Folha de S.Paulo

Sucessão estadual ameaça travar apoio de Bruno Covas na Câmara

Temor da prefeitura é que vereadores aliados de vice de Alckmin votem ao lado da oposição

- ARTUR RODRIGUES GUILHERME SETO

Márcio França, do PSB, será adversário de João Doria, do PSDB, na disputa pela sucessão do governo de São Paulo

Quando assumir a Prefeitura de São Paulo a partir de 7 de abril, o atual vice Bruno Covas (PSDB) deve enfrentar mais problemas para aprovar projetos na Câmara Municipal do que o atual prefeito, o também tucano João Doria.

O principal motivo é o racha na sucessão estadual, com a disputa entre Doria e o hoje vice-governador Márcio França (PSB), que assumirá o Palácio dos Bandeirant­es nos próximos dias com a saída de Geraldo Alckmin (PSDB) para a eleição presidenci­al.

A coligação de França para as eleições ao governo deve incluir partidos que, hoje, somam 18 vereadores, dos 55 da Câmara. Além disso, a prefeitura já tem uma oposição fixa de 11 vereadores, sendo nove do PT e dois do PSOL.

Segundo esse cenário, Co- vas teria uma base de, no máximo, 26 vereadores, número insuficien­te até para aprovar um simples projeto de lei. O que não se sabe ainda é se os vereadores de partidos coligados com Marcio França irão boicotar os projetos de interesse de Covas (e ainda de Doria) na Câmara Municipal.

Bruno já atua hoje como articulado­r político de Doria na Câmara. Ele assumiu a Casa Civil, depois de ser retirado pelo prefeito do comando da Secretaria das Prefeitura­s Regionais diante de problemas de zeladoria na cidade.

Entre os projetos importante­s a serem avaliados pelos vereadores no início de gestão de Covas estão as privatizaç­ões de Anhembi e Interlagos e algumas mudanças na lei de zoneamento.

Vereadores da base e integrante­s da prefeitura viram dedo de França na derrota em relação à reforma da previdênci­a municipal, que acabou congelada na Câmara após pressão de servidores.

Para João Jorge (PSDB), líder do governo na Casa, França teria atuado diretament­e para que os vereadores de partidos de sua coligação não apoiassem o projeto.

“Ele tem falado com prefeitos do interior de São Paulo que são do PSDB e tem feito promessas em troca de apoio, então acredito que esteja fazendo o mesmo com os vereadores”, diz Jorge.

“Ele acha que, assim, está prejudican­do o Doria, mas, na verdade, está prejudican­do a municipali­dade”, completa.

Desde meados de 2017, quando Doria já indicava pretensões eleitorais para além da prefeitura, França demonstrav­a desagrado. Em agosto, o vice de Alckmin se reuniu com vereadores de sua legenda para dizer que eles não tinham mais a obrigação de votar com o tucano na Câmara.

O vereador José Police Neto (PSD), que faz parte da base aliada na Câmara e é précandida­to ao Senado, diz que Covas tem se saído bem na articulaçã­o política, mas agora pode encontrar uma situação diferente, em um momento em que vários projetos da ges- tão exigem maioria qualificad­a de 37 votos, como as mudanças no zoneamento.

“Pode ser uma dificuldad­e, sim, na construção de maioria quanto você tiver propostas distintas do governo do estado caminhando paralelame­nte. A base pode passar a ser menos acessível”.

Também parte da base e de partido que deve apoiar o PSB nas eleições estaduais, Adilson Amadeu (PTB) diz que pretende continuar votando com a prefeitura. Mas admite que a base pode ser afetada.

“Se já está difícil agora, talvez fique mais ainda. Acredito que o governo [de Covas] vai chamar um a um para saber quem fica [na base].”

No dia-a-dia da articulaçã­o política de Doria, vereadores da base dizem que Bruno costuma ser solícito e retorna as ligações com rapidez.

No entanto, já deu mostras de que pode jogar pesado. Logo que assumiu a Casa Civil, em novembro, o vice de Doria esteve à frente da demissão de indicados políticos ligados ao PRB, partido que vinha dificultan­do a vida do governo municipal nas votações de projetos relacionad­os a privatizaç­ões. PROJETOS PRIORITÁRI­OS PARA A PREFEITURA EM 2018 Privatizaç­ão do Anhembi

foi aprovado em 2017, mas ainda depende de aprovação de projeto de lei que altera o zoneamento da região

37

em dois turnos (para a alteração do zoneamento) Privatizaç­ão de Interlagos

foi aprovado em primeira votação em 2017 e precisa passar por segunda votação; depois, ainda dependerá de aprovação de projeto de lei que altera caracterís­ticas do zoneamento na região

28

Reforma da previdênci­a municipal

Prefeitura enviou projeto em dez.2017, mas ele foi retirado da pauta por 4 meses para estudo após sofrer forte oposição de servidores

28

Flexibiliz­ação da lei de zoneamento

ainda não foi finalizado; prefeitura quer enviá-lo à Câmara até junho e espera que ele seja aprovado até o fim do ano

37

na segunda votação em dois turnos em dois turnos

 ?? Jorge Araujo - 23.ago.2017/Folhapress ?? Bruno Covas, que assumirá a prefeitura com a saída de Doria
Jorge Araujo - 23.ago.2017/Folhapress Bruno Covas, que assumirá a prefeitura com a saída de Doria

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