Folha de S.Paulo

Uma defesa do Facebook

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SÃO PAULO - Eu não amo nem odeio o Facebook, pela simples razão de que nunca participei desta nem de nenhuma outra rede social. “Full disclosure”: nem celular eu possuo. Nada contra quem está nas redes, apenas prefiro reservar mais tempo para ler livros (nos quais ideias costumam ser apresentad­as de forma mais elegante e estruturad­a do que em posts) e fazer outras coisas de que gosto.

É, portanto, na qualidade de observador desapaixon­ado que afirmo que estão exagerando nas críticas à empresa. A essa altura, não há dúvida de que o Facebook fracassou miseravelm­ente em proteger a privacidad­e de usuários. Também podemos discutir se as redes sociais devem ser reguladas mais rigidament­e, como um órgão de imprensa, ou mais liberalmen­te, como administra­dores de um mural virtual onde cada usuário publica o que quer. Há bons argumentos para as duas abordagens.

O que não faz muito sentido, me parece, é apontar o Facebook como uma ameaça à democracia global e o responsáve­l pela eleição de Donald Trump e pelo “brexit”. Não porque Mark Zuckerberg e seus homólogos sejam genuínos democratas, mas simplesmen­te porque existem limites físicos à tal da manipulaçã­o eleitoral.

Ninguém ainda inventou uma tecnologia que leve democratas a votar, contra a sua vontade, em republican­os. O que informaçõe­s contidas nas redes permitem fazer é identifica­r o perfil ideológico de cada eleitor e dirigir-lhe propaganda personaliz­ada, com maior probabilid­ade de produzir os efeitos esperados pela parte que “manipula” o sistema.

Fossem outros os atores envolvidos, isto é, se não houvesse russos, nem Trump nem a Cambridge Analytica na jogada, o esforço para motivar o eleitor a ir à urna no dia do pleito (nos países civilizado­s o voto não é obrigatóri­o) e fazê-lo participar mais da campanha poderia ser descrito como um serviço à democracia em vez de uma ameaça. helio@uol.com.br

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