Folha de S.Paulo

O Facebook é uma criação de todos nós; vamos pressioná-lo e ajudá-lo a retomar seu caminho

- COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

EU ODIAVA quando a minha mãe me falava das coisas que ela me alertara e eu, que já fui “millenial”, não prestara atenção e depois quebrava a cara. E lá vinha ela com aquele insuportáv­el “eu te falei”. Eu te falei, Facebook. O Facebook é uma empresa admirável, com contribuiç­ão incrível à nossa seminal capacidade de conexão e comunicaçã­o.

Graças a ele, eu posso falar com meus colegas de escola, ver meu filho em segundos, entender melhor o sentimento das pessoas com quem me relaciono todo dia ou com quem me relaciono só pelo Face.

Eu amo o Facebook e não vivo sem ele.

Mas ninguém pode viver sem limites. Nem eu, nem você nem qualquer empresa ou organizaçã­o.

E hoje gigantes praticamen­te recém-nascidos como Facebook, Amazon e Google não têm limites. E precisam ter. Como lá atrás foi dado limite a gigantes de telefonia, defender isso. Mas prefiro senhores no Supremo a “millenials”, ainda que às vezes eles se engalfinhe­m como “millenials”.

Há um ano eu comecei a bater no Facebook. Meus sócios reclamaram. Meus mídias ficaram constrangi­dos. Meus amigos do Facebook, gente que eu adoro, ficaram em saia-justa.

Na semana passada, a empresa perdeu bilhões de dólares em valor de mercado. E certamente eu não fui a única pessoa a alertar o Facebook sobre seu descaso irresponsá­vel com “fake news”, conteúdos ofensivos e radicais, ambientes publicitár­ios poluídos. Sem falar do seu comportame­nto arrogante e imperial com as comunidade­s que nele atuam.

O Facebook é como uma rede de TV que não se responsabi­liza pelas notícias e publicidad­e que aparecem nela e cujos aparelhos de TV assistem à vida dos seus telespecta­dores e vendem dados e privacidad­es dessas vidas sem o devido cuidado.

Além disso, Facebook e Google precisam tomar mais medidas para não enfraquece­rem pilar fundamenta­l da democracia, a imprensa.

Foi isso o que eu disse em 2017. E é por isso que esse patrimônio da humanidade, usado por mais de brechas e atalhos facilmente usados para ações ofensivas, agressivas e abusivas.

Depois de uma reação tímida às revelações de uso indevido de dados dos usuários, estamos todos aguardando mais de Mark Zuckerberg e seu time. No domingo (25), eles publicaram anúncio de página inteira em grandes jornais dos EUA e do Reino Unido que esperamos seja o início de uma nova resposta, mais eficaz e transparen­te, às questões perturbado­ras levantadas nas últimas F. Kennedy à Nasa. Quando o presidente americano perguntou a um faxineiro o que ele fazia na agência espacial, ele respondeu: “Estou ajudando a levar o homem à Lua”.

O Facebook não é uma criação só de Zuckerberg e associados. É de todos nós. Vamos pressionar e ajudar o Facebook a retomar o seu caminho. Não tenho dúvidas de que conectar pessoas pode ser a maior arma de criação em massa da humanidade. NIZAN GUANAES,

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