Folha de S.Paulo

Meirelles deixa Fazenda para tentar Planalto

Ministro sairá do cargo no início de abril e vai se filiar ao MDB; caso candidatur­a não decole, pode ser vice de Temer

- MARINA DIAS

Ele disse saber que não tem a preferênci­a dentro do partido do presidente, mas que vai lutar para se viabilizar

Diante da aceleração que o presidente Michel Temer imprimiu à sua própria candidatur­a, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), decidiu deixar o cargo no início de abril, filiar-se ao MDB e tentar viabilizar seu nome ao Palácio do Planalto. A informação foi antecipada pela Folha.

O centro de gravidade do discurso pela reeleição de Temer repousa, ainda indefinido­s eventuais dividendos de popularida­de com a intervençã­o na segurança pública do Rio de Janeiro, na melhoria do cenário econômico.

Titular da Fazenda, Meirelles, segundo aliados, personific­aria a transforma­ção na economia, que seria o empuxo de sua pretensão ao Planalto.

Na sexta-feira (23), o ministro, em conversa com o presidente Temer, bateu o martelo sobre sua decisão e voltou a apresentar os nomes dos secretário­s da pasta Mansueto Almeida (Acompanham­ento Fiscal) e Eduardo Guardia (Secretaria-Executiva) para sucedê-lo.

De saída, Meirelles quer manter em sua órbita o núcleo duro da Fazenda. Preocupa o ministro que uma mudança na equipe fragilize as ações de austeridad­e fiscal, fazendo ressurgir sinais de deterioraç­ão da economia, com efeitos colaterais sobre sua candidatur­a.

Meirelles vai migrar para o partido de Temer mesmo sem a garantia de que será o nome da sigla ao Planalto.

“A equipe econômica operou com extraordin­ária eficiência. Não pode quebrar essa equipe por nós montada no início do governo”, disse o presidente após reunião aberta com a diretoria da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), nesta segunda-feira (26).

Guardia tem mais simpatia da equipe econômica e é o favorito para o cargo.

Na conversa com o presidente, de acordo com aliados, o ministro disse saber que não tem a preferênci­a dentro do MDB para a candidatur­a, mas que quer tentar se viabilizar até a decisão final do inquilino do Palácio do Jaburu, em junho.

Caso não decole, Meirelles cogita aceitar ser vice na chapa de Temer. Na semana passada, quando rumores sobre essa possibilid­ade começaram a crescer no Planalto, o ministro não rechaçou, de início, a ideia. “Não fui con- vidado [para ser vice]. Trabalhare­i com fatos. Vamos ver”, disse à Folha na quarta (21).

Quem ecoa a tese de uma chapa puro-sangue no MDB admite que hoje não há outro nome que queira compor com Temer e sua baixíssima po- pularidade —apenas 6% dos entrevista­dos consideram seu governo ótimo ou bom, segundo o último Datafolha.

Em entrevista à revista IstoÉ, neste fim de semana, o presidente reforçou sua disposição de concorrer em outubro para, segundo ele, defender o legado de seu governo. Afirmou que seria uma covardia não disputar a reeleição, já que precisa mostrar o que tem sido feito.

Em conversas recentes com auxiliares, Meirelles disse que cumpriu uma etapa ao assumir a Fazenda durante a recessão de 2016 e que, mesmo reconhecen­do que suas chances de ser eleito são pequenas —ele tem apenas 2% nas pesquisas—, acredita que deve assumir o risco. ÚLTIMA CHANCE Aos 72 anos, o ministro considera que pode ser sua última oportunida­de de disputar uma eleição presidenci­al.

O anúncio oficial de sua renúncia deve ser feito no dia 2 de abril, antes de Meirelles viajar para dois eventos no exterior —em Portugal e nos EUA— na próxima semana.

Ele deve ficar no cargo até 6 de abril, sexta-feira. No sábado (7), termina o prazo para que candidatos deixem seus postos no governo.

Nas últimas semanas, Meirelles se reuniu com Temer diversas vezes para conversar sobre o cenário eleitoral. Deixou claro que queria ser o candidato do MDB à Presidênci­a, mas ouviu que não era possível garantir que ele ganharia o aval da sigla.

Ao contrário de Meirelles, que precisava deixar o cargo até 7 de abril se quisesse concorrer às eleições, o presidente tem tempo e aposta no aumento de sua popularida­de até meados de junho para definir se vai entrar ou não na disputa. Hoje, Temer tem 1% das intenções de voto, segundooDa­tafolha.

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Diego Vara/Reuters O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), vai deixar a pasta e pretende ser candidato

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