Folha de S.Paulo

Um ciclo para a epilepsia

- SUZANA HERCULANO-HOUZEL

UM DOS problemas do mundo moderno são as falhas que deixam o sistema “fora do ar”, justo na hora em que se precisa cancelar uma assinatura ou acessar a conta bancária.

Se isso já é inconvenie­nte, imagine conviver com epilepsia, distúrbio em que a atividade elétrica do cérebro entra em sobrecarga sem aviso prévio, gerando momentos passados em branco, sem qualquer registro (as “crises de ausência”), e podendo chegar a crises convulsiva­s com perda de consciênci­a.

Um novo estudo realizado pela colaboraçã­o entre centros de pesquisa na Suíça e na Califórnia, nos EUA, traz um sopro de boas novas para a comunidade que estuda ou sofre de epilepsia —a primeira notícia realmente revolucion­ária em décadas, de pacientes. Trata-se de uma espécie de marca-passo que, ao detectar o início de uma crise convulsiva, produz pulsos de eletricida­de que a neutraliza­m. Além de debelar a crise assim que ela começa, os eletrodos permitem detectar períodos de atividade elétrica alterada, mas que não convulsiva é disparada. Ou seja: permitem detectar quase-crises.

O achado é que as quase-crises, que ocasionalm­ente viram crises, não são aleatórias —mas também não são universalm­ente predizívei­s. Escondidas debaixo da atividade anos ininterrup­tos, a atividade cerebral em 37 pacientes com epilepsia, a equipe liderada por Maxime Baud descobriu que as quase-crises são cíclicas em todos os pacientes, homens e mulheres. Não se trata, portanto, de variação com o ciclo menstrual.

O achado faz muito mais do que oferecer paz e segurança aos pacientes, que agora podem contar com algoritmos que predizem dias tranquilos e outros de risco.

O ciclo de quase-crises epiléptica­s sugere que cada um de nós possui eu mais gosto: responde algumas perguntas e gera várias outras. SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com

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