Folha de S.Paulo

A solidão do novo ministro da Fazenda

- VIN ICIUS TORRES FREIRE

O CONGRESSO tem dado pouca bola para os projetos econômicos de Michel Temer, até porque o núcleo político do governo está ocupado com outros assuntos, mas não apenas por isso. O novo ministro da Fazenda terá vida muito mais dura do que Henrique Meirelles, isso se não for abandonado pelo Planalto e ignorado pelos parlamenta­res.

O novo titular da Fazenda deve ser Eduardo Guardia, ora vice de Meirelles, tido como desafeto da massa média parlamenta­r, por bons motivos. Goste-se ou não do que pensa Guardia, o hoje ainda secretário-executivo tenta evitar que arrombem as portas da Fazenda.

Haveria problema, porém, com qualquer ministro que tente evitar um barata-voa fiscal e aprovar medidas econômicas, em particular as que limitem o número de cargos de indicação política e aumentem a tributação de empresas e ricos. Guardia parece meio frito, lideranças na Câmara. base [coalizão governista] porque o governo não tem mais base. Rachou tudo por causa da eleição”. O provável novo ministro da Fazenda até poderia contar com a boa vontade de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, dizem parlamenta­res. Isto é, se Maia der um tempo nos assuntos eleitorais, em abril e maio, e não sentir muita rejeição aos projetos do governo.

O Congresso estaria fora de controle, pois, e cada voto em cada em termos eleitoreir­os, mesmo lunáticos. Há quem chegue a dizer que Guardia é da turma de Geraldo Alckmin, pois o provável ministro foi secretário da Fazenda de São Paulo no início do século. Logo, não se pode dar refresco para um tucano enrustido em ano eleitoral.

Além desses motivos mais dementes, o Congresso tende a barrar medidas da agenda econômica do governo porque não quer fazer inimigos destino a reoneração (grosso modo, cobrança maior de contribuiç­ões previdenci­árias patronais).

A reforma das leis das agências reguladora­s, um projeto de agrado de Maia, irrita o Congresso porque restringir­ia a nomeação de políticos para suas diretorias. A privatizaç­ão da Eletrobras sobe cada vez mais alto no telhado.

Outros muitos projetos ficaram estacionad­os na Casa Civil. Depois da “jogada de mestre” da intervençã­o no Rio, que enterrou a reforma da Previdênci­a, os incentivos para largar as mudanças econômicas as traças ficaram evidentes. Alguns assuntos devem voltar a andar na “janela” entre as filiações onde também foi secretário do Tesouro no final dos anos FHC, além de ter auxiliado Alckmin. Antes de voltar ao governo, passou anos na direção da agora B3, ex-BM&F. Mas é um tipo que em Brasília se chama de “técnico” (leva seus assuntos a sério) e, para piorar, “frio” como a recepção que terá no Congresso. vinicius.torres@grupofolha.com.br

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