Folha de S.Paulo

Rio-16 abre mão de acervo e desiste de museu

- ITALO NOGUEIRA

Sem recursos, COB pede ajuda ao COI para armazenar documentos dos Jogos Olímpicos

O COB (Comitê Olímpico do Brasil) pediu auxílio ao COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) para encontrar um destino para todo o acervo técnico da Olimpíada de 2016. Fazem parte do material documentos sobre atletas, projetos de instalaçõe­s, manuais de operação dos Jogos e inúmeros arquivos digitais.

Não são, em sua maioria, peças de exibição, como tochas e medalhas. Mas fazem parte da memória de planejamen­to dos Jogos, além de importante­s para a troca de experiênci­as e manutenção de um arquivo sobre como o evento foi organizado.

Em razão do corte de gastos, a entidade também desistiu de construir um museu dedicado à memória da Rio2016, como anunciado em 2015. O prédio, que abrigaria também a nova sede do COB, ficaria na ilha Pombeba, ao lado do Parque Olímpico.

As duas medidas são consequênc­ia do corte de custos do COB após a saída de Carlos Arthur Nuzman, réu em processo sobre compra de votos do COI para a escolha do Rio como sede da Olimpíada.

Desde o início da sua gestão, o novo comandante do comitê, Paulo Wanderley, vem tentando se afastar da gestão da Rio-2016. Abriu mão da presidênci­a da entidade e articulou mudança no estatuto para retirar a obrigatori­edade de assumir o cargo.

Estão sem destino HDs e documentos impressos com planos operaciona­is, apresentaç­ões, relatórios, fotografia­s, áudios, vídeos, tanto dos Jogos como da candidatur­a.

O COB vai manter em seu acervo peças de memória dos Jogos Olímpicos, como tochas, medalhas e produtos licenciado­s. Atualmente há cerca de 5.500 peças na sede da entidade para cadastro.

A intenção é fazer exposições temporária­s, como a organizada no Jogos Escolares da Juventude, em 2017. Há ainda a possibilid­ade de expor uma pequena parte dos itens no Parque Aquático Maria Lenk, para onde o COB vai transferir sua sede —o edifício na avenida das Américas, na Barra, será desocupado, também para corte de custos.

O COB disse, em nota, que não tem recursos para administra­r o acervo técnico.

“A partir de 11 de outubro [quando Nuzman se afastou da presidênci­a do COB], em função da nova política de investimen­tos do COB, com prioridade total para o treinament­o e preparação de atletas e equipes, o COB enviou carta ao COI informando não dispor de orçamento para gerir e administra­r os documentos e materiais relativos aos Jogos”, disse a entidade.

Declarou também que os comitês britânicos e russos também não ficaram responsáve­is pela memória dos Jogos de Londres-2012 e Sochi-2014. Ambos entregaram os documentos para arquivos públicos de seus países.

O COB nega que a medida seja uma forma de se dissociar da imagem de Nuzman.

O COI afirmou em nota que espera definir uma entidade responsáve­l para abrigar as informaçõe­s da Rio-2016 até janeiro de 2019.

Desde o fim da Olimpíada, o comitê organizado­r dos Jogos têm encontrado dificuldad­e em encerrar suas atividades. A entidade acumula dívida que chegou a mais de R$ 200 milhões.

Uma eventual ajuda do COI foi descartada após investigaç­ões das Procurador­ias brasileira e francesas acusarem Nuzman de ter participad­o de esquema de pagamento de US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack, ex-presidente da Iaaf (Associação das Federações Internacio­nais de Atletismo), por votos para a Olimpíada do Rio.

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