Folha de S.Paulo

Pressões sobre STF crescem antes de julgamento de Lula

Grupos apresentam abaixo-assinados contra e a favor de prisão após 2º grau

- LETICIA CASADO

Movimentos aliados e opositores ao petista promoverão atos na véspera de sessão que discutirá habeas corpus

Na véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, o STF (Supremo Tribunal Federal) tornou-se palco de um duelo de abaixoassi­nados e desencadeo­u o anúncio de manifestaç­ões programada­s para terça (3) e quarta-feira (4).

Nesta segunda (2), procurador­es, promotores e juízes levaram ao tribunal documento assinado por mais de 5.000 colegas, no qual pedem aos ministros para não mudarem o entendimen­to da corte que, em 2016, autorizou a execução da pena após condenação em segunda instância.

As assinatura­s começaram a ser recolhidas durante o feriado de Páscoa.

Por sua vez, advogados criminalis­tas e defensores públicos decidiram fazer movimento semelhante, mas no sentido oposto —contra a prisão em segunda instância— e reuniram 3.600 assinatura­s.

O movimento se dá dois dias antes do julgamento do habeas corpus preventivo pedido pelo ex-presidente, marcado para quarta. A discussão sobre a prisão após segunda instância está no centro do debate do HC: a defesa do petista quer evitar que ele comece a cumprir pena depois da condenação imposta pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

O julgamento do habeas corpus de Lula será sob a vigência do entendimen­to firmado pelo STF em 2016, de que a pena de um réu pode começar a ser executada após essa condenação.

No entanto, alguns ministros têm concedido habeas corpus, contrarian­do a maioria formada em 2016.

Desde essa votação no Supremo, houve mudanças de posição e de integrante­s da corte. Alexandre de Moraes substituiu Teori Zavascki mas, assim como o antecessor, é a favor da execução. Já Gilmar Mendes, que foi a favor da imposição da pena depois da condenação em segunda instância, agora é contra.

A ministra Rosa Weber foi vencida na ocasião. E, desde então, afirmando seguir a jurisprudê­ncia do STF, tem votado a favor da execução, como mostrou a Folha.

Essa inseguranç­a jurídica abriu espaço para o argumento de que, como o tribunal está dividido em relação ao tema, os ministros deveriam fazer novo julgamento. MINISTÉRIO PÚBLICO O manifesto do Ministério Público diz que uma eventual mudança da jurisprudê­ncia “implicará a liberação de inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos violentos”.

Cátia Vergara, promotora de Justiça do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Território­s), disse que os efeitos da mudança não se limitariam à Lava Jato, mas a condenados em diversos crimes.

Para a promotora Rosimeire Cirillo, também do MPDFT, a prisão após segunda instância evita que o condenado disponha de inúmeros recursos “até que a pena prescreva”. “Ou até que a pessoa fique tão idosa que fique doente e saia da prisão”, afirmou.

No documento entregue ao STF, entidades jurídicas contra a prisão após segunda instância pedem que os ministros analisem duas ações que tratam sobre prisão após segunda instância. Os casos são da relatoria de Marco Aurélio e foram liberados para a pauta em dezembro de 2017, mas a presidente Cármen Lúcia decidiu não pautar o tema.

Os advogados destacam que o movimento é impessoal.“Quando defendemos a efetivação do princípio da presunção de inocência, não o fazemos em nome de qualquer pessoa específica, mas em nome de todas e todos e, especialme­nte, em nome da Constituiç­ão”, diz o texto. ATOS PELOS PAÍS

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Ricardo Borges/Folhapress » ATO PRÓ-LULA O petista em ato contra sua prisão ao lado de Chico Buarque, da deputada Manuela D’Ávila (PC do B), da viúva de Marielle Franco, Mônica Benício, do deputado Marcelo Freixo (PSOL) e de Fernando Haddad, no Rio

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