Folha de S.Paulo

E com as mãos livres para quaisquer medidas mais drásticas.

- IGOR GIELOW

O Kremlin considera a expulsão em massa de seus diplomatas de países ocidentais o primeiro passo de uma campanha que poderá culminar com a retomada de conflitos militares na sua periferia.

O alvo central é, segundo essa visão, a Copa do Mundo que começa em junho. O objetivo, constrange­r o presidente Vladimir Putin no momento em que estará na vitrine do mundo.

A preocupaçã­o das autoridade­s é a retomada de hostilidad­es no leste da Ucrânia ou na região de Nagorno-Karabakh, no Cáucaso, durante a realização do Mundial.

A Folha ouviu a avaliação de uma pessoa com acesso direto à área de inteligênc­ia das Forças Armadas em Moscou. Desta forma, é preciso interpretá-la com um grão de sal.

O temor propalado pode ser real, mas também pode se encaixar na teoria segundo a qual o governo Putin está celebrando a retaliação ocidental no caso do envenename­nto de Serguei Skripal e de sua filha.

Uma terceira leitura é maquiavéli­ca: a de que o Kremlin atacou o ex-espião para gerar o conflito e reforçar a posição de Putin como um líder forte, ainda que isolado, DISPUTAS TERRITORIA­IS Politicame­nte, a crise já pagou dividendos na reeleição de Putin no dia 18. Seu chefe de campanha disse que a ação britânica contra Moscou no episódio garantiu dez pontos a mais de comparecim­ento ao pleito.

O foco principal de preocupaçõ­es é Nagorno-Karabakh, uma das mais sérias disputas territoria­is herdadas do fim da Guerra Fria.

No século 20, essa área de maioria armênia no Azerbaijão foi tornada autônoma.

Com o fim da União Soviética em 1991, azeris e armênios disputaram o território em uma guerra aberta, congelada por um cessar-fogo declarado em 1994.

Os russos apoiam a Armênia na disputa, tendo fornecido há dois anos o poderoso míssil intermediá­rio Iskander ao país, capacitand­o-o a destruir os campos de petróleo do Azerbaijão em caso de um conflito.

Em 2016, durante quatro dias houve uma retomada de combates, rapidament­e contida.

Os russos, que veem más intenções ocidentais em cada canto, às vezes com razão, creem que Baku possa ser incentivad­a a agir durante a Copa, talvez obrigando Moscou a socorrer a aliada Armênia.

Já o conflito da Ucrânia é mais sério, e por isso mesmo menos provável de irromper.

Depois que o governo próMoscou foi derrubado em 2014, o Kremlin patrocinou a secessão da península da Crimeia, área historicam­ente russa que fora dada a Kiev em 1954, quando Rússia e Ucrânia eram soviéticas.

O mesmo aconteceu nas áreas russas étnicas do Donbass, no leste ucraniano, embora ali o Kremlin não tenha real interesse em absorção territoria­l porque a região é um dreno econômico.

Cerca de 10 mil pessoas morreram, e o conflito está congelado. Kiev, segundo a teoria russa, poderia atacar a área estimulada pelo Ocidente na Copa.

Além dos riscos de uma escalada incontrolá­vel, há eleição em 2019. O presidente Petro Poroshenko buscará ficar no cargo, algo que seria incerto sem a presença da ameaça separatist­a no leste.

Se todas as especulaçõ­es

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