PAUSA PARA O TREMOR
Reflexos de um terremoto ocorrido na Bolívia surpreenderam moradores de diferentes cidades do país; em SP, prédios foram esvaziados às pressas
Reflexos de um terremoto na Bolívia foram sentidos em diferentes pontos do país no final da manhã desta segunda-feira (2). Não houve feridos nem danos estruturais. Os relatos de moradores vieram de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal.
Em São Paulo, por exemplo, prédios comerciais na avenida Paulista foram evacuados assim que os tremores foram sentidos nos andares mais altos.
A contadora Elisângela Corrêa, 39, conta que trabalhava no 10º andar quando começou a sentir tontura. Achou que fosse algum sintoma da gravidez, mas percebeu que havia algo errado quando viu a persiana bater na janela. “Foi o tempo de pegar o celular e descer as escadas. Foi um alívio quando saímos no térreo”, disse.
O contador Franklin Silveira, 35, estava no mesmo andar e também desceu as escadas, mas só após pegar o celular. “Pelo menos se ficasse preso, poderia dizer ‘eu te amo’ para a família.”
Outra colega de trabalho, Jennifer Dias, 25, também traçou uma estratégia para sobreviver a um possível colapso do prédio. “Comecei a olhar para os lados e encontrar um lugar para pelo menos respirar até alguém vir resgatar.”
Também na Paulista, no prédio da Petrobras e em um edifício vizinho, o alarme de incêndio foi acionado, e bombeiros passaram pelos andares para avisar que os prédios estavam sendo evacuados.
“Fecharam o elevador e nos mandaram descer as escadas. Só peguei a carteira e o celular, que é quase um órgão vital, e desci”, lembra a advogada Juliana Lins, 33, que estava no 15º andar.
O engenheiro ambiental Fernando Fae, 36, conta que estava em uma reunião em uma sala no prédio da Petrobras quando sentiu o chão se mover. “Achei que estava passando mal, mas depois vi a cortina se mexer e logo o alarme soou”, diz.
Após o susto, funcionários dos escritórios na Paulista acabaram tendo uma pausa no trabalho e muitos anteciparam o horário de almoço.
De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, os tremores sentidos no Brasil foram reflexo de um terremoto de 6,8 graus na escala Richter registrado na Bolívia, a 557,2 km de profundidade.
“Esses terremotos, quando têm foco profundo, as ondas sísmicas viajam de lá e saem aqui no Brasil gerando essas perturbações. As pessoas que estão nos edifícios mais altos percebem com maior intensidade”, afirmou o professor Lucas Vieira, do observatório.
Vieira destacou que os efeitos no Brasil são “normais”. “Essa não foi a primeira vez e não será a última. Várias vezes no passado isso aconteceu e acontecerá outras vezes.”
Os terremotos que acontecem na região da Bolívia têm sempre a mesma explicação, de acordo com Vieira.
“Todos resultam do contato da placa de Nazca com a placa Sul-Americana. Eventualmente, uma desliza sobre a outra e esse deslizar gera terremoto. Isso é terremoto em zona de contato de placa, que podem ser grandes e profundos”, explica o professor. ‘TONTA’ Em Brasília, áreas de escritórios e comércio foram evacuados após o tremor. Na sede da Infraero, no Setor Comercial Sul, funcionários eram orientados a não entrar no prédio por volta das 12h.
“Eu disse para uma mulher: ‘Tô tonta’. E ela respondeu: ‘Tá tonta não, é o prédio que tá caindo’. E a gente correu”, disse a funcionária terceirizada de limpeza Fátima, que estava no segundo andar do prédio no momento do tremor.
“Parecia que eu estava em um barco”, afirmou o corretor Alessandro Aragão, 45.
O abalo também foi sentido em cidades de Minas Gerais, como em Belo Horizonte, Araxá e Patos de Minas.
No Paraná, moradores de Umuarama e Maringá, no noroeste do estado, e em Cascavel, na região oeste, também sentiram o tremor.
Em Santa Catarina, o sismo foi sentido em Palhoça e Itajaí, de acordo com balanço da Defesa Civil do estado.
Tremores de terra perceptivos não são incomuns no Brasil. Em setembro, um tremor de magnitude 3,5 na escala Richter ocorreu na cidade de Itaperuçu, na região metropolitana de Curitiba, por volta da meia-noite, e foi sentido em um raio de 30 km.