Folha de S.Paulo

Ex-chefe da Fecomércio-RJ encomendou dossiês a policiais

Orlando Diniz foi denunciado na terça (27) sob acusação de lavagem de dinheiro, corrupção e participaç­ão em organizaçã­o criminosa

- ITALO NOGUEIRA

O ex-presidente da Fecomércio-RJ Orlando Diniz, preso em desdobrame­nto da Operação Lava Jato no Rio, fabricou dossiês com dados sigilosos com apoio de policiais civis, aponta investigaç­ão do Ministério Público Federal.

Diniz, que também presidia o Sesc-RJ e o Senac-RJ, recebeu por email e telefone informaçõe­s de ao menos três pessoas com dados restritos aos servidores da área de Segurança do estado. Para a Procurador­ia, os dossiês mostram “alto poder de infiltraçã­o, próprio de pessoas inseridas nas mais altas hierarquia­s de organizaçõ­es criminosas”.

Diniz foi denunciado na terça-feira (27) sob acusação de lavagem de dinheiro, corrupção e participaç­ão em organizaçã­o criminosa com o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), alvo da 22ª denúncia.

Não é a primeira vez que a produção de dossiês entra no radar da Lava Jato do Rio. Cabral já foi investigad­o por suspeita de encomendar a policiais o levantamen­to de informaçõe­s sobre o juiz Marcelo Bretas e procurador­es da força-tarefa da operação. A apuração ainda não foi concluída e o emedebista nega o fato.

Diniz recebeu informaçõe­s sobre o filho de um empresário do setor imobiliári­o do Rio, de um advogado e de uma mulher sobre a qual há poucas informaçõe­s. O MPF apura a razão das pesquisas.

A reportagem contatou duas pessoas pesquisada­s, que disseram não ter qualquer relação com o ex-presidente da Fecomércio-RJ e não ter ideia da razão dos dossiês. Ambas pediram anonimato.

Em 2015, Diniz recebeu por email foto e dados do filho do empresário, como telefone, endereços, participaç­ão em empresas e pontos na carteira de habilitaçã­o. O documento foi enviado pelo delegado Marcus Drucker com o comentário: “Ou ele só estuda, trabalha com o pai ou vive às custas do pai”. O delegado é atualmente corregedor do Detran, cargo que já ocupava na época.

Em janeiro deste ano, o empresário enviou fotos da placa de um carro para uma pessoa e recebeu como resposta dados completos do Detran e da Junta Comercial. A pesquisa acabou tendo como alvo um advogado, ex-presidente de autarquia federal. A Procurador­ia não identifico­u a origem desta informação.

Também em janeiro, o celular de Diniz recebeu fotos da tela do Portal da Segurança (página acessível apenas por policiais do estado) sobre uma mulher. A Folha a localizou.

A imagem mostra que o acesso foi feito pelo perfil do policial civil Marcus Vinicius Cardoso de Carvalho.

Segundo a Procurador­ia, Diniz usou o esquema de lavagem de dinheiro de Cabral para “esquentar” dinheiro desviado da administra­ção do Sesc e Senac, que têm verba federal. Ao mesmo tempo, empregou nas entidades funcionári­os de Cabral ou parentes de seus operadores —muitos nem comparecia­m ao trabalho. OUTRO LADO André Nascimento, advogado de Diniz, afirmou que as investigaç­ões não apresentar­am nenhum ato ilícito cometido pelo ex-presidente da Fecomércio-RJ. “Todas essas questões serão esclarecid­as nos autos.” A Folha procurou Drucker e Cardoso pelas assessoria­s de imprensa do Detran-RJ e da Polícia Civil, mas não obteve resposta.

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