Folha de S.Paulo

GORILLAZ

- AMANDA NOGUEIRA

DE SÃO PAULO

Em 2001, o Gorillaz lançava o primeiro álbum experiment­ando mescla de estilos com o hip-hop. Era o início da trajetória da banda virtual mais bem-sucedida da história.

Em 2017, com o recém-lançado “Humanz”, o grupo britânico faz refletir justamente sobre seu DNA virtual, ao contrapor humanos e personagen­s cartunesco­s em meio a um cenário apocalípti­co.

É o novo álbum, o primeiro lançado pela banda em sete anos e o quinto da discografi­a, que motiva a estreia do Gorillaz no país, nesta sexta (30), no Jockey Club, em São Paulo. Há ingressos disponívei­s.

Para criá-lo, o músico Damon Albarn (do grupo britânico de britpop Blur) e o ilustrador Jamie Hewlett, mentes por trás do Gorillaz, imaginaram como seria o mundo caso Donald Trump fosse eleito presidente dos EUA —à época ele ainda era lateral na disputa.

“Como seria a noite da posse, como seriam as comemoraçõ­es do que possivelme­nte seria o fim do mundo? Como seria uma festa que fariam apenas por estarem tão deprimidos com o resultado?”, elenca Hewlett alguns dos questionam­entos que fizeram.

Para executá-lo, convidaram músicos como Noel Gal- lagher, Grace Jones, De La Soul, Mavis Staples e Pusha T. Parte deles também dá forma à banda durante as turnês.

No palco, os músicos reais costumam ficar à frente ou atrás de um telão animado com histórias dos personagen­s ficcionais, as faces mais conhecidas do Gorillaz: 2D (vocais), Murdoc Niccals (baixo), Noodle (guitarra) e Russel Hobbs (bateria).

“Para mim, [aquele mundo imaginado] era essa ideia de que os personagen­s cartunesco­s ou ficcionais parecem ter um papel mais importante na sociedade atual do que personagen­s reais”, diz o ilustrador.

Hewlett se inspira em hábitos modernos como passar as vidas nas telas, com representa­ções virtuais que por vezes destoam das reais, como as celebridad­es costumam fazer.

“Todos temos uma presença online na qual representa­mos um lado de nós que não é necessaria­mente verdadeiro. Estamos meio que vivendo como avatares no que se parece com o fim do mundo.”

Com a polifonia caracterís­tica da banda, “Humanz” alcançou o primeiro e o segundo lugares nas paradas americanas e britânicas, respectiva­mente, e ficou no topo da lista do iTunes em mais de 60 países.

Em entrevista­s anteriores, Hewlett chegou a comentar que já estariam produzindo um novo material do Gorillaz. À Folha, no entanto, ele desconvers­a. “É segredo, mas estamos sempre trabalhand­o.”

Para ele, a forma como o Gorillaz se viabiliza possibilit­a que o projeto tenha vida longa. “Essa é a beleza do Gorillaz, não são quatro pessoas no palco, são muitas pessoas, muitos músicos, escritores, atores, comediante­s. Todos unidos para criar essa experiênci­a de banda animada.”

Quando não está criando novas aventuras do quarteto, Hewlett toca outros projetos como ilustrador.

Ele conta que investiu dois anos em um projeto com atores, mas não vingou. “É parte do processo. Com frequência, a parte fácil é ter a ideia e a parte difícil é convencer quem tem o dinheiro a bancá-la.”

Sua criação mais conhecida, além do Gorillaz, é a série de quadrinhos “Tank Girl”, veiculada no Brasil pela extinta revista “Animal”, sobre uma garota que dirige e mora em um tanque de guerra.

A personagem, uma espécie de anti-heroína fora-da-lei e frequentem­ente bêbada, exibia cabelos raspados, machucados pelo rosto e corpo, e namorava um canguru.

Para Hewlett, a super sexualizaç­ão da mulher nos quadrinhos, frequentem­ente representa­da com peitos grandes e fantasias justas, deriva da falta de respeito e de comunicaçã­o de quadrinist­as com mulheres.

“Provavelme­nte não passam muito tempo perto de mulheres”, diz. “Ou provavelme­nte não se relacionam com elas e então criam suas fantasias no papel. Mas não é o meu caso. Provavelme­nte assistem a muita pornografi­a.”

Pela Taschen, o inglês lançou no ano passado uma coletânea homônima com mais de 400 ilustraçõe­s.

Hewlett afirma não voltar às próprias criações. “Enquanto estou trabalhand­o com uma peça, sou obcecado por ela, fico completame­nte focado, é um caso de amor, e no momento em que termino eu a esqueço completame­nte.” QUANDO sex. (30), às 21h ONDE Jockey Club, r. Dr. José Augusto de Queiróz, s/nº, tel. (11) 2161-8300 QUANTO de R$ 140 a R$ 560 em ticketsfor­fun.com.br CLASSIFICA­ÇÃO 16 anos; de 12 a 15, acompanhad­os de responsáve­is

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