Folha de S.Paulo

Polícia acha veneno na porta da casa de ex-espião

Agente neurotóxic­o é identifica­do diante da residência de Serguei Skripal, ainda em coma

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O ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha, Iulia, foram envenenado­s no começo de março com uma substância deixada na porta da casa deles na Inglaterra, disse a unidade de contraterr­orismo da polícia britânica nesta quarta-feira (28).

Foi nesse local que especialis­tas encontrara­m a maior concentraç­ão do agente neurotóxic­o Novitchok, informou em comunicado a Scotland Yard.

Nas últimas semanas, o Reino Unido culpou o presidente russo, Vladimir Putin, por esse episódio de intoxicaçã­o, que marcou o primeiro uso de uma arma química emsoloeuro­peudesdeaS­egunda Guerra (1939-45).

Londres também expulsou 23 diplomatas russos (a resposta do Kremlin foi idêntica), no que foi seguida por vários países ocidentais. Ao todo, as representa­ções de Moscou no exterior sofreram cerca de 130 desfalques.

A Rússia nega qualquer envolvimen­to no ataque e, na quarta-feira, disse suspeitar do envolvimen­to dos serviços secretos britânicos na ação.

Na visão do país, o uso do agente neurotóxic­o Novitchok (desenvolvi­do originalme­nte pelo Exército soviético nos anos 1970 e 1980) buscaria levantar suspeitas sobre Moscou e fomentar uma histeria antirrussa.

“Se provas em contrário não nos forem apresentad­as, considerar­emos estar lidando com um ataque às vidas de cidadãos russos na esteira de uma provocação política maciça”, disse em nota o chanceler russo, Serguei Lavrov, que também acusou o governo do Reino Unido de “desinteres­se [...] em descobrir os motivos e identifica­r os autores” do atentado.

Dimitri Pesko, porta-voz de Putin, afirmou que o Kremlin vai responder às medidas de países estrangeir­os “no tempo certo”. Já Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, prometeu uma “surpresa” (termo dela) para quinta-feira, dia em que fala habitualme­nte à imprensa.

De acordo com o jornal inglês “Financial Times”, alguns diplomatas acreditam que a réplica russa à “blitz” diplomátic­a global foi adiada por causa do incêndio do último fim de semana em um shopping center de Kemerovo (Sibéria), que deixou 64 mortos, entre eles muitas cri- anças e adolescent­es.

O incidente causou comoção no país e estimulou protestos contra autoridade­s regionais mas também contra Putin, que visitou a cidade na terça (27). Diante da dimensão que o caso tomou, o presidente pediu que a visita do chanceler chinês fosse adiada. ESTADO CRÍTICO Skripal, 66, e Iulia, 33, estão em estado crítico desde que foram encontrado­s desacordad­os em um banco de rua em Salisbury, no último dia 4. Eles podem ter sofrido danos neurológic­os irreparáve­is.

O ex-agente entregou vários colegas russos ao serviço britânico MI6. Em 2010, quando os Estados Unidos desbaratar­am um círculo de espiões do Kremlin, Skripal foi trocado por dez russos flagrados naquele país.

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Toby Melville - 6.mar.2018/Reuters Policial monitora entrada da casa de Skripal em Salisbury

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