Concretos da investigação —não se sabe a autoria nem a motivação do crime.
DO RIO
Policiais militares continuam sendo mortos em confrontos com criminosos e moradores de áreas carentes permanecem sofrendo com os altos índices de violência.
Só no último final de semana foram ao menos oito mortos na Rocinha e cinco jovens assassinados em Maricá, na região metropolitana do Rio.
Para agravar a situação, uma vereadora foi morta a pouco mais de um quilômetro do quartel general da intervenção federal, num crime aparentemente premeditado, com repercussão internacional, e sem solução até agora.
Quarenta dias depois da nomeação do general do Exército Walter Braga Netto como interventor na segurança pública no estado, a situação do Rio permanece distante da promessa do presidente Michel Temer (MDB) de restabelecimento da ordem.
“O governo dará respostas duras, firmes e adotará todas as providências necessárias para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas”, afirmou Temer em 16 de fevereiro, na assinatura do decreto de intervenção. Por enquanto, a medida inédita, decidida às pressas, está sem verba nem plano definido para enfrentar a criminalidade.
Segundo pesquisa Datafolha feita na semana passada, a intervenção tem apoio de 76% dos moradores da cidade do Rio. A maioria, porém, avalia que a ação do Exército até agora não fez diferença no combate à violência (71%).
O interventor atua como chefe das forças de segurança —na prática, é responsável tanto pela Segurança Pública como pela Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob seu comando. VISIBILIDADE Nesta segunda (26), a guerra violenta entre traficantes e milicianos na zona oeste levou à interrupção do BRT Transcarioca e teve cenas filmadas de manhã por um helicóptero da TV Globo —que mostrou criminosos com fuzis em troca de tiros.
À tarde, militares do Exército iniciaram operação nas zonas sul, norte e central para reforço do patrulhamento “em áreas de grande circulação de pessoas e veículos”.
Com potencial de atrair visibilidade, a ação deve ser reforçada nesta terça (27), com deslocamento de efetivo para pontos turísticos de Copacabana e Botafogo —na noite desta segunda, tentativa de assalto a loja no Botafogo Praia Shopping, com relato de tiros, levou ao fechamento do local, mas sem deixar feridos.
A medida, porém, é de baixo impacto contra crimes violentos, já que essas não são as áreas mais conflagradas.
O principal exemplo da atual falta de rumo da inter- venção é a favela Vila Kennedy, na zona oeste do Rio, anunciada como uma espécie de laboratório da intervenção.
A experiência durou pouco, e as Forças Armadas anunciaram que irão deixar a favela antes de conseguir capturar chefes do tráfico local ou aprender quantidade representativa de armas e drogas.
No período de um mês na região, os militares protagonizaram uma corrida de gato e rato com bandidos, que colocavam de noite as barreiras retiradas de dia pelas tropas.
A estratégia dos interventores para enfrentar os criminosos é nebulosa, mas uma das pistas é que descartam ocupar comunidades de forma permanente, como ocorreu na Maré em 2014 e 2015.
Outra promessa é reequipar as polícias do estado —que seguem trabalhando com armamento obsoleto e sem combustível para viaturas.
A falta de estrutura ajuda a tornar os agentes vítimas da criminalidade. Já são 31 PMs mortos neste ano —média de um a cada três dias. Em igual período de 2017, foram 39 mortos —134 no ano todo.
Crime de maior repercussão desde que começou a intervenção, a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, completará duas semanas nesta quarta (28) sem resultados MODELO Segundo a socióloga Maria Isabel Couto, pesquisadora de segurança pública do instituto Iser, a atuação das forças repete modelo de décadas atrás, sem sucesso.
O ineditismo da medida atual, diz, é acompanhado de antigas práticas, como cerco a favelas, revistas a moradores e foco no tráfico de drogas no varejo e em regiões pobres.
“Há um aumento da repressão e a militarização da vida cotidiana nas áreas pobres, apenas, e estão tentando resolver o problema dando o mesmo remédio que sempre deram”, afirma.
Para Ignácio Cano, do Laboratório de Violência da Uerj, a intervenção não tem tempo nem condições políticas de melhorias significativas.
Ele diz ver os militares sem rumo e improvisando. O melhor que o interventor poderia fazer, diz, seria a polícia reavaliar a política de operações para tentar reduzir o número de confrontos e, consequentemente, de feridos e mortos, e aumentar o patrulhamento para inibir crimes de rua.
Cano afirma não acreditar que a solução seja tentar tomar as favelas mais conflagradas. “Se entrarem, vão ocorrer muitas mortes.”
Até agora não há estatísticas oficiais que possam medir os índices de criminalidade em meio à intervenção.
Venâncio Moura, diretor do Sindicarga (sindicato de transporte de carga do Rio), diz que a sensação é de que os roubos de carga, importante foco da intervenção, não reduziram.
“Os ladrões de carga não se intimidaram com a intervenção”, disse Moura, que é coronel da reserva da PM. Ele diz ver impacto pontual nas ações do Exército nas vias expressas. “Os militares vão embora no fim da tarde e tudo volta outra vez.” E metade acredita que a segurança na cidade vai melhorar até o fim da intervenção, em dezembro Mesmo assim, 71% acham que nada mudou com a
presença do Exército
desde o mês passado
Apoio à intervenção
é maior entre os homens e os mais velhos
menor entre os mais ricos,
Emais escolarizados e os que moram na zona sul
não muda com a cor
Mas apoio à intervenção e varia pouco entre quem mora em favelas (36% dos entrevistados)