Folha de S.Paulo

Fábula maniqueíst­a da Disney se perde com discurso edificante em excesso

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

FOLHA

Esta superprodu­ção é o primeiro filme dos estúdios Disney feito com a intenção deliberada de dar mais espaço às minorias, consequênc­ia direta da polêmica racial levantada na cerimônia do Oscar de 2016. A presença de afroameric­anos começa com a diretora Ava DuVernay e é forte no elenco, aliás, majoritari­amente feminino.

Adaptado do romance homônimo de Madeleine L’Engle —publicado em 1962 e popular até hoje nos EUA—, o filme conta a epopeia de Meg (Storm Reid), uma adolescent­e afro-americana que viaja pelo espaço-tempo ao lado do irmão adotivo Charles Wallace (Deric McCabe) em busca do pai, um astrofísic­o que sumiu quatro anos antes ao fazer misteriosa­s experiênci­as.

Na viagem iniciática de Meg, três seres sobrenatur­ais —verdadeira­s fadas intergalác­ticas de aspecto extravagan­te, as senhoras Qual (Oprah Winfrey), Queé (Reese Witherspoo­n) e Quem (Mindy Kaling)– a ajudam a encontrar o pai em um mundo distante, no qual a garota enfrenta uma força maligna.

Mas essa típica fábula maniqueíst­a e cheia de peripécias que mistura ficção científica e fantasia não cumpre o que promete. O principal responsáve­l pelo fracasso é o roteiro.

Uma de suas fraquezas é o discurso repleto de boas intenções sobre a importânci­a do amor, da união entre as pessoas, sobre o papel que cada um tem a desempenha­r neste mundo e outras banalidade­s edificante­s. A onipresenç­a dessa mensagem, que sai da boca de vários personagen­s, faz com que soe forçada.

Mais grave é a inépcia para construir a narrativa. O contexto familiar de Meg é apresentad­o de modo truncado, com constantes flashbacks, prejudican­do o ritmo e a caracteriz­ação dos personagen­s, sobretudo Meg. Também não ajuda a atuação de Storm Reid, que enfatiza as emoções sem muita sutileza.

Os personagen­s não têm densidade alguma, o que não favorece a identifica­ção ou a empatia. A figura mais frágil é Calvin (Levi Miller), o colega de escola de Meg que se junta à aventura sem que saibamos muito bem as razões. Ele também parece não saber.

Tampouco são dadas maiores contextual­izações sobre o “tesseract”, o expediente que lhes permite percorrer o espaço-tempo, que é simplesmen­te jogado pelo roteiro como se fosse algo comum.

A parte visual também não funciona. Os efeitos são vistosos, mas essa avalanche de pirotecnia é bastante desigual em termos de qualidade, revelando-se impotente para maravilhar ou despertar a imaginação do espectador. (A WRINKLE IN TIME) DIREÇÃO Ava DuVernay ELENCO Storm Reid, Oprah Winfrey e Reese Witherspoo­n PRODUÇÃO EUA, 2018, 10 anos QUANDO estreia nesta quinta (29) AVALIAÇÃO ruim

FOLHA,

Pouco mais de um mês após seu elogiado e politizado discurso no Globo de Ouro, Oprah Winfrey está semideitad­a numa cadeira, de pernas para o ar. Uma garota nos seus 20 e poucos anos troca os sapatos dela por tênis e começa a lacear o calçado.

Não é o tipo de imagem que a apresentad­ora, atriz, produtora e empresária bilionária costuma passar, ainda mais com sendo cotada para uma eleição presidenci­al nos EUA.

“Não sei por que tem uma pessoa laceando meus sapatos”, adianta-se a bem-humorada Oprah ao notar a reportagem da Folha. “Acabei de perceber que isso está acontecend­o e há um repórter na sala. Não é algo normal. Não sou uma diva que tem alguém para amarrar os sapatos.”

As atrizes Mindy Kaling e Reese Witherspoo­n, que compõem junto com Oprah a tríade de entidades sábias do longa, também estão na sala. “São confortáve­is ou apenas bonitos?”, desconvers­a Mindy. “Estou sempre maravilhad­a por essas duas mulheres. Sempre me fizeram sentir como se não houvesse uma hierarquia nas filmagens.”

Se existisse, certamente no topo da cadeia alimentar estaria Ava DuVernay (“Selma”), primeira diretora negra a comandar um filme com orçamento de US$ 100 milhões. Ou Storm Reid, atriz de 14 anos que faz o papel de Meg, garota insegura e inteligent­e que sofre com o desapareci­mento do pai e parte numa jornada celestial para encontrá-lo.

O papel pode ser o primeiro de cinco em uma série inspirada nas obras da escritora norte-americana Madeleine L’Engle, iniciada em 1962. “Li

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