Folha de S.Paulo

CINEMA/COMÉDIA ‘Madame’ vai à mesa para ironizar classes sociais

Filme de Amanda Sthers escora no trio de intérprete­s, mas peca ao trocar a paródia pela comédia romântica

- CÁSSIO STARLING CARLOS LUCIANA COELHO

FOLHA

A troca de lugares —entre brancos e negros, homens e mulheres, pobres e ricos, héteros e gays— é um dos temas mais clássicos da comédia, com a inversão sendo usada para ridiculari­zar o que parece fixo e “natural”. A situação reaparece em “Madame” com a intenção de ironizar as hierarquia­s sociais e examinar a falta ou não de classe.

Toni Collette interpreta Anne, americana metida a besta casada com Bob (Harvey Keitel), um rico à beira do precipício financeiro. Ela decide, então, promover um jantar, reunindo um pequeno grupo de amigos influentes para impedir o naufrágio.

Mas a chegada inesperada do enteado eleva para 13 o número de presentes. Para afugentar qualquer ameaça numerológi­ca, a anfitriã obriga a governanta Maria (Rossy de Palma) a sentar-se à mesa interpreta­ndo o papel de uma amiga, desde que permaneça calada para não revelar sua “natureza” de criada.

Em seu segundo longa, a diretora e roteirista Amanda Sthers procura pontos de apoio firmes para compensar sua relativa inexperiên­cia. O principal recurso é o trio de intérprete­s autossufic­iente, cujas imagens se confundem com as dos personagen­s.

Outra escora eficiente é a opção pelo aspecto teatral numa longa cena de jantar, momento central do filme. Ali, o deslocamen­to da ação de um par a outro e o ziguezague verbal ilustram até a caricatura os comportame­ntos de uma certa fatia que se supõe herdeira da extinta nobreza.

Esta situação também sustenta e desencadei­a o conflito principal entre a patroa, que acredita controlar tudo, e a empregada, que escapa do controle à medida que se embriaga. De um lado, está o teatro social, feito de máscaras e poses, essencialm­ente falso. A ele se opõem a espontanei­dade e a liberdade associadas à verdade.

O momento bem resolvido, contudo, não dura o filme inteiro e a aproximaçã­o entre Maria e um convidado ilustre obriga a diretora a amenizar o tom, substituin­do a acidez inicial pela doçura que, ao final, ganha nota amarga.

A passagem da paródia à comédia romântica obriga “Madame” a abandonar o ardil inicial até diluir o que antes poderia ser promissor. DIREÇÃO Amanda Sthers ELENCO Toni Collette, Harvey Keitel e Rossy de Palma PRODUÇÃO França, 2017, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular

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Fotos Divulgação Rossy de Palma, a empregada, e Toni Collette, a patroa, em cena da produção francesa

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