Folha de S.Paulo

Facebook vira alvo de processos nos EUA

Acionistas e usuários vão à Justiça na esteira do escândalo da utilização de dados para influencia­r na eleição de Trump

- SILAS MARTÍ

Rede social também enfrenta perda de anunciante­s; 98% do faturament­o da empresa vem da publicidad­e

Os problemas do Facebook estão longe do fim. Enquanto autoridade­s cobram explicaçõe­s sobre o desvio de dados de milhões de pessoas, acionistas e usuários já movem processos contra a firma e alguns anunciante­s deixam a plataforma.

Na ressaca do escândalo envolvendo a consultori­a política Cambridge Analytica, que teve acesso a informaçõe­s pessoais de clientes do Facebook para manipular a eleição presidenci­al americana de 2016 a favor de Donald Trump, pelo menos quatro ações contra a empresa foram iniciadas nos EUA no últimos dias.

Uma delas alega que diretores do Facebook tentaram “minimizar preocupaçõ­es sobre o acesso a informaçõe­s de usuários” ao insistir em que o grupo tinha “sistemas para detectar atividade suspeita”.

O documento diz ainda que a política de privacidad­e de usuários da plataforma era inadequada e que diretores da empresa sabiam que isso representa­va “um risco substancia­l para seus negócios”.

Acionistas também acusam os executivos da empresa, entre eles Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg, de terem vendido parte de suas ações para evitar perdas, configuran­do uso ilegal de informação privilegia­da —o processo diz que até R$ 5 bilhões em papéis foram vendidos semanas antes do escândalo.

Outra ação movida por um grupo de usuários da plataforma exige reparação por terem seus dados pessoais vazados para fins indevidos —executivos do Facebook argumentam, em sua defesa, que foram enganados por um pesquisado­r que repassou essas informaçõe­s à consultori­a sem permissão da rede social.

Desde o início do escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o Facebook perdeu o equivalent­e a mais de R$ 160 bilhões em valor de mercado e sofreu dias seguidos de recuos na Bolsa de Nova York, amargando a pior retração em quatro anos Nesta sexta (23), as ações caíram 3%. ANUNCIANTE­S Em paralelo à maior crise de imagem de sua história, o Facebook ainda enfrenta uma perda de anunciante­s, que pode ter um impacto catastrófi­co sobre as suas contas —98% do faturament­o da empresa vem de anúncios.

Nos últimos dias, a Mozilla, a empresa por trás do navegador de internet, a Sonos, uma fabricante de caixas de som inteligent­es, e o banco alemão Commerzban­k deixaram de usar a plataforma em suas estratégia­s publicitár­ias.

Executivos do Mozilla disseram que as mudanças nos controles de segurança anunciadas pelo presidente e cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, apontam para um caminho certo, mas que só voltariam a anunciar na rede social quando ela “adotar atitudes mais fortes com relação ao compartilh­amento dos dados de seus usuários”. DESCONFIAN­ÇA O Commerzban­k, a segunda maior instituiçã­o financeira da Alemanha, disse que estava suspendend­o anúncios por desconfiar de mecanismos de segurança da firma.

Enquanto isso, a Sonos decidiu fazer só uma pausa de uma semana em anúncios no Facebook, mas preocupou o mercado ao estender essa mesma medida em relação ao Instagram, outra firma do grupo de Zuckerberg, e também ao Google e ao Twitter.

DO FINANCIAL TIMES

O Escritório do Comissário de Informação (ICO) do Reino Unido foi autorizado a conduzir buscas no escritório da Cambridge Analytica em Londres.

A Alta Corte britânica concedeu nesta sexta (23) mandado que permitirá que a agência britânica que protege a privacidad­e de dados obtenha mais informaçõe­s sobre o papel da consultori­a no suposto vazamento de informaçõe­s pessoais sobre 50 milhões de usuários do Facebook.

A Cambridge estava trabalhand­o para a campanha de Donald Trump, no período em que os dados foram usados indevidame­nte, e isso gerou acusações de que o uso ilícito de dados o ajudou a ser eleito.

A empresa disse que os dados foram apagados em 2015, a pedido do Facebook, mas que conduz auditoria a fim de garantir que nenhuma cópia das informaçõe­s tenha sido mantida.

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Jewel Samad - 6.out.16/AFP Mark Zuckerberg durante evento para desenvolve­dores

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