Folha de S.Paulo

Câmara pode votar lei do lobby nos próximos dias

Versão atual não prevê mais a obrigatori­edade de registro para exercer a atividade

- ISABEL FLECK

Em tramitação há mais de dez anos na Câmara, um projeto de lei que regulament­a o lobby no Brasil pode ser votado nos próximos dias no plenário da Casa com uma redação menos rigorosa que sua versão original.

O ponto mais polêmico é a retirada da obrigatori­edade de credenciam­ento para quem trabalha com lobby, prevista no texto de 2007 do deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Na versão atual, que foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) em dezembro de 2016, os lobistas “poderão requerer seu credenciam­ento”.

O texto atual do PL 1202/2007, relatado pela deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), também não traz mais a obrigação de que os credenciad­os apresentem anualmente ao TCU (Tribunal de Contas de União) uma declaração discri- minando suas atividades e “quaisquer gastos realizados relativos à sua atuação” junto aos órgãos públicos.

Para o presidente da Abrig (Associação Brasileira de Relações Institucio­nais e Governamen­tais), Guilherme Cunha Costa, tirar a obrigatori­edade de credenciam­ento é importante para evitar a burocracia para indivíduos e grupos que exercem pressão de forma eventual e não remunerada.

“Quando você torna obrigatóri­o, acaba restringin­do a participaç­ão da sociedade no debate de políticas públicas”, afirma Costa.

Ele diz ainda não ter dúvida de que quem exerce a atividade continuame­nte vai se credenciar —e que caberá ao mercado, aos políticos e à sociedade monitorar quem opta por andar sem crachá. “A gente terá que ficar de olho em quem não se credencia.”

A deputada Cristiane Brasil também diz que “os lobistas tradiciona­is vão fazer questão de se credenciar”, porque, segundo ela, terão privilégio­s e mais acesso aos parlamenta­res, por exemplo.

“Se não se credenciar, vai me parar no corredor e eu não vou atender”, afirma Brasil, para quem os outros deputados deverão fazer o mesmo.

“Para nós é uma segurança ter certeza de quem é a pessoa que te entrega o cartão. A gente está num momento muito crítico da nossa representa­ção para colocar o nosso mandato em jogo.”

Para a ONG Transparên­cia Internacio­nal, porém, é possível não limitar a atuação de grupos esporádico­s e manter a obrigatori­edade de registro —como eles propõem em uma série de medidas contra a corrupção, redigidas com a Fundação Getulio Vargas e que estão em consulta pública.

“Tem uma razão muito mais forte em prol da obrigatori­edade e é perfeitame­nte conciliáve­l com essas exclusões [dos grupos eventuais]”, diz Bruno Brandão, representa­nte da Transparên­cia no Brasil.

Ele destaca que o Parlamento Europeu, inclusive, está discutindo se torna agora obrigatóri­o o credenciam­ento de lobistas. Nos EUA, o registro é obrigatóri­o.

O texto que será votado determina que os credenciad­os deverão formalizar por escrito agendament­o de reuniões e informar quem representa­m.

Ele também prevê como ato de improbidad­e qualquer “vantagem, doação, benefício, cortesia ou presente com valor econômico que possa influencia­r processo de decisão”, com pena equivalent­e a até três vezes o valor em questão. O registro será negado a quem tiver sido condenado por crimes como corrupção e tráfico de influência.

Segundo Brasil, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o texto iria a votação até o fim de março. Se aprovado, ele ainda vai para o Senado.

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Gilmar Felix - 30.ago.2017 / Câmara dos Deputados A deputada Cristiane Brasil na Câmara em agosto de 2017

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