VELHA INFÂNCIA
Musicais ‘A Noviça Rebelde’ e ‘A Pequena Sereia’ estreiam em São Paulo recorrendo à memória afetiva de clássicos infantojuvenis
DE SÃO PAULO
Seja nas notas singelas de “Dó-Ré-Mi” ou no canto de uma pequena sereia da Disney, musicais que chegam a São Paulo nesta semana buscam reavivar a memória de clássicos infantojuvenis.
Charles Möeller e Claudio Botelho não só resgatam uma obra de renome mas também revisitam a sua própria história em “A Noviça Rebelde”, que estreia nesta quarta (28).
É a segunda vez que os encenadores se debruçam sobre o musical de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein —a primeira foi há exatos dez anos.
Agora, dizem, investiram no lado mais humano dos personagens, buscando reflexos da verdadeira família Von Trapp, na qual a história é baseada.
Maria Kutschera foi de fato uma noviça enviada a cuidar dos sete filhos do viúvo barão Von Trapp em sua mansão em Salzburgo. Depois casou-se com o patriarca e fez da família um coral de renome. Fugiram da ocupação nazista da Áustria, em 1938, em direção aos EUA, sempre passando por altos e baixos financeiros.
A austríaca versou a história num livro de memórias, que figurou na lista de bestsellers e depois virou o filme alemão “A Família Trapp” (1956), também de sucesso.
Mas foi o musical da Broadway “A Noviça Rebelde” (1959), adaptado seis anos depois ao cinema, que impulsionou a história dos Von Trapp —o filme é ainda hoje a terceira maior bilheteria da história dos EUA, em valores corrigidos, segundo o site Box Mojo.
Seria uma peça com músicas tradicionais, como as que cantavam a família original, mas Rodgers e Hammerstein, respectivamente compositor e letrista, viram potencial para um musical, diz à Folha Ted Chapin, que há 30 anos preside as organizações da dupla.
Segundo ele, Rodgers e Hammerstein “eram bons homens de negócio”. Fizeram na primeira metade do século 20 algo até então sem precedentes: administrar, eles mesmos, os direitos autorais de sua obra, que abrange de “Oklahoma!” a “O Rei e Eu”.
Em “A Noviça Rebelde”, não se prenderam à realidade, açucarando a história dos Von Trapp. Também criaram músicas joviais e fáceis.
“Eles sabiam ser simples, mas nunca simplistas. Não complicavam o que não precisava de rebuscamento”, afirma Chapin. “E as músicas deles sempre têm um toque do local que é retratado.”
Tanto que “Edelweiss”, referência à flor branca que nasce nas montanhas em meio à neve, é tida por muitos como um hino austríaco, quando na verdade foi criada pela dupla de americanos, explica Botelho, que assina as versões em português das canções.
“É uma metáfora linda de resistência”, continua Möeller. “E, quando ‘A Noviça Rebelde’ estreou, o eco do nazismo ainda era muito forte.”
Na sua nova versão, Möeller e Botelho também retomam parte do elenco de 2008, mas em papéis diferentes.
Malu Rodrigues, 24, que antes interpretava a filha Louisa, agora viverá a protagonista Maria. Como tem uma idade próxima à da personagem (geralmente as atrizes são mais velhas), diz trazer “uma coisa moleca” ao papel.