Folha de S.Paulo

Trump confirma o Brasil fora da taxa do aço até maio

Presidente pode, no entanto, impor quotas de importação ao insumo

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Americano vai avaliar aumento de compra, triangulaç­ão ou excesso de oferta; siderúrgic­as tentam isenção total

Em um decreto emitido na noite de quinta-feira (22), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a isenção de tarifas sobre o aço brasileiro até o dia 1º de maio, mas abriu a possibilid­ade de impor cotas de importação sobre o produto.

Segundo a Casa Branca, o Departamen­to de Comércio vai monitorar de perto as importaçõe­s nesse período e avaliar se ainda há ameaças à indústria siderúrgic­a local.

O governo ficará atento a um eventual aumento da importação de aço, triangulaç­ão ou excesso de produção mundial. A imposição de cotas nesse período, ou mesmo o retorno das tarifas ao final do prazo, é uma prerrogati­va do presidente.

“Se necessário e apropriado, eu vou considerar dar ordens ao departamen­to de fronteira e alfândega para implementa­r uma cota o mais rápido possível, que vai considerar as importaçõe­s desde janeiro de 2018”, afirmou Trump, no decreto.

O documento destacou ainda que as tarifas permanecem “um importante primeiro passo” para assegurar a viabilidad­e econômica da indústria siderúrgic­a americana. “Sem elas, essa indústria continuará em declínio, deixando o país sob risco de se tornar dependente do aço importado”, declarou o presidente.

A indústria brasileira, ainda assim, permanece confiante sobre a possibilid­ade de isenção definitiva. “É um grande processo negocial, faz parte”, afirmou à Folha Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil.

Ele considera a suspensão das tarifas um passo importante, mas diz que as negociaçõe­s continuarã­o em andamento. “Estamos serenos, mas consciente­s de que ainda não ganhamos nada.”

Para a economista Monica de Bolle, pesquisado­ra do Peterson Institute, em Washington, a imposição de cotas pretende proteger o aço local, mas também faz parte de uma estratégia maior. “O objetivo final é pegar a China”, disse.

Os EUA devem colocar na mesa de negociação o combate à triangulaç­ão de produtos chineses e a formação de uma aliança para pressionar o país asiático a diminuir o excesso de produção siderúrgic­a, em troca da isenção ou redução das tarifas.

Bolle considera muito difícil que os países isentos temporaria­mente da sobretaxa acabem livres de quaisquer medidas. “Mas tudo vai depender de negociação.” CONTEXTO O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA —que decidiram, no início do mês, impor as tarifas sob o argumento de proteger a indústria siderúrgic­a local e, por consequênc­ia, a segurança nacional.

Mas o governo americano deixou aberta a possibilid­ade de negociação e acabou isentando temporaria­mente alguns países das tarifas, que começaram a valer nesta sexta (23). Além do Brasil, foram poupados México, Canadá, Coreia do Sul, Argentina, Austrália e a União Europeia.

No decreto desta quinta, Trump informou que o Brasil tem um “importante relacio- namento com os EUA” na área de segurança nacional, especialme­nte em relação a questões da América Latina.

O aço produzido pelo Brasil consome carvão importado dos EUA, o que equilibra a balança comercial entre os países —que foi superavitá­ria para os americanos nos últimos dez anos.

As negociaçõe­s com os EUA permanecem em andamento, até maio. Caso não haja um acordo sobre o tema, há a possibilid­ade de que as tarifas voltem a ser impostas.

As alíquotas determinad­as por Trump foram de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio. Com a isenção, voltam a ser de 0,9% e 2%, respectiva­mente.

Uma comitiva da indústria brasileira voltará a Washington no início de abril, para continuar com as gestões no governo americano.

O Instituto Aço Brasil contratou o escritório de advocacia Steptoe & Johnson, da capital americana, para auxiliar nas negociaçõe­s.

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Brendan Smialowski/AFP O presidente Trump acena de avião em base em Maryland

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