exatamente que opositor dessas pessoas é uma coisa muito mais invisível e poderosa, como o dinheiro.”

A dramaturgi­a costura as falas quase como numa melodia, criando diversas sobreposiç­ões de diálogos, como se os personagen­s mais falassem do que se escutassem.

Diferentem­ente da montagem original, a versão brasileira não tem intervalos entre os três atos. Todas as transições de um período para o outro são feitas na frente da plateia, com os atores se trocando em cena. Uma forma, segundo Lenate, de “puxar o público para dentro do palco”.

As mudanças são acompanhad­as no cenário de André Cortez, composto de alguns elementos e de um sofá, cujos estofados são trocados a cada passagem de tempo. QUANDO sex., às 20h, sáb., às 21h, dom., às 18h; até 27/5 ONDE Teatro Vivo, av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, tel. (11) 3279-1520 QUANTO R$50aR$60 CLASSIFICA­ÇÃO 14 anos

Com a “Terceira”, a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) abre o ciclo “As Nove Sinfonias” —com nove regentes diferentes—, integral de Beethoven que será apresentad­a na Sala São Paulo ao longo do ano.

A regente titular Marin Alsop inaugurou a série em um programa totalmente dedicado a Beethoven: além da sinfonia, a “Abertura Leonora n.3” (escrita para a sua única ópera, “Fidelio”) e o “Concerto n.4 para piano” com o solista russo Nikolai Lugansky.

Alsop dirigirá a orquestra até o final de 2019, mas seria natural que o anúncio de seu sucessor (ou sucessora) ocorresse até o final de 2018. E é natural também que os maestros convidados para o projeto das sinfonias estejam entre os principais candidatos.

Velentina Peleggi (regente em residência e titular do Coro Osesp), extraordin­ário exemplo de talento e musicalida­de da nova geração, regerá a “Quinta” na semana que vem; ao jovem britânico Alexander Shelley caberá a “Quarta”, e ao experiente

 ?? Lenise Pinheiro/Folhapress ?? Atriz Débora Falabella como a jovem Rose, última geração da família de ‘Love, Love, Love’
Lenise Pinheiro/Folhapress Atriz Débora Falabella como a jovem Rose, última geração da família de ‘Love, Love, Love’

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