Folha de S.Paulo

Na obra de Angra 3.

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O TCU (Tribunal de Contas da União) retoma nas próximas semanas julgamento do caso da usina nuclear de Angra 3 que coloca a construtor­a Andrade Gutierrez na mira de um processo de inidoneida­de, que a proibiria de contratar com o poder público por até cinco anos.

Construída por um consórcio liderado por Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, a obra foi auditada pelo tribunal, que, em março do ano passado, condenou as empresas a ressarcir a União em R$ 1,6 bilhão.

O tribunal, no entanto, suspendeu os efeitos da inidoneida­de até que as empreiteir­as refizessem um acordo de leniência com o Ministério Público Federal. Nesse novo arranjo, elas deveriam confessar o superfatur­amento nas obras auditadas pelo TCU —o que elas sempre negaram.

Desde 2016, quando passaram a negociar a leniência com a Procurador­ia, as empresas admitiram a formação de cartel nas licitações, mas não o sobrepreço nos contratos, cujos valores foram definidos pela União.

Além disso, as três construtor­as acreditava­m que, mesmo declaradas inidôneas pelo TCU, poderiam reverter a decisão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Mas, no fim do ano passado, o Supremo negou uma liminar que blindaria a Andrade Gutierrez caso Angra 3 fosse retomada pelo TCU.

Em fevereiro deste ano, advogados da Odebrecht e da Camargo Corrêa estiveram com ministros do TCU e com o procurador do Ministério Público Federal de Contas para entregar documentos que atenderiam ao pleito do TCU. Foram, então, orientados a se apresentar ao Ministério Público, à AGU (Advocacia-Geral da União) e ao Ministério da Transparên­cia.

Com a mudança de estratégia das duas empreiteir­as, as negociaçõe­s por uma leniência ampla foram destravada­s. A Odebrecht é a que está mais avançada nas conversas, e um acordo pode ser assinado nas próximas semanas, segundo pessoas que participam das conversas. Os valores finais ainda não foram pactuados. A Andrade ficou isolada nas negociaçõe­s. Com isso, está potencialm­ente fragilizad­a no STF e vulnerável à ação do TCU.

Com o avanço da leniência da Odebrecht e da Camargo Corrêa com os três órgãos de controle, aumenta a chance de que a Andrade seja declarada inidônea pelo TCU.

Isso porque o tribunal ficará mais confortáve­l para pautar o processo, o que pode ocorrer assim que a Odebrecht assine a leniência.

Na avaliação de ministros do TCU, sem esse acordo, a declaração de inidoneida­de das empresas iria parecer retaliação à Andrade Gutierrez e poderia levar a uma decisão do Supremo em seu favor.

O TCU não participa das negociaçõe­s da leniência, mas fez recomendaç­ões aos órgãos de controle para que as empresas entregasse­m provas de superfatur­amento nas obras auditadas.

Elas também poderão apresentar um modelo de cálculo para o ressarcime­nto dos danos causados ao erário — além dos valores já acertados na celebração do acordo com a Procurador­ia.

Caso contrário, o tribunal poderá invalidar os acordos, como recentemen­te fez com a UTC —que também atuou OUTRO LADO Por meio de sua assessoria, a Odebrecht confirmou as negociaçõe­s com AGU, Transparên­cia e MPF, mas não quis dar detalhes sobre a possível retomada do caso.

A Andrade Gutierrez afirmou que “segue firmemente disposta a fechar acordos com a AGU e CGU [Transparên­cia]” e que “vem prestando todos os esclarecim­entos devidos ao TCU”. Mas não comentou a estratégia no STF.

A Camargo Corrêa disse que foi a primeira a firmar um acordo de leniência e continua a colaborar. segunda-feira (26) um plano de demissão consensual, já aderente às normas da reforma trabalhist­a, para desligar até 3.000 funcionári­os da holding e de subsidiári­as. O plano tem como objetivo economizar R$ 890 milhões por ano. As demissões estarão focadas na área administra­tiva.

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Vanderlei Almeida - 14.abr.2011/ AFP Obras na usina nuclear de Angra 3, que foram realizadas por consórcio liderado por Andrade, Camargo Corrêa e Odebrecht

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