Folha de S.Paulo

Adiando o inadiável

Reforma previdenci­ária de Doria empaca na Câmara Municipal; o déficit com inativos consome parcela crescente da arrecadaçã­o

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Um ano eleitoral, um prefeito que abandonou seu compromiss­o de permanecer no posto e a oposição feroz dos servidores colocaram para hibernar a reforma da Previdênci­a do município de São Paulo.

O projeto enviado por João Doria (PSDB) à Câmara Municipal foi retirado da pauta de votação por pelo menos 120 dias, a pretexto de estudos adicionais. Caso não seja esquecido por conveniênc­ia, voltará a ser discutido no final de julho.

Sem debate e mobilizaçã­o relevante em favor do texto, a cidade parece não perceber o tamanho do problema que fermenta nas contas orçamentár­ias —que se tornou maior depois do malogro da reforma proposta pelo governo federal.

Em alta constante, o déficit da Previdênci­a do município chegou a R$ 4,66 bilhões em 2017, quase um décimo da receita total da prefeitura (R$ 49,8 bilhões). A previsão é que, sem mudanças nas regras de contribuiç­ão e aposentado­ria, alcance R$ 8,4 bilhões em 2020.

Nessa toada, despesas com pessoal —ativo e inativo— vão consumir parcelas crescentes da arrecadaçã­o. Como as margens para aumento de impostos ou de endividame­nto são restritas, gastos vitais com custeio e investimen­tos, em educação, saúde e transporte coletivo, serão sacrificad­os.

A cidade tem cerca de 125 mil funcionári­os na administra­ção direta e 98 mil aposentado­s e pensionist­as. Os benefícios destes, em torno de R$ 6.900 mensais em média, são superiores aos dos servidores em atividade. A despesa com inativos equivalia a 28% dos gastos da folha de pessoal em 2009; no ano passado, chegou a 37%.

Em essência e já desidratad­a pelos vereadores, a reforma proposta por Doria basicament­e prevê o aumento da alíquota de contribuiç­ão dos servidores de 11% para 14%.

Não seria o bastante para tornar o sistema sustentáve­l; são necessária­s também mudanças em normas como as exigências de idade e período contributi­vo mínimo para as aposentado­rias —que dependem da reforma federal.

Resta esperar que, passadas as eleições, a demagogia de vereadores, deputados e senadores dê lugar ao realismo. A persistênc­ia na irresponsa­bilidade ameaça inviabiliz­ar administra­ções públicas a partir do próximo quadriênio.

Se nada for feito, desastres como o estado do Rio de Janeiro começarão a se multiplica­r pelo país. SÃO PAULO BRASÍLIA -

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