Emagrecedor, viagra paraguaio e ‘bomba’ lideram apreensões
Medicamentos que chegam ao Brasil sem origem garantida podem ser inócuos ou tóxicos
A PRF também já apreendeu remédios dentro de lixeiras de ônibus, caixas de som, para-choques de carros, embalagens de batata frita e sacos de grãos.
“Esses ilícitos passam pela estação aduaneira em pequenas quantidades e são acumulados em algum depósito, para serem introduzidos em meio a cargas já em território nacional”, diz o inspetor Luiz Antônio Gênova, chefe da delegacia da PRF em Foz do Iguaçu. VÍTIMA DE SIBUTRAMINA Sem conseguir receita médica para comprar de maneira legal a sibutramina, medicação usada no tratamento de obesidade, a técnica em enfermagem Veronica Moreira, 32, apelou para a versão contrabandeada do Paraguai.
“Eu não queria saber de onde vinha, eu só tinha o sonho de ser magra”, diz ela, que engordou 26 quilos depois da gravidez em 2009.
Por oito anos, Veronica encomendou o medicamento de um contrabandista que trazia diferentes tipos de produtos de Salto del Guairá, no Paraguai. Ele fazia a entrega em sua casa em Centenário do Sul, no norte do Paraná.
No começo, o remédio deu resultado, mas logo Veronica parou de emagrecer. Não teve dúvidas: aumentou a dose por conta própria. Depois de tomar 40 mg de sibutramina (a dose máxima diária é de 15 mg) foi parar no hospital com fortes dores no peito.
Mesmo assim, só conseguiu interromper o uso do medicamento paraguaio anos depois, no começo de 2017. “É como o craque. O corpo não consegue viver sem”, diz.
No Brasil, a venda de sibutramina exige receituário azul, de controle especial. Isso é importante para garantir o uso correto da medicação e apenas por pacientes que têm indicação para fazêlo, segundo Alexandre Hohl, vice-presidente da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Apesar disso, a sibutramina paraguaia pode ser comprada em sites irregulares na internet, assim como remédios para disfunção erétil e anabolizantes —que oferecem ainda mais risco à saúde. “O anabolizante pode causar desde acne até infertilidade e morte”, afirma Hohl.
Também não é difícil encontrar medicamentos contrabandeados em ruas de comércio popular. A Folha flagrou a venda de Pramil, conhecido como “Viagra paraguaio”, por ambulantes na rua Barão de Duprat, em frente ao shopping Mundo Oriental, na região da 25 de Março, em São Paulo.
A comercialização do remédio, que tem o mesmo princípio ativo do Viagra (cidrato de sildenafila) e é produzido pelo laboratório paraguaio Novophar, foi proibida pela Anvisa em 2002. “A pessoa compra pelo preço, mas, o que está tomando, ninguém sabe”, afirma Carlos Da Ros, coordenador do departamento de sexualidade e reprodução da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia).