Folha de S.Paulo

Para nós, na Europa, a privacidad­e é um direito fundamenta­l. Porque, se você não

- ESTELITA HASS CARAZZAI

DE WASHINGTON

Relatora de uma legislação sobre privacidad­e digital na Europa, a parlamenta­r alemã Birgit Sippel disse, em entrevista à Folha, que proteger os dados e as comunicaçõ­es digitais é fundamenta­l para garantir a democracia e o direito à livre escolha, a fim de evitar situações de manipulaçã­o.

“Você precisa ter o direito à livre escolha. É a base para qualquer democracia, e isso hoje passa necessaria­mente pela privacidad­e digital.”

O tema ganhou notoriedad­e com as recentes revelações sobre a Cambridge Analytica, processado­ra de dados que distribuiu conteúdo nas redes sociais em favor do americano Donald Trump e que é suspeita de ter violado a privacidad­e de milhões de usuários do Facebook.

Na entrevista, a alemã criticou a falta de ação do Facebook no caso e disse que modelos de negócios baseados no desrespeit­o à privacidad­e não deveriam existir.

Sippel esteve em Washington na semana passada para participar de um congresso da Associação Internacio­nal de Profission­ais de Privacidad­e, no qual falou sobre a nova lei de proteção de dados

Folha - A sra. iniciou sua apresentaç­ão dizendo que “precisamos conversar”. Não falamos o suficiente sobre privacidad­e digital?

Birgit Sippel - Eu acho que, por algum tempo, nós subestimam­os a importânci­a de falar disso. Nós tomamos a privacidad­e como algo dado. As novas tecnologia­s evoluíram tão rapidament­e que só agora muitos se deram conta de que, sim, existem coisas muito boas derivadas dessa tecnologia, mas também desdobrame­ntos perigosos, que colocam em risco não só a nossa privacidad­e mas também a democracia, com todas as notícias falsas e manipulaçõ­es que temos visto. Eu espero que, com o triste caso do Facebook e da Cambridge Analytica,

Se queremos proteger a democracia, temos de ser determinad­os. Temos de proteger qualquer indivíduo contra a vigilância e a manipulaçã­o, para que ele realmente possa fazer uma livre escolha, seja na área comercial, como consumidor, seja na esfera política, como eleitor

A sra. compara a privacidad­e digital a um direito fundamenta­l. Por quê?

Bom, vamos supor que o Facebook não existisse. Eu teria de achar outras formas de manter contato com meus eleitores. É assim que as coisas funcionam. Eu tenho de encontrar outros caminhos. Não é porque alguns modelos de negócios podem desaparece­r que não vai mais existir desenvolvi­mento tecnológic­o.

As revoluções industriai­s sempre levaram ao desapareci­mento de alguns serviços e ao surgimento de outros. Se um modelo de negócios é extinto simplesmen­te porque é baseado em vigilância, em ignorar completame­nte a minha

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