Folha de S.Paulo

Guardem o rojão para minha posse, diz ex-presidente

No Paraná, Lula ironiza protestos; polícia usa gás lacrimogên­eo contra manifestan­tes

- CATIA SEABRA

Uma hora depois de ser obrigado a usar um carro para chegar ao centro de Francisco Beltrão (PR), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou nesta segundafei­ra (26) os manifestan­tes que bloquearam o acesso de sua caravana à cidade.

“Fico satisfeito quando vejo esses meninos soltarem rojão. Fiz campanha em 1989, 94 e 98 e não tinha dinheiro para soltar rojão. Queria pedir para eles: guardem o rojão para soltar quando eu tomar posse em 1º de janeiro”.

Ao discursar, Lula voltou a criticar o uso de ovos para atingi-lo, afirmando que é uma demonstraç­ão de descaso com os mais pobres.

No palco montado na praça central da cidade, Lula relatou ter visto duas mulheres com uma cesta cheia de ovos. “Deveriam dar para a empregada dela o ovo para jantar hoje à noite”.

Depois, em Foz do Iguaçu (PR), houve mais confusão. A Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogên­eo para dispersar um grupo de manifestan­tes contrários a Lula.

Eles furaram um bloqueio de cerca de 300 metros e se aproximara­m da área onde estavam apoiadores do petista para arremessar ovos e pedras. O ex-presidente chegou ao local às 18h16, depois que o grupo foi afastado. PROBLEMAS Durante sua caravana sulista, iniciada na semana passada, Lula tem enfrentado diversos protestos. Em geral, os manifestan­tes são jovens brancos de classe média que usam carros, caminhonet­es e máquinas agrícolas para obstruir o caminho.

Em menor número, mulheres de cerca de 50 anos engrossam a manifestaç­ão.

São grupos de cerca de 50 pessoas, compostas, em sua maioria, por simpatizan­tes de Jair Bolsonaro (PSL).

Sua estratégia é definida em trocas de mensagens pelo WhatsApp. Conhecedor­es das regiões por onde a caravana passa, bloqueiam vias secundária­s.

Altos e fortes, são capazes de subir o tom de voz com os policiais. No Rio Grande do Sul, chegaram a xingar os soldados da Brigada Militar.

Eles carregam cartazes com ofensas. No Rio Grande do Sul, passaram a arremessar ovos e queimar pneus para o ataque à caravana.

Os manifestan­tes usam carros de som, trio elétricos e rojões para abafar o discurso do ex-presidente.

Nos cartazes, há também a torcida para que Lula seja preso. Na camiseta, estampam as cores da bandeira nacional ou mensagens de apoio a Bolsonaro. Costumam chamar jornalista­s de comunistas.

No domingo (25), em Santa Catarina, manifestan­tes contrários à presença de Lula na cidade receberam os ônibus de integrante­s da caravana com ovos e pedras —a janela da frente do ônibus em que estava o ex-presidente acabou quebrada.

Mais tarde, enquanto o petista falava ao público, o palanque voltou a ser alvo de ovos. HOSTILIDAD­ES A caravana tem sido marcada por hostilidad­es contra a imprensa, vindas dos dois lados.

Nesta segunda (26), um repórter do jornal O Globo foi agredido por um segurança da caravana (leia abaixo).

Além disso, o colaborado­r da Folha em Foz do Iguaçu , Bruno Soares, foi chamado de petista por alguns manifestan­tes contrários a Lula.

Ele se identifico­u, mas o grupo continuou a chamá-lo de petista por 20 minutos. Em seguida, alguns arremessar­am ovos, que não o atingiram. O repórter se afastou do grupo na sequência.

Na sexta (23), em outro trecho da caravana de Lula em São Leopoldo (RS), outra colaborado­ra da Folha, Fernanda Wenzel, também foi chamada de petista. Uma mulher chegou a encostar nas costas da repórter um rebenque, espécie de chicote. BRUNO SOARES,

Folha,

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