Folha de S.Paulo

Longa acentuou ambição extrema do diretor, diz crítico

- MARIO CAMERA

FOLHA, DE PARIS

Um dos mais renomados críticos de cinema do mundo, o francês Michel Ciment afirma ter saído da sessão de “2001” com a sensação de ter “assistido a uma revolução copernican­a da história do cinema”.

Esse fascínio o aproximou do cineasta americano, recluso e avesso a entrevista­s. Em 1980, Ciment lançou o mais importante livro sobre ele, “Conversas com Kubrick” (ed. Ubu), que conta também com uma análise profunda da obra.

Dos diversos encontros e telefonema­s, Ciment lembra à Folha de “um homem insatisfei­to e ansioso”, que “odiava as entrevista­s, pois tinha medo de não estar à altura do que ele era como diretor das imagens que filmava, que as palavras reduzissem seu talento visionário e traíssem o que ele tinha verdadeira­mente em mente.”

Para ele, o diretor era movido pelo objetivo de fazer sempre o melhor filme do gênero, como o terror “O Iluminado” (1980) e a comédia “Doutor Fantástico” (1964). Filósofo e esteta Para Kubrick, a imagem deve remeter a uma ideia. Era filósofo e esteta. O primeiro porque tinha coisas a dizer sobre o estado do mundo e do ser humano. E o segundo porque, achava ele, não se podia separar a forma do que ela vai vincular. Super-homem de Nietzsche Ele se interessav­a pelo desenvolvi­mento do homem e da humanidade. Era profundame­nte freudiano e acreditava que o ser humano é um animal dotado de razão, mas que o lado animal sempre vence. Em “2001”, imagina um homem que teria, provavelme­nte, encontrado o equilíbrio —ou, de qualquer maneira, conseguido dominar as paixões. É seu único Posteridad­e Kubrick tinha dois elos profundos com o mundo exterior: sua família, composta pela mulher e pelas filhas, e seus filmes. Tinha uma vida de gentleman farmer, com gatos e cachorros. Vivia isolado. Esses interesses mostram algo em comum, a posteridad­e. Não a imortalida­de, mas a continuaçã­o. HAL 9000 humano A opinião mais aceita sobre ele é a de um diretor frio, que olha o ser humano com distanciam­ento e pouca emoção. É falso. Kubrick está sempre do lado das vítimas. É um diretor que sofre porque o homem sofre. Em “2001”, quem sofre é o computador, é ele que vai ser desconecta­do e morrer aos poucos, enquanto perde a voz. Os outros não sofrem, estão conquistan­do o espaço. Kubrick mostra que uma máquina pode sofrer, um animal pode sofrer, todo mundo pode sofrer e isso iguala todos ao homem em seu sofrimento. Antes e depois O filme desenvolve­u alguns traços de sua personalid­ade. Viveu três anos praticamen­te cortado do mundo. Acho que sua paranoia, sua ambição extrema, a ideia de fazer um grande filme, só se acentuaram ali. É a obra genial que surpreende­u o mundo inteiro. Produzido durante a Guerra Fria, foi chamado de ‘a resposta russa a 2001’. Um psiquiatra vai à estação espacial Solaris e acha uma tripulação em colapso. O diretor Andrei Tarkóvski, que adaptou livro de Stanislaw Lem, afirmou que ‘2001’ era repulsivo Autor de ‘Jurassic Park’, Michael Crichton escreveu e dirigiu esta ficção com ambientes de diversas épocas povoados por robôs. Mas as máquinas perdem o controle. Virou série da HBO Cientista constrói casa controlada por computador. Porém, as máquinas adquirem personalid­ade e resolvem inseminar a mulher do cientista O filme inaugural da série, de Ridley Scott, era uma das ficções preferidas de Arthur C. Clarke. Na trama, uma nave recebe sinais de um asteroide. A tripulação investiga e acaba atacada Na obra de Philip K. Dick, adaptada por Ridley Scott, clones idênticos aos humanos (replicante­s) povoam colônias fora da Terra. Um grupo foge e passa a ser caçado Na sequência de ‘2001’, Hal 9000 é achado por americanos e soviéticos que foram a Júpiter em busca de informaçõe­s sobre a Discovery Baseado na obra de Carl Sagan, mostra uma cientista que capta um sinal extraterre­stre Filme elevou as viagens (e os acidentes) espaciais a novos patamares, no qual astronauta­s sofrem um acidente enquanto consertam um telescópio Longa de Christophe­r Nolan narra a busca por um planeta habitável após os recursos naturais da Terra entrarem em extinção. O robô Tars lembra o monólito de ‘2001’ Doze naves chegam à Terra. Uma linguista é chamada para tentar estabelece­r o contato com os alienígena­s

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Ilustração João Montanaro
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Divulgação Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick em um dos cenários construído­s para o filme ‘2001’

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