Folha de S.Paulo

Concretos da investigaç­ão —não se sabe a autoria nem a motivação do crime.

- SÉRGIO RANGEL LUCAS VETTORAZZO LUIZA FRANCO Homens Mulheres 16 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 a 59 anos + 60 anos Preta Parda Branca Até 2 salários mín. Mais de 2 a 5 Mais de 5 a 10 Mais de 10 Fundamenta­l Médio Superior Zona oeste Barra da Tijuca

DO RIO

Policiais militares continuam sendo mortos em confrontos com criminosos e moradores de áreas carentes permanecem sofrendo com os altos índices de violência.

Só no último final de semana foram ao menos oito mortos na Rocinha e cinco jovens assassinad­os em Maricá, na região metropolit­ana do Rio.

Para agravar a situação, uma vereadora foi morta a pouco mais de um quilômetro do quartel general da intervençã­o federal, num crime aparenteme­nte premeditad­o, com repercussã­o internacio­nal, e sem solução até agora.

Quarenta dias depois da nomeação do general do Exército Walter Braga Netto como intervento­r na segurança pública no estado, a situação do Rio permanece distante da promessa do presidente Michel Temer (MDB) de restabelec­imento da ordem.

“O governo dará respostas duras, firmes e adotará todas as providênci­as necessária­s para enfrentar e derrotar o crime organizado e as quadrilhas”, afirmou Temer em 16 de fevereiro, na assinatura do decreto de intervençã­o. Por enquanto, a medida inédita, decidida às pressas, está sem verba nem plano definido para enfrentar a criminalid­ade.

Segundo pesquisa Datafolha feita na semana passada, a intervençã­o tem apoio de 76% dos moradores da cidade do Rio. A maioria, porém, avalia que a ação do Exército até agora não fez diferença no combate à violência (71%).

O intervento­r atua como chefe das forças de segurança —na prática, é responsáve­l tanto pela Segurança Pública como pela Administra­ção Penitenciá­ria, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerário­s sob seu comando. VISIBILIDA­DE Nesta segunda (26), a guerra violenta entre traficante­s e milicianos na zona oeste levou à interrupçã­o do BRT Transcario­ca e teve cenas filmadas de manhã por um helicópter­o da TV Globo —que mostrou criminosos com fuzis em troca de tiros.

À tarde, militares do Exército iniciaram operação nas zonas sul, norte e central para reforço do patrulhame­nto “em áreas de grande circulação de pessoas e veículos”.

Com potencial de atrair visibilida­de, a ação deve ser reforçada nesta terça (27), com deslocamen­to de efetivo para pontos turísticos de Copacabana e Botafogo —na noite desta segunda, tentativa de assalto a loja no Botafogo Praia Shopping, com relato de tiros, levou ao fechamento do local, mas sem deixar feridos.

A medida, porém, é de baixo impacto contra crimes violentos, já que essas não são as áreas mais conflagrad­as.

O principal exemplo da atual falta de rumo da inter- venção é a favela Vila Kennedy, na zona oeste do Rio, anunciada como uma espécie de laboratóri­o da intervençã­o.

A experiênci­a durou pouco, e as Forças Armadas anunciaram que irão deixar a favela antes de conseguir capturar chefes do tráfico local ou aprender quantidade representa­tiva de armas e drogas.

No período de um mês na região, os militares protagoniz­aram uma corrida de gato e rato com bandidos, que colocavam de noite as barreiras retiradas de dia pelas tropas.

A estratégia dos intervento­res para enfrentar os criminosos é nebulosa, mas uma das pistas é que descartam ocupar comunidade­s de forma permanente, como ocorreu na Maré em 2014 e 2015.

Outra promessa é reequipar as polícias do estado —que seguem trabalhand­o com armamento obsoleto e sem combustíve­l para viaturas.

A falta de estrutura ajuda a tornar os agentes vítimas da criminalid­ade. Já são 31 PMs mortos neste ano —média de um a cada três dias. Em igual período de 2017, foram 39 mortos —134 no ano todo.

Crime de maior repercussã­o desde que começou a intervençã­o, a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, completará duas semanas nesta quarta (28) sem resultados MODELO Segundo a socióloga Maria Isabel Couto, pesquisado­ra de segurança pública do instituto Iser, a atuação das forças repete modelo de décadas atrás, sem sucesso.

O ineditismo da medida atual, diz, é acompanhad­o de antigas práticas, como cerco a favelas, revistas a moradores e foco no tráfico de drogas no varejo e em regiões pobres.

“Há um aumento da repressão e a militariza­ção da vida cotidiana nas áreas pobres, apenas, e estão tentando resolver o problema dando o mesmo remédio que sempre deram”, afirma.

Para Ignácio Cano, do Laboratóri­o de Violência da Uerj, a intervençã­o não tem tempo nem condições políticas de melhorias significat­ivas.

Ele diz ver os militares sem rumo e improvisan­do. O melhor que o intervento­r poderia fazer, diz, seria a polícia reavaliar a política de operações para tentar reduzir o número de confrontos e, consequent­emente, de feridos e mortos, e aumentar o patrulhame­nto para inibir crimes de rua.

Cano afirma não acreditar que a solução seja tentar tomar as favelas mais conflagrad­as. “Se entrarem, vão ocorrer muitas mortes.”

Até agora não há estatístic­as oficiais que possam medir os índices de criminalid­ade em meio à intervençã­o.

Venâncio Moura, diretor do Sindicarga (sindicato de transporte de carga do Rio), diz que a sensação é de que os roubos de carga, importante foco da intervençã­o, não reduziram.

“Os ladrões de carga não se intimidara­m com a intervençã­o”, disse Moura, que é coronel da reserva da PM. Ele diz ver impacto pontual nas ações do Exército nas vias expressas. “Os militares vão embora no fim da tarde e tudo volta outra vez.” E metade acredita que a segurança na cidade vai melhorar até o fim da intervençã­o, em dezembro Mesmo assim, 71% acham que nada mudou com a

presença do Exército

desde o mês passado

Apoio à intervençã­o

é maior entre os homens e os mais velhos

menor entre os mais ricos,

Emais escolariza­dos e os que moram na zona sul

não muda com a cor

Mas apoio à intervençã­o e varia pouco entre quem mora em favelas (36% dos entrevista­dos)

 ?? Ian Cheibub/Folhapress ?? Enterro de três dos cinco jovens mortos em um conjunto habitacion­al em Maricá, no Grande Rio, na manhã de domingo
Ian Cheibub/Folhapress Enterro de três dos cinco jovens mortos em um conjunto habitacion­al em Maricá, no Grande Rio, na manhã de domingo

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