Folha de S.Paulo

PF prende amigos de Temer em investigaç­ão sobre portos

Yunes e coronel Lima, próximos do presidente, estão entre alvos de operação

- FÁBIO FABRINI LETÍCIA CASADO

Ação foi autorizada por Barroso, do STF, que vê esquema de 20 anos com vantagens a firmas em troca de repasses

Uma operação da Polícia Federal fechou o cerco a Michel Temer com a prisão, nesta quinta (29), de dois amigos do círculo mais próximo do presidente, entre outras pessoas ligadas a ele.

Detidos em São Paulo, o coronel João Baptista Lima Filho e o advogado José Yunes são suspeitos de receber propinas e de atuar como “laranjas” do emedebista em suposto esquema de favorecime­nto a empresas do setor portuário.

A ação foi autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, relator do inquérito que investiga se Temer recebeu vantagens em troca da edição do decreto que renovou concessões portuárias em 2017. Ele expediu mandados de prisão temporária (até cinco dias, prorrogáve­is) contra outras 11 pessoas, incluindo antigos aliados de Temer, como o ex-ministro da Agricultur­a Wagner Rossi (MDB-SP), e empresário­s.

Em sua decisão, assinada na terça (27), Barroso disse haver indícios de “um esquema contínuo de concessão de benefícios públicos, em troca de recursos privados, para fins pessoais e eleitorais, que persistiri­a por mais de 20 anos no setor de portos, vindo até os dias de hoje”.

O Palácio do Planalto já esperava uma nova investida da PF no inquérito, mas não dessa magnitude. Para aliados, uma ação contra tantos alvos, e tão próximos do presidente, sinaliza que a investigaç­ão poderá extrapolar a questão dos portos e apurar agora possíveis crimes em outras áreas da administra­ção, como o setor elétrico e a Agricultur­a. Além disso, cristalizo­u-se o temor de que o emedebista seja alvo de uma nova denúncia, a terceira, o que compromete ainda mais seus planos de reeleição.

Escalado pelo Planalto para defender Temer, o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo) disse que o presidente tornou-se alvo de “canhões da conspiraçã­o”. Já Temer afirmou que seu cargo é alvo de bombardeio­s.

A operação, batizada de Skala, teve como alvos atores de pontas distintas da investigaç­ão sobre Temer. Ex-presidente da Codesp (Companhia Docas de São Paulo) entre 2000 e 2001, Rossi foi citado pelo empresário Joesley Batista, delator da JBS, como beneficiár­io de um mensalinho solicitado pelo presidente. Amigo e ex-assessor do emedebista, Yunes foi mencionado por colaborado­res da Odebrecht como intermediá­rio de repasses ilegais de campanha ao MDB, supostamen­te acertados com o então vice-presidente em 2014.

Ao justificar a ação, Barroso citou planilha de 1998, em que aparecem como recebedore­s de recursos das empresas Libra, Rodrimar e Multicargo siglas que, para o ministro, permitem “supor que se trate de Temer, Marcelo Azeredo, presidente da Codesp entre 1995 e 1998, indicado por ele, e o amigo pessoal do senhor presidente João Baptista Lima Filho”. O documento consta de inquérito que foi desarquiva­do e juntado aos autos da operação (leia mais abaixo). REFORMA A operação também se baseou nos negócios de Lima com o governo e com o próprio Temer. Barroso escreveu que uma das empresas do coronel, a Argeplan, teve um cresciment­o exponencia­l nos últimos 20 anos, recebendo R$ 160 milhões de um contrato com a Eletronucl­ear para obras na usina de Angra 3.

Mulher do coronel e sócia dele na LDA Projeção e Direção, a arquiteta Maria Rita Fratezi foi intimada a depor. A empresa foi a responsáve­l por reforma na casa de uma das filhas do presidente, Maristela Temer. O caso foi revelado pela Folha. “Há informaçõe­s sobre pagamentos de alvos valores em espécie”, justificou a PF.

Também houve mandados de prisão contra os empresário­s Antônio Celso Grecco, do grupo Rodrimar, suspeito de pagar propina a Temer pela edição do decreto que renovou concessões portuárias; e três integrante­s da família Torrealba, dona do grupo Libra, que fizeram doações eleitorais ao MDB.

A PF apura possível vínculo entre essas contribuiç­ões e a inclusão de uma regra, na medida provisória dos portos, que beneficiou a empresa. O ex-ministro da Secretaria de Portos Edinho Araújo foi intimado a explicar por que renovou contrato de concessão do grupo mesmo com os débitos de R$ 1 bilhão.

A PF havia requisitad­o conduções coercitiva­s dos envolvidos —essas medidas, no entanto, estão proibidas desde dezembro por uma liminar do ministro Gilmar Mendes.

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, entendeu que cabia, então, determinar as prisões temporária­s dos envolvidos, para viabilizar a coleta simultânea de depoimento­s, e impedir a destruição de provas. MÔNICA BERGAMO, THAIS BILENKY MARCELO TOLEDO

 ??  ?? O ex-ministro Wagner Rossi (à esq.) chega à PF de SP, para onde também foi levado Antônio Celso Grecco, da Rodrimar
O ex-ministro Wagner Rossi (à esq.) chega à PF de SP, para onde também foi levado Antônio Celso Grecco, da Rodrimar
 ?? Reprodução/TV Globo ?? Coronel Lima é levado para ambulância após ser preso
Reprodução/TV Globo Coronel Lima é levado para ambulância após ser preso

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