Fábula maniqueísta da Disney se perde com discurso edificante em excesso
FOLHA
Esta superprodução é o primeiro filme dos estúdios Disney feito com a intenção deliberada de dar mais espaço às minorias, consequência direta da polêmica racial levantada na cerimônia do Oscar de 2016. A presença de afroamericanos começa com a diretora Ava DuVernay e é forte no elenco, aliás, majoritariamente feminino.
Adaptado do romance homônimo de Madeleine L’Engle —publicado em 1962 e popular até hoje nos EUA—, o filme conta a epopeia de Meg (Storm Reid), uma adolescente afro-americana que viaja pelo espaço-tempo ao lado do irmão adotivo Charles Wallace (Deric McCabe) em busca do pai, um astrofísico que sumiu quatro anos antes ao fazer misteriosas experiências.
Na viagem iniciática de Meg, três seres sobrenaturais —verdadeiras fadas intergalácticas de aspecto extravagante, as senhoras Qual (Oprah Winfrey), Queé (Reese Witherspoon) e Quem (Mindy Kaling)– a ajudam a encontrar o pai em um mundo distante, no qual a garota enfrenta uma força maligna.
Mas essa típica fábula maniqueísta e cheia de peripécias que mistura ficção científica e fantasia não cumpre o que promete. O principal responsável pelo fracasso é o roteiro.
Uma de suas fraquezas é o discurso repleto de boas intenções sobre a importância do amor, da união entre as pessoas, sobre o papel que cada um tem a desempenhar neste mundo e outras banalidades edificantes. A onipresença dessa mensagem, que sai da boca de vários personagens, faz com que soe forçada.
Mais grave é a inépcia para construir a narrativa. O contexto familiar de Meg é apresentado de modo truncado, com constantes flashbacks, prejudicando o ritmo e a caracterização dos personagens, sobretudo Meg. Também não ajuda a atuação de Storm Reid, que enfatiza as emoções sem muita sutileza.
Os personagens não têm densidade alguma, o que não favorece a identificação ou a empatia. A figura mais frágil é Calvin (Levi Miller), o colega de escola de Meg que se junta à aventura sem que saibamos muito bem as razões. Ele também parece não saber.
Tampouco são dadas maiores contextualizações sobre o “tesseract”, o expediente que lhes permite percorrer o espaço-tempo, que é simplesmente jogado pelo roteiro como se fosse algo comum.
A parte visual também não funciona. Os efeitos são vistosos, mas essa avalanche de pirotecnia é bastante desigual em termos de qualidade, revelando-se impotente para maravilhar ou despertar a imaginação do espectador. (A WRINKLE IN TIME) DIREÇÃO Ava DuVernay ELENCO Storm Reid, Oprah Winfrey e Reese Witherspoon PRODUÇÃO EUA, 2018, 10 anos QUANDO estreia nesta quinta (29) AVALIAÇÃO ruim
FOLHA,
Pouco mais de um mês após seu elogiado e politizado discurso no Globo de Ouro, Oprah Winfrey está semideitada numa cadeira, de pernas para o ar. Uma garota nos seus 20 e poucos anos troca os sapatos dela por tênis e começa a lacear o calçado.
Não é o tipo de imagem que a apresentadora, atriz, produtora e empresária bilionária costuma passar, ainda mais com sendo cotada para uma eleição presidencial nos EUA.
“Não sei por que tem uma pessoa laceando meus sapatos”, adianta-se a bem-humorada Oprah ao notar a reportagem da Folha. “Acabei de perceber que isso está acontecendo e há um repórter na sala. Não é algo normal. Não sou uma diva que tem alguém para amarrar os sapatos.”
As atrizes Mindy Kaling e Reese Witherspoon, que compõem junto com Oprah a tríade de entidades sábias do longa, também estão na sala. “São confortáveis ou apenas bonitos?”, desconversa Mindy. “Estou sempre maravilhada por essas duas mulheres. Sempre me fizeram sentir como se não houvesse uma hierarquia nas filmagens.”
Se existisse, certamente no topo da cadeia alimentar estaria Ava DuVernay (“Selma”), primeira diretora negra a comandar um filme com orçamento de US$ 100 milhões. Ou Storm Reid, atriz de 14 anos que faz o papel de Meg, garota insegura e inteligente que sofre com o desaparecimento do pai e parte numa jornada celestial para encontrá-lo.
O papel pode ser o primeiro de cinco em uma série inspirada nas obras da escritora norte-americana Madeleine L’Engle, iniciada em 1962. “Li