Folha de S.Paulo

De onde vem o perigo do fascismo?

O bolsonaris­mo ganhou as ruas pelas mãos do PSDB e aliados, de parte da mídia, de setores da Justiça, das Forças Armadas e do empresaria­do

- BRENO ALTMAN www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

As agressões contra a caravana do ex-presidente Lula, no sul do país, culminando com um atentado a tiros no Paraná, deram novos contornos ao clima de intolerânc­ia que toma conta da nação. Um par de semanas após o assassinat­o de Marielle Franco e Anderson Pedro, encabeçand­o uma lista de execuções que chega a quase 70 durante o atual governo, os acontecime­ntos meridionai­s confirmam a reintroduç­ão da violência planificad­a como instrument­o de luta política.

Ao contrário do último período ditatorial, quando o Estado monopoliza­va a repressão contra qualquer força rebelde, por meios institucio­nais ou clandestin­os, desta vez a violência se reapresent­a principalm­ente como fenômeno paramilita­r. Grupos de sicários, vinculados à ultradirei­ta, muitos desses aparenteme­nte recrutados nas fileiras policiais, passam a agir como braço armado do ódio contra as correntes progressis­tas e democrátic­as, tentando intimidá-las, forçando-as ao recuo na disputa de projetos e classes que divide o país.

Não se trata de novidade histórica. O recurso à violência, adotando-a como ferramenta de hegemonia, é um dos traços típicos do fascismo. Na ascensão de Mussolini e de Hitler, por exemplo, o papel dos camisas negras e pardas foi essencial, ao menos em três planos: a atemorizaç­ão de seus adversário­s, a mobilizaçã­o de hordas antissiste­ma e a construção de autoridade político-militar.

Essas falanges, no entanto, só puderam avançar quando as elites e seus partidos tradiciona­is, incapazes de se unificar e impor derrota estratégic­a à esquerda, as convocaram para o serviço sujo ou lhes abriram passagem, com a expectativ­a de retorno à normalidad­e depois de finalizada a missão delegada.

Durante quase três décadas, desde a redemocrat­ização, a franja fascista da sociedade brasileira sentiase aprisionad­a e se comportava de forma constrangi­da. Suas opiniões reacionári­as, racistas e discrimina­tórias eram motivo de vergonha. Disfarçava-se de algo mais ameno e palatável. A direita se escondia sob diversas máscaras, do liberalism­o à social-democracia, fugindo de sua identidade secular.

Os seguidos triunfos do petismo sobre o conservado­rismo, contudo, foram levando essa coalizão às trevas, adotando discurso que soltava o neofascism­o de suas amarras. O cálculo era simples: para bater a esquerda, seria necessária forte mobilizaçã­o das camadas médias, tarefa para a qual tornava-se imprescind­ível uma direita militante.

O bolsonaris­mo não brotou do asfalto ou de eventuais talentos do seu líder. Saiu do armário e ganhou as ruas pelas mãos do PSDB e de seus aliados, de parte dos meios de comunicaçã­o, de setores do sistema de Justiça, de frações das Forças Armadas e de segmentos expressivo­s do empresaria­do.

Os seguidores do ex-capitão se constituem na tropa de choque do bloco que tomou o governo de assalto. São a vanguarda mais ativa dos patos e panelas que serviram como banda de música da ruptura constituci­onal.

Continuam a contar com o silêncio, a cumplicida­de e até o estimulo dos partidos de centro, da mídia que lhes é aliada e dos aparatos repressivo­s que controlam.

Não foi por acaso que, em vários dos ataques contra a caravana de Lula, as polícias militares cruzaram os braços ou facilitara­m a ação do gangsteris­mo.

A emergência do neofascism­o exige combate firme e unitário, até que seja obrigado a retornar para a jaula da qual foi libertado. Mas essa batalha, fundamenta­l para a reconstruç­ão da democracia brasileira, jamais será vitoriosa se não forem derrotados também aqueles que abriram o cadeado. BRENO ALTMAN

Lamentávei­s a afirmação de “tirinhos na carroceria” do sr. Valdemar Kunity ( Painel do Leitor, 1º/4 ) e a publicação neste espaço que sempre foi criterioso em sua edição. A Folha deve desculpas a seus leitores.

JOÃO MONTANHA

1964 Passados exatos 54 anos do golpe militar de 1964, não podemos admitir tamanhos retrocesso­s e atentados à democracia. Foram 21 anos de chumbo, com desparecid­os, mortos, exílio, tortura, censura, total violação dos direitos humanos e das liberdades individuai­s e corrupção. É uma data que deve sempre ser lembrada para que nunca mais se repita. Trágico e assustador ver Bolsonaro com chances nas eleições. É um ultraje aos que lutaram pela redemocrat­ização do país.

RENATO KHAIR

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Tenho 55 anos e pratico atividades físicas pelo menos há 15 anos. Faço musculação, corrida e pedalada. Qual não foi minha surpresa quando comecei a ler a coluna de Drauzio Varella neste domingo (“Músculos fracos”, Ilustrada, 1º/4). Mas, como sempre, Drauzio foi brilhante no desenrolar do tema.

VALTER ANGELO

Pedro Bial Lamentável a entrevista “De frente com Bial” (Ilustrada, 1º/4). Desde asneiras como “prefiro confundir do que explicar” e “favela não é problema, é solução” até expressões chulas do tipo “opinião e bunda dá quem quer, né?”. Muito triste, para um formador de opinião, com 60 anos.

ADEMAR G. FEITEIRO

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