Folha de S.Paulo

A propina da iluminação

-

Poucos notam, mas todos os domicílios paulistano­s, exceto os de interesse social, pagam um acréscimo de R$ 8,19 (residencia­is) ou de R$ 25,78 (comerciais) em suas contas de luz, como contribuiç­ão para o custeio da iluminação pública (Cosip), o que renderá cerca de R$ 470 milhões em 2018 para a prefeitura.

É essa bagatela que está por detrás do escândalo revelado, inadvertid­amente, por Denise de Abreu, ex-diretora do Ilume, órgão responsáve­l pela iluminação pública.

Em um diálogo gravado, em dezembro, com sua secretária, Abreu demonstra uma clara preferênci­a por um dos concorrent­es na licitação da PPP da iluminação, a FM Rodrigues, de quem confessa receber uma mesada. Em 2017, a empresa obteve um contrato de emergência com o Ilume.

Na licitação da PPP da Iluminação, em curso na época da gravação, a prefeitura excluiu o consórcio Walks, único concorrent­e que disputava com a empresa preferida, alegando que uma das empresas que o compunha era inidônea.

Contrarian­do a vontade dos gestores municipais, uma liminar determinou que os envelopes dos dois consórcios fossem abertos. O valor proposto pela FM Rodrigues era quase 30% superior ao do seu concorrent­e. Mas a inabilitaç­ão do consórcio que apresentou o melhor preço foi mantida.

Em 8 de março, o prefeito sacramento­u o contrato com a FM Rodrigues, com uma pequena redução. Ainda assim, a diferença entre as duas propostas, no prazo do contrato (20 anos), será de cerca de R$ 1,3 bilhão. Uma conta que os paulistano­s pagarão.

Superfatur­amento não é incomum nesse campo. Na gestão anterior, o secretário Simão Pedro reduziu em 19% o valor pago ao consórcio SPLuz, vencedor em uma licitação realizada em 2011, no governo Kassab. A FM Rodrigues fazia parte desse consórcio.

Mesmo com essa economia para os cofres públicos, as empresas puderam ampliar os investimen­tos: 51 mil novos pontos foram iluminados, 250 mil luminárias de vapor de mercúrio foram trocadas para vapor de sódio e 86 mil luminárias de LED foram instaladas. O consumo de energia foi reduzido em 12%, pois lâmpadas de vapor de sódio e, sobretudo, de LED são mais econômicas.

A PPP da iluminação, lançada por Haddad, visa trocar todo o parque de iluminação (590 mil pontos) por LED em cinco anos, mobilizand­o recursos privados. A cidade ficaria melhor iluminada, mais segura, livre de metais pesados (mercúrio e sódio) e gastaria menos com energia.

Ganhos importante­s para a cidade, mas não a qualquer preço. Se o consórcio que apresentou o melhor valor não pode concorrer, é necessária nova licitação. Um contrato de R$ 7 bilhões não pode ser firmado sem concorrênc­ia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil